Contraria-me sobremaneira ouvir
algumas pessoas (e algumas com formação para o não fazerem) dizerem que têm
vergonha de serem portugueses. Não admitiria mostrar vergonha de ter nascido no
meu país tivesse eu nascido na Coreia do Norte, na Guiné Equatorial, no
Paquistão, na Suécia, em Marrocos, ou nos States! Nasce-se e pronto! Não
depende da nossa vontade e nada podemos fazer por isso ou contra isso. Além de
que é uma imensa falta de cidadania, de classe, de educação renegarmos o nosso
país: quase um paralelo com quem, mercê da instrução que cavalgou chega – ou pensa
que chega – a um patamar em que se permite envergonhar-se dos pais que lhes
deram o ser (e, muitas vezes, o dinheiro para aceder à dita instrução que os
pais não tiveram).
Já ter vergonha do que este nosso
povo – ou parte dele, grande parte dele – faz e diz e da forma como se comporta
e como é, não me faz diferença nenhuma e, embora não preconize, até pratico…
Não vou registar aqui, hoje e uma
vez mais, a vergonha que sinto de termos a espécie de governo e a espécie de
presidente que nos calhou (pelo voto, eu sei!) que isso tenho-o eu feito dia
após dia.
Hoje sinto uma imensa vergonha de
me ver representada por um punhado de deputados que “chumbaram” o diploma de
co-adoção de crianças por casais do mesmo sexo, continuando o nosso país a ser
o único da Europa ocidental que exclui essa possibilidade, ficando nesta
matéria acompanhado apenas por países como a Rússia, a Roménia e a Ucrânia.
Vergonha por ter uma comunicação
social de tal modo vergada ao “politicamente (e religiosamente) correto” que, à
hora em que milhares de pessoas, funcionários públicos, se manifestavam junto à
Assembleia da República contra as políticas de cortes e de empobrecimento dos
trabalhadores, todos os canais de televisão, generalistas e por cabo, estavam a
transmitir, paulatinamente e passo a passo, o funeral do D. José Policarpo!
E vergonha talvez ainda maior,
por mais próxima e porventura mais ampla, foi encontrar hoje uma ex-colega que,
depois de uma conversinha rápida a criticar os governantes, afirmou que não ia
votar mais e que eu devia fazer a mesma coisa porque por cada voto, mesmo em
branco, os partidos recebem três euros e tal e com o voto dela nenhum partido
há de ganhar dinheiro.
Tanta ignorância, tanta
incultura, tanta estupidez!
Agendei um post para amanhã à volta da vergonha. Depois de ler este, envergonhei-me de o ter escrito, mas já está e não vou retirar.
ResponderEliminarIsto tudo para lhe dizer que assino este post por baixo
Bom FDS
Tudo quanto escreve , está bem escrito e subscrevo.
ResponderEliminarHoje , fiquei chocada , pois o funeral de D. José Policarpo monopolizou todas as televisões e nâo mostraram a manifestação em directo. Não admira, à 5ªf gosto de ver a " Quadratura do círculo" e por causa do futebol dá depois às 2ou 4 h da manhã... Fátima e futebol para os parvos.
M.A.A.
Absolutamente de acordo. Eu votei em branco nas últimas 3 eleições. Excepto nas autárquicas. E a não ser que aconteça um milagre voltarei a votar em branco nas próximas. Mas não deixarei de votar.
ResponderEliminarUm abraço e bom fim de semana
Deambulando pelos blogues onde habitualmente não comento e ao ler o que alguns comentadores têm para dizer, apercebo-me da intolerância de alguns indivíduos , a forma como se expressam, utilizando termos pejorativas que demonstram falta de evolução de ideias, de pensamentos, de formas de estar.
ResponderEliminarEnvergonhada, propriamente não fico porque nada tenho a ver com eles, fico talvez revoltada, incrédula pela sua…. estupidez!!
Nem me recordo da última vez que proferi ou escrevi esta palavra. Mas deu-me prazer escrevê-la agora.
Acabo de ver a última sondagem,
ResponderEliminare percebo:
iguaizinhas à sua ex-colega, sobram.
Sobram e votam
~
ResponderEliminar~ Totalmente solidária com a tua justíssima indignação, Graça.
~ Quem está longe de Portugal e não tem os seus ordenados e direitos espoliados; quem não faz ideia do nível a que chegou o Ensino e os Serviços de Saúde; quem não é filho de pais desempregados que perderam a sua casa; quem não está a dividir a sua pensão com um filho licenciado desempregado; quem é idoso e chora o filho emigrado que era o seu amparo; quem não é afrontado diáriamente com a arrogância, desplamte e cinismo de um governo incompetente que conduziu Portugal a um vergonhoso estado de opróbrio, sem a mínima hipótese de resgate da sua dignidade e soberania, pois acabou de ficar provado que não existem as mínimas condições de saldar a dívida externa, deve realmente sentir-se chocado quando nos exaltamos ou quando tentamos fazer humor, para nos animarmos. ~
~ No entanto, concordo que há que não descer o nível e manter decoro no âmbito dos vitupérios. ~
Falando por mim, Majo, que me encontro longe de Portugal, não fico chocada com os portugueses (em Portugal) que se exaltam ou fazem humor com as grandes dificuldades por que muitos estão a passar. Quando falo com alguns amigos e conhecidos que estão mais ao corrente do que se passa por aí do que eu, nunca detetei qualquer indignação por parte deles.
