Acordei um dia destes a com esta
toada na cabeça. Sou assim com a música. Tenho dias que me levanto com uma melodia
na lembrança e ando o dia todo a trauteá-la. E agora, que estou a ficar um
bocado «fora de prazo» (que é como quem diz, velha…) assomam-se-me à mente
canções muito antigas daquelas que aprendi a cantarolar com o meu pai, minhoto
bem alegre e conhecedor de boa música que andava sempre a assobiar – hábitos dos
anos 40/50…
Antes de haver televisão (os
primeiros ensaios de televisão em Portugal aconteceram em 1957 e nós só tivemos
um aparelho em casa lá para 59/60 quando já estávamos em Sintra) quando ainda
vivia em Algés com a minha avó, os serões eram curtos e enfadonhos: ouvíamos
rádio, os meus avós liam o jornal e eu via revistas ou brincava com bonecas de
papel de vestir ou com a minha colecção de pratas dos chocolates que alisava e
coloria na braseira. Lembro-me de ouvir o repetitivo tique-taque do relógio de
corda até serem horas de ir dormir.
(daqui) |
(daqui) |
No verão porém, as noites eram
bem diferentes: depois do jantar e da cozinha arrumada, a minha avó e eu
descíamos a Avenida até à Alameda onde se situavam as esplanadas. No Pavilhão Verde havia uma orquestra que tocava música de baile e um cantor que cantava com uma
voz melodiosa e quente Padam, Padam,
Padam... Outras vezes cantava:
Dominó, Dominó!
Em amor assim te têm chamado
Dominó, Dominó!
Porque sempre te tens ocultado…
E as senhoras, de saias rodadas
até meio da perna, dançavam de cara encostada aos seus pares e nós assistíamos
de longe sentadas num banco de jardim ao divertimento de uma classe a que não
pertencíamos – que nesse tempo a separação entre as classes era muito acentuada.
De regresso, subíamos a avenida e se o Milho Rei – uma pequena pastelaria que cheirava a figos secos –
ainda estivesse de porta aberta, comíamos um merengue e seguíamos até casa.
Algés, assim?
ResponderEliminarEstas não perco!
Sou "novo"
Mas ainda me lembro!
O Rogerito ainda
Eliminaré novito...
Gracinhamiga
ResponderEliminarUma vez mais és uma malandreca de alto coturno. Fazes-me lembrar exactamente o mesmo (mas sem as bonecas...) A partir dos 12 anos passei a morar no bairro do Restelo e a nada no Algés e Dafundo. A vida é assim: estivemos tão perto e não nos conhecemos...
Mas vamos recuperar esse tempo de outros tempos na reunião/almoço da "responsabilidade" do Ruiamigo, cuja fonte não é a das sete bicas... mas das cento e sete; contei por alto as/os comentadoras/es e não sei se falhei... A Raquel irá comigo, obviamente. Até lá
Qjs bem temperados e apimentados
Que bom Henriquamigo que vou ter oportunidade do o conhecer e à Raquelamiga!! Estou mesmo contente. Não calculava que estivessem já de regresso à Pátria Lusa...
EliminarBeijinhos e abraços.
ADENDA
ResponderEliminarADORO a Piaf!
+ qjs goeses
Também eu!
EliminarQue bem sabe relatar "o tempo do nosso tempo "...era assim mesmo.
ResponderEliminarNa década de 50 , não conhecia essa zona , mas por cá , nas verbenas do jardim era a mesma coisa.
M.A.A.
Outros tempos, M.A.A.!
EliminarOh ! .. Graça ! ... Que bem sabe recordar ! ... aparte a emoção que nos pode fazer mal ao coração, mas bem à alma ! ... Olha os sorvetes de barquinho a 2 tostões e de copinho a 5 tostões ! rsrsrs
ResponderEliminarSabes que assisti ao vivo e em directo à 1ª emissão experimental da RTP na Feira Popular, em Lisboa ? ...
Tal como diz o HenriqueAmigo, estamos a precisar ... daquele abraço !!!
.
Vai ser muito bom conhecermo-nos! Vai ser mesmo muito giro!
EliminarQue bom ter lembranças agradáveis para recordar.
ResponderEliminarUm abraço e bom Domingo
Que bom ter amigos que nos leiam!!
EliminarBeijinhos
Amiga Graça, sabes que adoro Edith Piaf , a música francesa também estava no auge na minha juventude.
ResponderEliminarVivi em Belém nos anos 70 e a minha melhor amiga morava em Algés, portanto conheço bem essa alameda.
Ultimamente também ando nostálgica, deve ser por se aproximar mais um aniversário :)
um beijinho
Fê
Pois é, amiga Fê! Estamos quase a fazer mais um ano! Que bom! Quantos mais, melhor!
EliminarBeijinhos
Tenho boas memórias de minha infância e os serões não eram nada enfadonhos. Meus pais iam variando entre os jogos da Glória, dominó, e uns outros da "Majora", as bonecas de papel, as pratas dos chocolates, e as histórias, tantas...
ResponderEliminarGuardamos mais as boas lembranças do que as menos boas...
EliminarÉ bom recordar, Graça.
ResponderEliminarGosto muito de ouvir Piaf.
Também eu! Gosto muito da música francesa dos bons velhos tempos.
EliminarInteressante o seu texto. Só não concordo com a frase: «fora de prazo» , Que é isso?!...
ResponderEliminarEheheheheheh.... é a boca a fugir para a verdade....
EliminarUm prazer estes relatos. Têm cheiros, sabores, tonalidades...
ResponderEliminarUm beijo
Há que dar vida ao texto... e à memória. Obrigada, Lídia.
EliminarJá percebi que sou um pouco mais novo que tu, mas lembro-me que tive televisão em 1960 e pouco. Já não posso precisar quando. E lembro-me também das idas a Algés para o lanche em família !
ResponderEliminarNa Tá-Mar?
EliminarQue engraçado, gostei da Piaf fez-me lembrar o meu pai que gostava muito dela, eu também gosto mas lembro-me mais da Mireile Mathieu ( desculpa. mas já não sei como se escreve ...). Não me lembro de Algés assim mas ainda me lembro da Praça de Touros. Adoro estas recordações....também queria muito ir a Leiria mas se calhar tenho trabalho, só saberei na primeira semana de Abril...
ResponderEliminarxx