sábado, 15 de março de 2014

Judiaria de Leiria

«Da vida dos judeus medievais à beira-Lis restam sobretudo palavras, ideias e memórias. Pouca pedra, muita letra, falada e escrita, como no primeiro livro científico impresso em Portugal, justamente em Leiria, na tipografia de Abraão d’Ortas, corria o ano de 1496. Mas o potencial é grande e a cidade tornou-se projecto âncora da Rede de Judiarias. Rodrigues Lobo, por exemplo, era cristão-novo. A sinagoga, construída no local onde hoje existe a igreja da Misericórdia, uma das mais concorridas, à época, entre as vilas de província.

“A comunidade judaica de Leiria”, nos séculos XIII, XIV e XV, “era numerosa” e uma das mais activas “fora dos grandes centros urbanos”. Havia “uma separação por motivos religiosos”, mas os judeus “é que tinham o comércio mais forte e os ofícios mais nobres”. Entre os habitantes endinheirados da cidade, muitos deles obedeciam à Lei de Moisés e rejeitavam o cristianismo.» (daqui)

Realizou-se hoje o Percurso Judiaria de Leiria organizado, dinamizado e palestrado pelo Dr. Acácio de Sousa que contou com a participação de outros naturais amantes de Leiria.

Acorreram ao evento muitas dezenas de pessoas, até porque o dia esteve risonho e primaveril. O grupo reuniu-se no centro histórico da cidade, ali bem no meio da Rua Direita onde foi acolhido pelos organizadores. «...naquelas artérias batia o coração da judiaria de Leiria. Ourives, correeiros, ferreiros e outros mestres artesãos.»







Seguimos até à Torre Sineira para uma visão panorâmica sobre o bairro...




... descendo depois até ao Orfeão Velho. «Pensa-se que ficava por ali a casa e tipografia dos Ortas, onde se imprimiu o primeiro livro não religioso em Portugal – o Almanach Perpetuum, do famoso Abraão Zacuto.»




Aí fomos recebidos com música da época executada por um grupo de jovens alunas do Orfeão. 




Daí descemos até à Igreja da Misericórdia, fechada há anos, desde que deixou de funcionar como casa mortuária de Leiria. «Construída sobre a antiga sinagoga, que encerrou em 1497, com a expulsão dos judeus de Portugal, o edifício pode, ou não, conter vestígios mais ou menos visíveis da fé judaica. Uma dúvida para esclarecer no sábado e aprofundar em trabalhos arqueológicos, se algum dia vierem a ocorrer. Ali perto, funcionava o hospital – para acolhimento de indigentes e aplicação de pequenos tratamentos simples – e os banhos públicos (junto ao Gato Preto).»







Passámos pela Travessa da Tipografia e admirámos o painel de azulejo que assinala a existência da 1ª tipografia em Portugal.





Pensão Leiriense, onde se julga terem existido os banhos femininos da Judiaria.



(foto retirada da Preguiça Magazine)
O encantador arco da Misericórdia.



O Gato Preto - limite da Judiaria.




Seguimos depois pela Praça Rodrigues Lobo, outra fronteira da Judiaria: lembrança do poeta leiriense ele próprio judeu.





O percurso viria a terminar no renovado Moinho de Papel, nas margens do Rio Lis, o primeiro conhecido em Portugal e que data dos inícios dos anos de 400.








Aí fomos brindados por mais uma alegre e simpática atuação do grupo de alunas, acompanhadas à flauta pelo seu professor.





Para saber mais sobre as raízes judaicas em Leiria, consultar aqui


12 comentários:

  1. ~
    ~ Desconhecia completamente.

    ~ Fico grata pelo conhecimento e divulgação.

    ~ Um bom e agradável Domingo.

    ResponderEliminar
  2. Muito interessante.

    E as fotos estão óptimas.

    Dorme bem

    ResponderEliminar
  3. agradeçamos a D. Manuel, O Venturoso a ordem de expulsão dos judeus portugueses, que foram enriquecer culturalmente económica e financeiramente outros países(a Holanda,por exemplo).A sua influência foi muito importante na época a que este post se reporta. bom domingo.

    ResponderEliminar
  4. Serviço Público de qualidade.
    Obrigada.

    ResponderEliminar
  5. Um passeio muito interessante e muito bem documentado!
    Deu para lembrar ruas que conheço tão bem...
    A perseguição e expulsão dos judeus foi um acto criminoso de D. Manuel só para agradar aos Reis ditos Católicos!

    Abraço

    ResponderEliminar
  6. Sempre em programas interessantes e com fotos bem elucidativas.
    Ando a tentar regressar. No face a escrita é bocadinho, apenas, daquilo que gosto em mim. Mas, aqui, ainda me falta um pzinho de perlimpimpim. Quem sabe é desta.
    um gde bji, Gracinha

    ResponderEliminar
  7. Passeio junto com você lendo e observando lindos lugares em suas fotos! Obrigada!
    Abraços.

    ResponderEliminar
  8. Muito interessante e cultural, na verdade Graça. Boas fotos !

    ResponderEliminar
  9. Belíssima reportagem, acompanhada de excelentes fotos. Obrigado e boa semana

    ResponderEliminar
  10. É verdade, desabafos e Rosa dos Ventos, D. Manuel e os Reis Católicos, os primeiros causadores da decadência dos povos da Península. Sempre a Igreja!!

    Agradeço os "elogios"...

    Boa semana!

    ResponderEliminar
  11. Mais uma boa reportagem, Graça Sampaio, digna de publicação em meio mais abrangente.
    Conheço esta "história" e os locais que mostra mas nem por isso deixei de a apreciar.
    Pois o senhor D. Manuel deu cabo desta coisa que é Portugal. Estou convencido que a Inquisição destemperou o querer do português e meteu-lhe na alma coisas muito feias, tais como, a delação, a mentira e a inveja. Pecados que persistem até hoje sem remissão possível quando o exemplo que vem de cima é, como sabemos, uma desgraça.

    ResponderEliminar