sábado, 29 de março de 2014

A Sala de Aula

Maria Filomena Mónica, que estudou Sociologia em Oxford (o que não faz dela uma socióloga), escreveu, para a coleção da Fundação Francisco Manuel dos Santos, dirigida por António Barreto, seu marido, dois livros: - «A sala de Aula» e «Diários de Uma Sala de Aula» - dizem que sobre o que se passa na sala de aula. E ainda não parou de ser convidada para falar sobre essas obras, o que me pareceria muito bem se a autora não aproveitasse para falar quase mais dela do que das obras em si.

Li atentamente – até porque o tema diz-me muito – a entrevista que deu ao QI do Notícias no sábado passado e, apesar de achar, a partir do tipo de respostas da autora, que não se tratará de um trabalho para além do empírico, houve aspetos focados que me pareceram bastante acertados. Baseada essencialmente em diários escritos por umas tantas professoras onde descreviam o seu dia-a-dia na escola, chegou a uma série de conclusões (ou usou-os para legitimar as ideias que já tinha na cabeça, não sei bem) sobre os problemas que se abatem atualmente sobre a escola, sobre a sala de aula propriamente dita, ou seja, sobre o processo de ensino-aprendizagem.

Diz a escritora: «Há uma ausência dos pais [que desconhecem, ricos ou pobres, o que os filhos andam a aprender], há uma ideologia errada nas ciências da educação, há um ministro que avança um passo e recua dois (ele tem sempre recuo, ele está sempre a dizer uma coisa e, depois, faz outra).» (…) Sobre a questão de ter 20 alunos ou ter 30 muda ou não muda uma sala de aula, a resposta é: «Muda muito. Não vale a pena, como os economistas, passar a vida em medições, correlações e matrizes se não se faz ideia do que é uma turma. Conhecer a sala de aula é fundamental.» «Ele [o ministro] tem a ilusão de que controla os professores através daquelas ordens [que os professores estão sempre a receber do ministério]. (…) O que o ministro está a fazer é tirar-lhes [aos professores] a autonomia, a capacidade de decisão. Eles foram robotizados ao longo dos anos e isso agravou-se muitíssimo, agora, com a ideia de fazer classes maiores. Há as regras, os exames são cada vez mais absurdos, com aqueles quadradinhos e escolhas múltiplas. Isto deriva em parte de crise e em parte de muitas pessoas que estão nos ministérios, a começar pelo próprio ministro, não virem das Humanidades.» (…) «Eu não estou a minimizar as Ciências, (…) estou a pensar mais em economistas, em tecnocratas (…) em seres que são limitados, acreditam em estatísticas e acreditam que gerir uma escola é igual a gerir uma empresa.» «O Moodle [programa informático utilizado nas escolas] é inútil! Tudo quanto o ministério manda por email, tudo, é inútil! Se elas [as professoras diaristas] vissem que aquilo as ajudava a dar melhor as aulas ou que os testes múltiplos ajudassem a que elas pudessem classificar melhor os alunos, elas aderiam.»

Depois, alonga-se num arrazoado de considerações sobre si própria (sabemos como Maria Filomena Mónica é egocêntrica e gosta de se gabar) e sobre a relação que manteve com as professoras diaristas usando sempre um tom superior e complacente (sabemos que Maria Filomena Mónica é pedante) e acaba por concluir que: a) o ensino público é melhor que o privado; b) os professores são bons; c) os sindicatos negoceiam com o ministério e isso já é bom e que não têm de se preocupar com a qualidade de ensino que é missão do ME, mas antes lutam para defenderem os professores.

O que mais me agradou – mas isso foi na entrevista à RTP 2 – foi quando disse que o ministro deveria mesmo implodir o ministério e devia começar por se implodir ele próprio…

19 comentários:

  1. Essa é uma novela, não é mesmo Graça! Há Mestres e mestres. Em geral "os todo poderosos" emplumam-se em tais palestras que o objetivo da mesma se perde. A maioria das que assisti e participei, em meus 42 anos dedicados à educação, promoveu o palestrante e seus livros... em geral, com a presença da editora! Quanto menos culto formos melhor seremos como fantoches nas mãos de "ministros e sua equipe"!
    Abraços.

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  2. Não vi, mas pelo teu texto fico a saber que serviu para falar dela e dos seus livros, ser ignorante por momentos por vezes dava jeito.

    Graça o meu "Folha seca" tem o istámine dele a invernar, quanto ao dos amigos, só não faz comentários, mas visita sempre os blogues e acompanha os textos.

    Bom domingo querida

    Beijinho e uma flor

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  3. Os caminhos da Filomena
    às vezes metem-me pena
    mas é como diz
    e salva-se por um triz

    que se implodam!

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  4. apesar de tudo o que ela é (ninguém é perfeito...), gosto da Senhora, porque pensa pela sua cabeça.

    abraço Graça

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  5. ~
    ~ Não há dúvida que a emérita professora gosta de fazer-se brilhar pela sua pretensa originalidade.

    ~ Será possível que seja necessária a sua assinatura de "pedigree" cultural, para validar todas as lutas e reinvindicações dos docentes e seus sindicatos?

