terça-feira, 6 de setembro de 2016

O Livreiro de Santiago

A ignorância é uma coisa terrível…

No passado mês de Junho fomos a Lisboa para a festa de anos de um amigo. Como a festa estava marcada para o fim da tarde, resolvemos ir à Biblioteca Nacional ver umas exposições que estavam a acontecer por lá, nomeadamente uma sobre o centenário da morte do poeta Mário de Sá-Carneiro.

Para além de uma exposição de desenhos inspirados no Livro do Desassossego, absolutamente desinteressante (ou então não possuo os conhecimentos visuais necessários para entender aquele traço) deparámo-nos com a história da vida de um português, Carlos George Nascimento, (1885-1966), natural da Ilha do Corvo que, em 1905, partiu para o Chile para ganhar a vida na caça à baleia. Quis o destino – ou sei lá quem – que conseguisse ficar com a livraria de um tio na cidade de Santiago do Chile, acabando por ser o primeiro editor das obras de Pablo Neruda.

Tudo isto explicado em cartazes e ilustrado com fotografias antigas. Ficámos muitos bem impressionados com a qualidade da informação e por termos tomado conhecimento de mais um português simples que, lançado na aventura do mundo, conseguiu ter uma projeção de sucesso.













(Numa viagem ao Corvo em 1948)
(A Livraria Nascimento nos anos 80)






Ontem, por casualidade, assistimos à apresentação de um filme, chamado «O Livreiro de Santiago» que está a passar na RTP2 em episódios e que é, nada mais, nada menos do que a encenação da vida de Carlos George Nascimento, o corvino que foi à aventura para o Chile no início do século passado.

A sua história é contada com detalhe no filme realizado por José Medeiros, músico e realizador açoriano. Natural de São Miguel, Medeiros é um dos protagonistas desta "narrativa ficcional baseada na vida e na obra do editor corvino": faz de Nascimento. Tal como o seu filho, David Medeiros, que veste a pele do livreiro enquanto jovem. A atriz Maria do Céu Guerra e os músicos Filipa Pais, Carlos Guerreiro e Jorge Palma também integram o elenco do filme.




19 comentários:

  1. Um post excepcionalmente interessante e didáctico, lindamente ilustrado com imagens e documentos que nos dão a conhecer a vida desse ilustre português, no Chile, que poderia ter ficado para sempre entregue à pesca da baleia, mas por um golpe do destino ficou ligado, para sempre, ao mundo das Letras, etc, etc,…

    A minha surpresa e a razão mais forte, que me leva a comentar, é a estranheza por te ver iniciar esta maravilhosa publicação, com a frase:
    “ A ignorância é uma coisa terrível…”

    Tenho a certeza que alguma coisa me está a escapar, Graça, mas…o quê?
    Sim, porque ignorância tua não é, de todo, e de quem não conhece esta história, também não, já que ninguém tem obrigação de saber tudo. Então, Graça?
    Desculpa ser curiosa, mas a razão não é por cusquice e sim, por sede de conhecimento! :)

    Beijinhos.

    PS- Com esta conversa toda, esqueci-me de aceder aos link's. Vai ter de ficar para amanhã. Hoje o meu dia foi muito longo e duro.

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    1. Obrigada, minha querida, pelas tuas palavras doces...

      Espero, entretanto, que os teus dias se tornem mais leves e risonhos.

      Beijinho.

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  2. Muito interessante. Desconhecia totalmente.
    Abraço

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  3. É preciso vir alguém de "fora" para conhecermos o que se passa cá dentro :)))
    Obrigada Graça, beijinhos

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  4. Com a pedagogia do sempre querer saber mais e mais, aprendo muito em seu blog, Graça! Obrigada!
    Abraço.

