Eu sou uma mulher de sorte!
Mesmo! Há meses que ando para ir visitar a Casa de Fernando Pessoa, mas por
isto ou por aquilo, não se foi proporcionando.
Apareceu uma oportunidade de
irmos a Lisboa no sábado passado e aí decidi fazer finalmente a visita adiada.
Ao chegar à entrada da casa, fui
abordada por simpático jovem que me perguntou se eu vinha visitar a casa e, só
por isso, me leu um poema de Alberto Caeiro e me explicou que aquele era um dia
especial porque estavam a celebrar os cem anos do Dia Triunfal de Fernando
Pessoa, no qual, segundo o próprio poeta, em carta a Adolfo Casais Monteiro,
admitiu ter vislumbrado os seus três heterónimos principais: Caeiro, Ricardo
Reis e Álvaro de Campos.
«… lembrei-me um dia de fazer uma partida ao Sá-Carneiro — de inventar
um poeta bucólico, de espécie complicada, e apresentar-lho, já me não lembro
como, em qualquer espécie de realidade. Levei uns dias a elaborar o poeta mas
nada consegui. Num dia em que finalmente desistira — foi em 8 de Março de 1914
— acerquei-me de uma cómoda alta, e, tomando um papel, comecei a escrever, de
pé, como escrevo sempre que posso. E escrevi trinta e tantos poemas a fio, numa
espécie de êxtase cuja natureza não conseguirei definir. Foi o dia triunfal da
minha vida, e nunca poderei ter outro assim. Abri com um título, O Guardador de
Rebanhos. E o que se seguiu foi o aparecimento de alguém em mim, a quem dei
desde logo o nome de Alberto Caeiro. Desculpe-me o absurdo da frase: aparecera
em mim o meu mestre. Foi essa a sensação imediata que tive. E tanto assim que,
escritos que foram esses trinta e tantos poemas, imediatamente peguei noutro
papel e escrevi, a fio, também, os seis poemas que constituem a Chuva Oblíqua,
de Fernando Pessoa. Imediatamente e totalmente... Foi o regresso de Fernando
Pessoa Alberto Caeiro a Fernando Pessoa ele só. Ou, melhor, foi a reacção de
Fernando Pessoa contra a sua inexistência como Alberto Caeiro.
Aparecido Alberto Caeiro, tratei logo de lhe descobrir — instintiva e
subconscientemente — uns discípulos. Arranquei do seu falso paganismo o Ricardo
Reis latente, descobri-lhe o nome, e ajustei-o a si mesmo, porque nessa altura
já o via. E, de repente, e em derivação oposta à de Ricardo Reis, surgiu-me
impetuosamente um novo indivíduo. Num jacto, e à máquina de escrever, sem
interrupção nem emenda, surgiu a Ode Triunfal de Álvaro de Campos — a Ode com
esse nome e o homem com o nome que tem. (…)»
(excerto da carta a A. C.
Monteiro, escrita em 13 de Janeiro de 1935)
Foi assim que tive direito à leitura
de um poema de cada um dos heterónimos, à visita à Biblioteca (que está fechada
ao público aos sábados), observação de alguns livros da biblioteca pessoal do
poeta profusamente anotados por ele e vista ao quarto onde ele terá escrito, de
rajada, aqueles poemas todos que ele refere na carta. Uma emoção!
(um aspeto da Biblioteca) |
(Bilhete de Identidade de Pessoa) |
Fosse certo ou não que Pessoa tivesse escrito aqueles poemas todos naquele dia dito triunfal de 8 de Março de 1914 (conforme estudos a decorrer), esta foi uma visita triunfal para mim...
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ResponderEliminar~ Em primeiro lugar, as minhas melhores congratulações, pela excelente reportagem fotográfica, que tão simpática e amistosamente preparaste para partilhares com os teus leitores.
~ Não conheço a casa do poeta e sempre me insurgi com a situação da mesma, defendendo que a casa da Fundação, deveria ter ficado no Largo de S. Carlos, coração da baixa lisboeta, onde nasceu.
~ Fico-te muito grata por teres partilhado o teu dia triunfal, no Centenário do Dia Triunfal de Fernando Pessoa.
~ Eu acredito firmemente, que ele teve esse dia glorioso e quem dele duvida, nunca teve uma mente criadora. ~
~ ~ ~ Uma excelente semana. ~ ~ ~
Que sábado estava guardado para passar do imaginário à realidade de Pessoa!
ResponderEliminarBom trabalho e detalhada reportagem fotográfica, Graça Sampaio. Venham outros idênticos.
Você foi nesse dia, a convidade oficial de Pessoa! Ele sabia de suas intenções! Que linda reportagem em suas fotos, e textos informativos tão preciosos, Graça! Dá-nos a impressão de estarmos junto à você! Obrigada!
ResponderEliminarAbraço.
Estimada Amiga Graça Sampaio,
ResponderEliminarEstá cheia de sorte.
Em Macau esteve Camilo Pessanha, Venceslau de Morais, Bocage entre outros, dizem também ter estado Camões.
Porém o que resta, e somente de camilo Pessanha, é a sua sepultura, e por sinal bem mal tratada.
Existe a gruta de Camões.
Abraço amigo
Há momentos felizes, Graça
ResponderEliminarBeijinhos
fixe.
ResponderEliminare esteve um dia luminoso.
abraço Graça
Ainda há dias assim, inesperados, surpreendentes e cheios de magia. Parabéns!
ResponderEliminarbeijinho
ResponderEliminarHá momentos que valem pelos momentos.
Nunca lá fui e lamento.
Beijinho
Há dias que correm bem...
ResponderEliminarFernando Pessoa, Genial!
Beijos.
Tenho a certeza que foste recebida pelo meu primo Ricardo, quer dizer filho de um primo do meu parceiro que trabalha na Casa Fernando Pessoa e que já me fez uma visita guiada a esse belíssimo espaço, precisamente no dia do aniversário da sua morte!
ResponderEliminarAbraço
FERNANDO PESSOA SEMPRE!!!
ResponderEliminarNão conheço a casa do poeta, mas esta tua reportagem ainda me abriu mais o apetite.
ADOREI!!!