    ~ Um trabalho que lhe exigiu um "enorme" esforço, baseado no testemunho de oito profissionais.

    ~ Quanto lhe pagará a fundação criada, em 2009, pelo mais rico da Europa, Alexandre Soares dos Santos?
    ~ Gostávamos de saber, porque a pobrezinha, não pode, presentemente, ajudar os netos. Coitadinha! Comprem o livro!

    ~ Manda implodir o Crato que tem sido o responsável na área da educação, da referida fundação, presidida por A. Barreto, seu marido e para a qual, acaba de realizar o trabalho.

    ~ A implosão de um ministro e de um ministério, são efeitos especiais dignos da esperteza de uma emérita, que quer promover o seu "cansativo" trabalho.

    ~ Palhaçadas culturais que mascaram o drama da nossa miséria, refletida nas escolas portuguesas onde abundam professores desrespeitados e desmotivados e turmas incríveis.

    ~ É certo que o trabalho aborda estes aspetos sobejamente conhecidos, mas não aponta soluções.

    ~ E concorda! Os meninos com o 9º ano e 15 anos, já podem ir trabalhar, se os pais assim o desejarem. Irão assegurar os postos de serviçais europeus.

    ~ Como gostam, os media, de dar cobertura a tão doutos ensinamentos, coisa que nunca fazem com um dirigente sindical...

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  6. Cá por mim parece-me que cada um tem "as suas razões". Descer e subir exige esforço, como é próprio da experiência de cada um. A grande maioria das pessoas recusam-se a subir ou a descer, um degrau que seja. O resultado está à vista.

    A MFM tem o nariz arrebitado sim senhores, mesmo assim, gosto da figura; e tem uma vantagem: VÊ-SE MELHOR DE CIMA para baixo do que de baixo para cima.

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  7. Às vezes gosto dela...outras não, sobretudo na vertente do pedantismo!
    Mas o que me fez mais impressão na entrevista foi o tom gaguejado e o discurso um pouco sinuoso...pareceu-me não estar bem de saúde.
    Ou talvez fosse impressão minha!

    Abraço

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  8. Gostei da entrevista que deu à RTP-Informação e estou a gostar do livro que fala dos Diários.

    Concordo com as sua posições quanto ao número exagerado de adolescentes em sala de aula, à omnipresença do ministério e à defesa da Escola Pública.

    Posto isto, devo dizer que nem ela nem António Barreto merecem a minha consideração, pois se acham as maiores sumidades na sua área.

    Tanto que , ele se desligou de uma dada instituição por ter publicado um artigo de Boaventura Sousa Santos, que admiro muito e é repeitadissimo no estrangeiro.De seguida Mónica , designou-o como o Papa de Coimbra.

    Bom resto de domingo

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  9. Também me pareceu que gaguejava um pouco na entrevista à RTP 2, Leo. Mas isso é o menos!

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  10. Concordo, Célia! Há que promover os livros para que sejam vendidos! Se têm valor ou não... isso já é outra questão!

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  11. Gracinhamiga

    Ainda bem que estou (amos) em Goa. Na RTPI vejo o Preço Certo, o Portugal no Coração e o futebol...

    Mas, o que mais me fo..., lixa é que volto (amos) a 1 de Maio. A vida é madrasta...

    Quanto à MFM - não gosto dela. Pronto, ponto

    Qjs

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  12. Tudo que se faz fora do terreno, é demagógico e vazio- leis, livros, etc.
    Sexta feira fui alvo de uma agressão(verbal) por parte um um aluno da turma ao lado , que trazia um aluno meu agarrado pelo pescoço. Depois de colocar ordem na coisa, relatei por escrito a ocorrência mas a colega, profesotra do dito agressor, recusou-se a assinar. Tem medo desses pobres descriminados, pela positiva, diga-se, porque a eles, tudo é permitido e a impunidade reina. Três miudos conseguem dominar uma escola com mais de 200 crianças, mas a mim, podem matar-me que eu morro de pé, agarrada à minha dignidade.
    Boa semana.
    Beijinho

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  13. É assim mesmo, Maria do Sol!! Força!

    Também concordo com isso: tudo o que se faz fora do terreno é demagógico e vazio. Por isso desconfio muito dos livrinhos da MFM.

    Também não gosto dela, Henriquamigo e pronto(s)!!!

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  14. Gostei da crónica e, apesar dos aspectos menos positivos da pessoa em causa, fiquei com pena de não ter visto a entrevista.

    Um beijo

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  15. ~
    ~ Lídia, existe o vídeo da entrevista na internet, onde pode constatar que, apesar das perguntas
    serem do seu conhecimento, a socióloga esteve muito gaguejante...
    ~ Porque seria?! ~

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  16. Também vi a entrevista e achei que os anos começam a pesar na FM..titubia , não segue o raciocínio de uma maneira coerente, às vezes " dá uma no cravo e outra na ferradura "...mas não desistem de aparecer e opinar .
    M.A.A.

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  17. a vida está repleta de surpresas...

    (apesar das Mónicas deste Mundo)

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  18. Não vi nenhuma das entrevistas, mas já li excertos do livro e fiquei bastante impressionado...

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