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  5. Mais uma vez estou a aprender.
    Não conhecia.
    Beijinhos

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  6. A falta de conhecimento mais erudito não é ignorância que macule.
    Trabalhei alguns anos no Hospital de Santa Marta. Carlos George era um nome a que me habituara, havendo até um anfiteatro com o nome Carlos George no Hospital de Santa Marta.
    Não é qualquer leitor português que há-de ler o poeta chileno - em chileno, ... numa edição chilena. E também, a falta de conhecimento da geografia é fácil de consertar. Mas, uma ficção que, para lançar - mesmo inocentemente (porque sem o saber) -, por exemplo, uma fraude que se esconde, caísse na mais inimaginável falsificaçao da História, não seria ficção mas crime.
    Uma coisa é o trabalho onírico-poético de José Medeiros e os seus actores na sua excepcional direcção - outra coisa... outra coisa é a razão para a ficção.
    "Trabalhei alguns anos no Hospital de Santa Marta. Carlos George era um nome a que me habituara, havendo até um anfiteatro com o nome Carlos George no Hospital de Santa Marta."
    Sinto-me - sou - perseguida. Invadem-me as memórias. O que estou a perguntar? Qual a razão e a génese para a ficção se, confesso a minha ignorância que deu lugar ao que há-de ser lido como toda esta perplexidade, Carlos George Nascimento for mera personagem literária?
    Outra coisa... outra coisa é a razão para a ficção.
    Reclamo - primeiro - um profundo entendimento.
    Maria João - anónimo deve-se não a um problema filosófico mas a um problema técnico.

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    1. Mas este Carlos George, lá dos Hospitais, não tem nada a ver com o do post!

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    2. Obrigada pelo esclarecimento. É que não estava a entender a relação.

      Obrigada pela visita

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  7. Não podemos (nem devemos...) saber tudo, Graça.

    Lá perdíamos algumas belas surpresas como esta. :)

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  8. «Vivendo e aprendendo»...
    Gostei sobremaneira de conhecer a história deste corvino.
    A história da diáspora do povo oriundo dos Açores esta repleta de surpresas.
    Encontramo-los como primeiros povoadores de vários estados do Brasil.
    Após cada grande sismo, seguia-se sempre a uma grande debandada.
    Muito bem narrado e ilustrado.
    ~~~~~ Beijinhos, Graça ~~~~~

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    1. Corrijo - '«... seguia-se sempre uma grande debandada ...'

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  9. Adoro aprender.... como toda a gente!
    Um post muito interessante, Gracinha!!
    : )

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  10. Não conhecia esta história de sucesso da diáspora portuguesa. Entre outras coisas, é curioso ficar a saber que foi o primeiro editor das obras de Pablo Neruda. "Confesso que Vivi"... Eu queria dizer: Confesso que gostei muito do seu post,Graça!

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  11. Mais um notável caso de grande sucesso de portugueses espalhados por esse mundo fora, e dos quais desconhecemos a maioria, muito provavelmente, o que é normal ! Serão certamente muitos mais os casos desconhecidos para nós, do que aqueles de que acabamos (às vezes por acaso) de tomar conhecimento !
    Este, pelos vistos teve já honras de divulgação pública através de filme televisivo !
    Genericamente, os portugueses sempre tiveram uma extraordinária capacidade de se notabilizarem lá fora ! Talvez genética, talvez a nossa história, certamente a enorme capacidade de trabalho,...
    São assim os portugueses e disso nos temos que orgulhar !

    Um excelente post, Gracinha ! ... e fiquei curioso com "O Livreiro de Santiago" ! :)

    Beijinhos, querida amiga ! :)

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  12. Muito interessante! Gostei, não conhecia e adorei as imagens.

    Beijinho Graça.

    P. S. penso que a tua menina ainda não regressou, senão terias dito.

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    1. Pois não, Flor! Já não tenho esperanças. Deve ter morrido, coitadinha. Parece que a vejo pela casa, a dormir nos seus sítios preferidos...

      Beijinhos gratos.

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  13. Que bom que gostaram todos! Obrigada. Eu também gostei muito de tomar conhecimento deste açoriano de fibra!

    Beijinhos para todos.

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