domingo, 16 de março de 2014

O escritor Manuel Ferreira

A direcção do Museu Escolar dos Marrazes (Leiria) levou hoje a cabo uma pequena (grande) homenagem ao escritor Manuel Ferreira, nascido em 1917 aqui na Gândara dos Olivais, Leiria, quase desconhecido de grande parte de nós.

Para isso convidou o Professor Doutor Pires Laranjeira, da Faculdade de Letras de Coimbra, especialista e professor responsável há vários anos pelas cadeiras de Literaturas Africanas de Língua Portuguesa e de Culturas Africanas. Esteve cá – e isso é que foi o mais importante – como aluno e amigo de longa data do homenageado. De notar aqui o entusiasmo (e a gratidão) com que falou, durante cerca de duas horas da figura enorme (e enormemente desconhecida porque esquecida) da cultura portuguesa e das culturas africanas de língua portuguesa.

Ouvi falar em Manuel Ferreira quando, nos anos 70, vim viver para Leiria, não por mérito do putativo meio cultural da cidade, que era inexistente, mas tão-somente porque a família do meu marido, leiriense nato, conhecia a família do escritor. Comprei, na saudosa Livraria Sismeiro uns livrinhos infantis para as minhas filhas e para os meus alunos e por aí me fiquei. Sabia vagamente que tinha andado pelas colónias e que esse saber teria influenciado a escrita das suas obras – desconhecidas para mim. Não me lembro de alguma vez a cidade ter feito o mínimo esforço para reconhecer e dar a conhecer a vida e obra deste seu ilustre filho (como de outros, enfim!)

Hoje fiquei a conhecer o valor intelectual e humano deste homem que, filho de famílias simples, pode apenas concluir o Curso Comercial da Escola Técnica que não lhe possibilitava a entrada na Faculdade de Letras como era seu desejo. Por isso seguiu a carreira militar que lhe permitiu viver nas antigas colónias e aí, mercê da sua abertura humana e intelectual, conseguiu estudar mais e mais, criar e dirigir serviços e inteirar-se, de forma única e com grande profundidade, dos escritores e das culturas africanas. E escreveu, escreveu, escreveu! Contos sobre a realidade da sua terra e da sua experiência de vida, contos sobre as realidades africanas, romances na linha neo-realista, histórias para crianças e, de longe, mais importante, fundou e colaborou em revistas sobre a vida e a cultura das colónias por onde foi andando e sobre essa temática escreveu e publicou variadíssimos estudos, ensaios, antologias de poesia africana …

Acabou por se licenciar em Ciências Sociais e Políticas, vindo a ser, já depois de Abril, professor da Faculdade de Letras de Lisboa, onde criou, em finais de 70, a cadeira de Literatura Africana de Língua Portuguesa.

E é toda uma obra de uma dimensão como esta que continua desconhecida dos seus conterrâneos e esquecida da colmeia cultural do país.

Tentem ir a uma livraria procurar uma qualquer obra das muitas de Manuel Ferreira e vão ver…

(Representante da Junta de Freguesia, Vereadora da Educação da CML,
o Prof. Pires Laranjeira e o Diretor do Museu Escolar)

(Familiares do escritor: em primeiro plano, o seu único filho vivo)

(Alguns amigos, conhecidos e conhecedores do escritor)

Depois da palestra, visitámos uma pequena exposição alusiva de que passo algumas fotografias (não muito bem conseguidas, mas enfim...)































«Todos os dias morremos
e renascemos
E todos os dias os mitos
são enterrados
e reinventados
e não há morte
nem principio
a vida é

nos somos.»

(M. Ferreira, 1989)


18 comentários:

  1. Infelizmente para mim nunca li nada deste autor que (simples curiosidade) tem o mesmo nome que meu pai.
    Um abraço e uma boa semana

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  2. "todos os dias...
    ... renascemos"

    Só por isso merece nome de rua!

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  3. Confesso que não conheço.
    Beijinhos e votos de boa semana!

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  4. É mais um exemplo de como tratamos os nossos valores!...
    Confesso que não conhecia, mas, como sou viciada em leitura (e escrita...)e dou sempre preferência a autores portugueses (claro que conheço a generalidade dos estrangeiros...) vou tentar encontrar algo de Manuel Ferreira.

