Vai um furdúncio por aí acerca da liberdade de escolha das escolas e da liberdade nas escolas que é de mais! Até o dr. Guinote que – como qualquer um de nós – pouco mais vê para além do seu umbigo, escreveu, sobre o assunto, um opúsculo daqueles que a fundação do regime, tão bem dirigida pelo outrora socialista dr. Barreto (dá vontade de fazer o trocadilho com «barrete», mas isso é outra história) costuma lançar e que se vendem, a preço reduzido, no pingo doce e assim.
Ora o meu umbigo não é, nem de
longe, nem de perto, grande e famoso como o do dr. Guinote, mas sobre esta
temática também me concedo a liberdade de expressar as minhas opiniões desinteressadas
e gratuitas, de conhecedora todavia.
Sabemos que a atual discussão
sobre a liberdade nas escolas e a liberdade de escolha das escolas é uma
falácia. Mais uma das muitas que este ministro (C)rato – já para não falar no “governo”
em geral – tem lançado para o ar. Pretende ele, com esta questão, iludir as
pessoas em geral. Por um lado, os pais – nem todos, haja deus! – que continuam
apegados àquela ideia antiga e absurda de que os colégios preparam melhor os
alunos do que a escola oficial, ocultando-lhes o reverso da medalha (vem-me
sempre à ideia daquele Colégio daqui da zona, de ideário católico que recusou
um aluno em idade de escolaridade obrigatória só por ser cego…) quando o que o
dr. (C)rato, neoliberal (des)assumido, deseja mesmo é promover o ensino privado
em desfavor do público para descartar responsabilidades e despesas. Por outro
lado, pretende ludibriar os directores e os professores estabelecendo a maior confusão
entre liberdade e autonomia quando, sabemos muito bem, as escolas não têm – ou melhor,
têm cada vez menos uma coisa e outra. Autonomia – já aqui disse – ninguém a
imaginou e decretou tão bem como o ministro Roberto Carneiro (Dec-Lei 43/89).
Quanto ao regime de administração e autonomia da ministra Maria de Lurdes
Rodrigues (Dec-Lei 75/2008) saiu cheio de ingénuos enganos, pensando a equipa
ministerial que o país estava democraticamente preparado para ter de volta os “diretores”
e para ter um Conselho Geral com a comunidade escolar e educativa a usar os poderes
próprios de uma democracia representativa – conceito e realidade que nós,
portugueses, ainda estamos longe de interiorizar. Daí que tenha sido
completamente subvertido pela classe dos professores em atitude revanchista e, mais
ainda, pelos sucessores do anterior governo.
Depois de esquartejar e esfarrapar
tudo o que se foi fazendo pela Escola desde os anos 80, o ministro (C)rato vem
agora muito sorrateiro – tão sorrateiramente como entrou no ministério e nos
corações dos (tontos dos) professores – com aquelas falinhas mansas e a barba
de três dias à Clooney – dizer que vai dar mais autonomia aos directores com a
qual eles até concordaram. Soube-se, entretanto, pelos jornais que os diretores
não tinham sido chamados a discutir essa propalada autonomia…
A autonomia com que o ministro acena
às escolas é criar novas disciplinas, poder definir cargas horárias diferentes
para as disciplinas – desmantelar todo o edifício curricular que levou anos e
resultados (bons) a construir – e, dizem eles, a possibilidade de “escolher os
professores” – o logro (enorme!) dos contratos de autonomia…
A liberdade para e nas escolas,
meus amigos, seria – e eu sei do que falo! – libertarem os professores de
tantas grelhas, tantos gráficos, tantas metas, tantos objetivos, tantos planos
de melhoria e toda essa estúpida e americana panóplia de burocracias ocas com
que a inspecção-geral abafa as escolas para que lhes seja dada a avaliação (dita)
externa de Muito Bom que lhes dará acesso ao dito contrato de autonomia que
mais não é que mais uma palete de papeis com palavras vazias, frases de
construção arrevesada e gráficos feitos em programas de computador muito
prafrentex…
E o ato de ensino-aprendizagem
fica onde?!
Um amigo meu, professor, dizia, quando o Crato foi nomeado, que ele seria a verdadeira cara da mudança.
ResponderEliminarO que mudou foi a opinião desse meu amigo.
Beijinhos e votos de bfds!
~
ResponderEliminar~ Concordo integralmente contigo, Graça.
~ Hoje os professores são mais burocratas do que agentes de ensino.
~ Gastam tempo e energia em tarefas para as quais, a maioria, não tem vocação.
~ O especialista em Estatística e Matemática pura, está a anos luz da realidade do ensino escolar.
~ Quanto tempo será necessário para que se entenda que um Ministro da Educação tem de ter formação pedagógica e uma experiência letiva mais vasta!
ResponderEliminarGraça, escreveste muito bem!
Sou mais redutora - tudo está mal no que diz respeito à Educação. Começa nos gabinetes e acaba no 'terreiro' escolar.
Beijinho
O tempo que se perde (como perdi!) em relatórios, dados estatísticos, toda uma burocracia (ou burrocracia)educacional, se investido em ensino-aprendizagem, o resultado, no mínimo, da alfabetização, seria bem outro! Reuniões de horas, cursos inconclusivos, para lucro de uns em detrimento de muitos! E, se chama "escola"!!
ResponderEliminarAbraço.
A Graça Sampaio referiu, bem, a pedra de toque para que as apostas do ministro não passem de falácias: o poder da democracia representativa em Portugal.
ResponderEliminarAs paletes de relatórios, questionários e gráficos, que são sinónimo da "modernidade" importada, não são ou são mal tratados.
Quando são necessários dados para suporte de decisões e para fornecimento a entidades, mesmo às estrangeiras faz-se um alquimia para que missa seja bonita: estimativas.
A liberdade de escolha no ensino ou no SNS deve ser igual.
Amiga estou de volta depois de um período em que a saúde decidiu viajar sem mim e me deixou de rastos. Ainda longe dos 100% mas graças a Deus e à última equipa médica que me atendeu nas urgências bem melhor. Li o seu artigo mas sinceramente não sei comentar. Sei que a educação está mal em Portugal, ( e o que é que está bom neste país), mas não estou suficientemente elucidada para emitir uma opinião válida.
ResponderEliminarUm abraço e bom fim de semana
ResponderEliminarSó mesmo quem conhece as escolas, por dentro pode argumentar deste modo certinho e a direito.
Um beijo