ResponderEliminarA mim, o que me choca, verdadeiramente, é, perante o caso que a Graça apresentou, haver um governo que “chumbe” o diploma de co-adoção e os que aprovam (membros da sociedade civil) essa decisão porque os “paneleiros” (utlizando outros termos igualmente inaceitáveis) não devem ter os mesmos direitos. Estes são os termos pejorativos que abomino e as atitudes que condeno, sem ter o direito de o fazer, eu sei.
Devemos aceitar outras opiniões, é verdade, mas quando essas opiniões se referem aos direitos que todos os cidadãos devem ter independentemente da sua religião, tradições e orientação sexual, aí, já não sou muito tolerante.
Os telhados são de vidro para todos.
Talvez viva num país “mais civilizado” como a nossa amiga Graça tanto gosta de dizer; um país longe de ser perfeito, enorme e igualmente com grandes problemas (que variam de provínvia para província) mas as coisas aqui (mesmo com alguns escândalos a nível provincial e até federal) resolvem-se com mais rapidez e eficiência!! : )
A título de curiosidade: (tirado da net)
Na província do Ontário (casamento entre duas pessoas do mesmo sexo):
“Legal since June 10, 2003;
Couples allowed spousal support if marriage ends;
Couples have rights to medical decision-making, Workers’ compensation, insurance and pension benefits, protection under fatal injury laws, recognition under conflict of interest laws;
Couples can adopt”
:/
ResponderEliminarda muito trabalho mudar o que esta mal
e mais facil reclamar
Jinhos
Paula
~ Totalmente solidária com a tua indignação, Cristina. ~
ResponderEliminar~ O Canadá é um país muito simpático e evoluído.
~ ~ ~ A educação é fundamental e o cerne desta questão. ~ ~ ~
~ Em Portugal, investiu-se muito pouco na disciplina de Desenvolvimento Pessoal e Social, nas escolas.
~ É tal a falta de espírito de cidania, que as pessoas protestam contra o governo, mas preferem votar em branco.
~ Com tanta informação na "net", não se incomodam em estudar os ideários dos partidos, não formando uma conciência política.
~ Votam por simpatias, saltando da esquerda para direita; não votam
ou votam em branco, fenómeno que é inerente a todos os níveis culturais.
~ Votar em branco, não é solução para reprovar a classe política.
Para resolver esta questão, deverão ser criados mecanismos de supervisão de fraude e corrupção governamentais.
~ O adiamento da aprovação da lei da coadoção por casais homossexuais, provém do oportunismo
político de governantes irresolutos e perturbados, que temendo a indignação de alguns, despertaram a consternação de muitos.
~ E "cá vamos nós", pecunáriamente paupérrimos e manifestando a maior pobreza de espírito...
~ E... Bom fim de semana.
~
ResponderEliminar~ Deveria constar: "...saltar da esquerda para a direita e vice versa, ..."
~
ResponderEliminar~ Desculpa querida ~ C a t a r i n a. ~
~ Troquei o teu nome! Perdão, pelo lapso.
Vergonha é roubar - como diz o povo - e é isso que nos andam a fazer!
ResponderEliminarRoubam-nos a esperança, roubam o futuro aos jovens e ainda se indignam com a nossa indignação!
Ontem não deu para ver TV...assim evitei velórios e olhares compungidos de quem não tem um pingo de vergonha!
Abraço
Credo, Carlos! Envergonhada fico eu com o que para aí disse o Carlos que escreve sempre tão bem e é sempre tão oportuno!!
ResponderEliminarQuerida Catarina, claro que gosto de dizer que o Canadá é um país muito civilizado porque é verdade! A civilização de um povo vem sempre do grau de importância que esse povo - e, naturalmente, os seus dirigentes - dão à educação. Por cá, é preciso relembrar sempre que, apenas há 40 anos a educação passou a ser vista como um direito; nessa época a taxa de analfabetos era à volta dos 30% e muito pouca gente fazia mais do que a 4ª classe. Depois da Revolução fez-se um esforço enorme, mas muitos ainda não deram o salto do modo "instrução" para o modo "educação". E com esta espécie de governo que nos calhou (pelo voto) tudo está a regredir a passos largos!
ResponderEliminarUma tristeza!
Obrigada pelo teu testemunho. Bjs.
Estimada Amiga Graça Sampaio,
ResponderEliminarEstou inteiramente de acordo com suas sábias palavras.
Embora eu viva fez já meio século longe do pais que me serviu de berço nunca reneguei a minha nacionalidade, e tinha motivos para o fazer, mas a culpa não é do país, mas sim de quem nos governa.
Abraço amigo
o nosso país está "calcinado" e vergado a mentalidades emparedadas.é pena.
ResponderEliminarNão tenho vergonha - nem nunca tive -de ser portuguesa, mas tenho , sim, vergonha que certa gente o seja!!
ResponderEliminarComo decerto percebeste , o meu comentário é o teu texto, mas em curto e grosso.
Bom serão, Graça