    Beijinhos

    PS - Presentemente estou a ler "A Padeira de Aljubarrota", de Maria João Lopo de Carvalho (um presente de Natal) e estou a adorar.

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  5. Incrível como os valores leirienses (ao menos esses) são votados ao ostracismo pelas "autoridades" cá do burgo.
    Não surjam iniciativas destas e acabamos por ser arrastados por esta onda indomável que leva consigo para o abismo do desconhecido, tudo o que é relevante, do ponto de vista intelectual, seja património sejam pessoas.
    Um pena.

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  6. ~
    ~ Boa e meritória ideia, a de divulgares neste excelente espaço de tertúlia, a homenagem feita a Manuel Ferreira, na sua terra natal.

    ~ Tal como tu, tenho uma vaga ideia de alguns livros infantis, mas não tive o privilégio de o avaliar.

    ~ Tendo muito boas memórias de África, pelo que, a obra despertou-me o maior interessa. Vou ficar atenta à oportunidade de sentir as emoções que deve despertar a sua escrita.

    ~ Poderá ser um incentivo para muitos, a favor do Acordo Ortográfico, ainda que se mantenham sempre, características da cultura nativa, como ele sublinhou. ~

    ~ ~ ~ Uma simpática semana. ~ ~ ~

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  7. Este comentário foi removido pelo autor.

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  8. Este comentário foi removido pelo autor.

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  9. ~ Deveria constar no meu comemtário anterior:
    ~ ""Tenho muito boas memórias ... , pelo que, ... ... ... o maior interesse.""

    ~ Aproveito para acrescentar que o tributo que prestaste a partir da homenagem, está muito bem elaborado e ilustrado. Fico-te grata pela partilha.

    ~ A citação é interessantíssima. ~

    ~ ~ ~ Abraço. ~ ~ ~

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  10. Curiosamente, passo todos os dias numa rua com o seu nome, em Linda-a-Velha. Isso me aguça o apetite para procurar uma sua obra na Livraria.
    Os meus cumprimentos,
    Manuel Tomaz

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  11. Já conhecia...havia na Biblioteca de uma pequena escola onde trabalhei, a História da Maria Bé e do finório Zé Tomé. Trabalhei-a nesse ano com os meninos...
    Merecida homenagem.
    Beijinho

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  12. Obrigada pelas vossas palavras sempre amáveis.

    Mariazita, também dou sempre preferência aos autores portugueses que os temos muitos e bons. Estou a ler o 1º romance de António Lobo Antunes, cuja prosa muito aprecio. A seguir vou ler o novo livro da Lídia Jorge de quem sou fã...

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  13. Caro Manuel Tomaz, o Manuel Ferreira viveu muitos anos em Linda-a-Velha e aí morreu.

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  14. Devo confessar que desconhecia o autor, mas gostei da homenagem que aqui lhe presta.

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  15. Tardiamente aqui venho, quando toda a gente já desadou para outras latitudes, mas valeu a pena, pela riqueza do testemunho e pelo merecimento do homenageado leiriense que desconhecia.
    Nalguma biblioteca hei de encontrar Manuel Ferreira. Provavelmente nas livrarias népia.
    Parabéns Graça Sampaio pelo trabalho.

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  16. Obrigada, Agostinho! Na Biblioteca Municipal deve haver obras dele. Dos autores mais atuais é que não deve haver nada porque não há dinheiro para comprar livros...

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  17. O Escritor Manuel Ferreira deu-se ao trabalho de vir à Escola D. Dinis de Leiria conversar com os alunos do 8º ano sobre a sua obra,nomeadamente a "Grei"e matar saudades da cidade que o viu crescer quando da sua vinda às aulas noturnas da Escola Comercial.Generosamente bebeu água da torneira já que não havia outra no bar.Depois,sempre bem disposto,foi com a esposa(com quem casara em Cabo Verde e fazia parte do grupo CLARIDADE))ao mercado para comprar os tremoços da terra da seu passado.and so on...and so on..Kinkas

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  18. Confirmo que na Biblioteca Municipal Afonso Lopes Vieira há (ou havia) livros dele, fui lá hoje requisitar "A Casa dos Motas".
    :)

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