quarta-feira, 5 de março de 2014

A nossa vil tristeza

(Camões por Júlio Pomar)

Mais uma das certeiras crónicas de Baptista-Bastos! Docemente violenta, suavemente crua, assertivamente crítica e sempre, sempre extraordinariamente culta. De quem sabe do que fala, de quem vivamente conhece a nossa história, a nossa cultura, a nossa literatura. Nos antípodas «desta súcia trepada ao poder»… Referências a Camões, Jorge de Sena, Carlos de Oliveira, Alexandre Herculano e conversas com Alice Vieira para lamentar o estado a que este triste povo chegou mercê da «estratégia de embuste» levada a cabo pela dita «súcia» sem decência e sem vergonha com a cobertura de um presidente que no estrangeiro «diz coisas absurdas e abstrusas» mostrando a sua «tenaz mediocridade» é de mestre!

Não é novidade para ninguém que não perco uma crónica de BB (e até já comprei o seu último livro “Tempo de Combate”) mas aquele final da crónica de hoje «"Isto dá vontade de morrer", para lembrar o grito d"alma de Herculano, em hora de desânimo como a de agora» bateu forte.

É que minutos antes, ao ouvir as notícias da hora do almoço, eu tinha tido o seguinte desabafo: «como compreendo a atitude de Antero de Quental, num país destes!»

Nota: o título da crónica de hoje é decalcada num verso de «Os Lusíadas», desabafo do poeta que, por acaso – ou não por acaso – continua muito, muito actual.

 «O favor com que mais se acende o engenho
Não no dá a pátria, não, que está metida
No gosto da cobiça e na rudeza
D'uma austera, apagada e vil tristeza»


(Lusíadas, X,145)

15 comentários:

  1. Leio BB com a mesma emoção como me leio a mim mesmo.

    Será porque ambos usávamos laço?

    Acho que é mais por aquilo que li aqui!

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  2. Atitudes de cidadãos que se entregaram (e se entregam) por justiça, hoje pouco cultuada... Bela reflexão, Graça.
    Abraço.

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  3. Um sentimento que se vai espalhando.
    Avançando em vez de regredir.
    Mesmo quem está fora apercebe-se dessa realidade.

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  4. ~
    - Lamento muito Graça, mas não vejo nada de interessante e erudito nesta crónica do BB.

    ~ Quatro, das citações que ele, cuidadosamente coleciona, para dar um cariz culto à sua escrita, estratégia que caracteriza o seu estilo; um conteúdo tão cansativo de tão gasto; uma linguagem ocasionalmente pouco precisa e um humor sem espírito, conseguido pela gíria, que não combina, de todo, com os autores citados.

    ~ Fui breve e menos acutilante do que gostaria, porque respeito os seus oitenta anos e a sua cultura de autodidata. ~

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  5. São opiniões, Majo. Que aceito mas com que não concordo. A diversidade é que matiza a vida e cria a(s) cultura(s).

    Beijinho.

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  6. ESTIMADA AMIGA GRAÇA SAMPAIO,
    GOSTEI DO LI.
    EM MACAU O JORNAL TRIBUNA DE MACAU PUBLICA OS TEXTO DESSE GRANDE SENHOR QUE É BAPTISTA BASTOS, E QUANDO LÁ ESTOU SENDO LEU E ADORO A SUA ESCRITA.
    PORTUGAL JÁ VEM MAL DESDE LONGA DATA, MAS PIOR FICOU DEPOIS DO 25 DE ABRIL, COM ESTA CORJA TODA A GAMAR.
    ABRAÇO AMIGO

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  7. Tenho muito gosto em ler BB. Há muito que leio as suas crónicas,porque têm estilo, elegância, cultura e são certeiras. Há quem não goste do "figurão" tal como de Saramago, por razões muito concretas: ter uma verruga, ser careca ou nariz com pêlo. Coisas que não me incomoda nada - da diversidade resulta a riqueza e beleza. A mim interessa-me aquilo que produzem, o que dão aos outros.
    Afinal, o nosso maior, Camões era zarolho e vagabundo, Pessoa, um génio gigante alcoólico que se andasse hoje por aí muita gentinha mudava de passeio para não se cruzar com ele.
    Como no face: gosto!

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  8. Esqueci-me de referir que "a nossa vil tristeza" parece fado.
    Desconfio que sei qual é o problema. Um dia destes hei-de pôr a coisa a limpo no meu caderno.

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  9. ~
    ~ Quem andou aqui a comentar o aspecto, as características fisicas, ou condições pecuniárias de BB?!

    ~ BB tem algumas crónicas interessantes, mas esta não prima, nem pela originalidade no tema, nem pelo conteúdo, nem no estilo.

    ~ Agostinho, há quem produza pouco e há quem muito discurse e pouco ou nada expresse.

    ~ Esta visão pouco original do apocalípse português que culmina com um trágico apelo à morte, é, sim, um sentimento fadista.

    ~ Há quem aprecie cantar a fatalidade e prefira respirar o lado dramático, fúnebre e tétrico da vida.

    ~ E há os que tenazmente tentam não roubar a esperança aos que não possuem mais nada do que ela. ~

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  10. ~
    ~ Gostaria de acrescentar que, à semelhança do que se passa com a esrita de BB, aprecio algumas obras de Saramago e outras não.

    ~ Não classifico obras pela assinatura. Mesmo um Nobel, tem trabalhos menos conseguidos e desinteressantes.~

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  11. Este comentário foi removido pelo autor.

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  12. Normalmente não perco as crónicas do BB que muito aprecio mas esta falhou-me!

    Abraço

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  13. Hoje também acho a tristeza um vil sentimento...nem sei bem porquê...ou será que sei?

    Beijinho

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  14. ~
    ~ Concordo com a Maria do Sol.

    ~ Só que o título da crónica, está conectado com o conteúdo do poema de Camões.
    ~Um autor culto e elegante, ou citaria o autor ou, pelo menos, colocaria aspas, na expressão alheia que assim, deveria ficar.
    ~ A nossa "vil tristeza". ~

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  15. Nunca perco uma crónica do BB, mesmo quando ando por longe.

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