segunda-feira, 10 de março de 2014

O Dia Triunfal de Fernando Pessoa

Eu sou uma mulher de sorte! Mesmo! Há meses que ando para ir visitar a Casa de Fernando Pessoa, mas por isto ou por aquilo, não se foi proporcionando.

Apareceu uma oportunidade de irmos a Lisboa no sábado passado e aí decidi fazer finalmente a visita adiada.




Ao chegar à entrada da casa, fui abordada por simpático jovem que me perguntou se eu vinha visitar a casa e, só por isso, me leu um poema de Alberto Caeiro e me explicou que aquele era um dia especial porque estavam a celebrar os cem anos do Dia Triunfal de Fernando Pessoa, no qual, segundo o próprio poeta, em carta a Adolfo Casais Monteiro, admitiu ter vislumbrado os seus três heterónimos principais: Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro de Campos.

«… lembrei-me um dia de fazer uma partida ao Sá-Carneiro — de inventar um poeta bucólico, de espécie complicada, e apresentar-lho, já me não lembro como, em qualquer espécie de realidade. Levei uns dias a elaborar o poeta mas nada consegui. Num dia em que finalmente desistira — foi em 8 de Março de 1914 — acerquei-me de uma cómoda alta, e, tomando um papel, comecei a escrever, de pé, como escrevo sempre que posso. E escrevi trinta e tantos poemas a fio, numa espécie de êxtase cuja natureza não conseguirei definir. Foi o dia triunfal da minha vida, e nunca poderei ter outro assim. Abri com um título, O Guardador de Rebanhos. E o que se seguiu foi o aparecimento de alguém em mim, a quem dei desde logo o nome de Alberto Caeiro. Desculpe-me o absurdo da frase: aparecera em mim o meu mestre. Foi essa a sensação imediata que tive. E tanto assim que, escritos que foram esses trinta e tantos poemas, imediatamente peguei noutro papel e escrevi, a fio, também, os seis poemas que constituem a Chuva Oblíqua, de Fernando Pessoa. Imediatamente e totalmente... Foi o regresso de Fernando Pessoa Alberto Caeiro a Fernando Pessoa ele só. Ou, melhor, foi a reacção de Fernando Pessoa contra a sua inexistência como Alberto Caeiro.
Aparecido Alberto Caeiro, tratei logo de lhe descobrir — instintiva e subconscientemente — uns discípulos. Arranquei do seu falso paganismo o Ricardo Reis latente, descobri-lhe o nome, e ajustei-o a si mesmo, porque nessa altura já o via. E, de repente, e em derivação oposta à de Ricardo Reis, surgiu-me impetuosamente um novo indivíduo. Num jacto, e à máquina de escrever, sem interrupção nem emenda, surgiu a Ode Triunfal de Álvaro de Campos — a Ode com esse nome e o homem com o nome que tem. (…)»

(excerto da carta a A. C. Monteiro, escrita em 13 de Janeiro de 1935)

Foi assim que tive direito à leitura de um poema de cada um dos heterónimos, à visita à Biblioteca (que está fechada ao público aos sábados), observação de alguns livros da biblioteca pessoal do poeta profusamente anotados por ele e vista ao quarto onde ele terá escrito, de rajada, aqueles poemas todos que ele refere na carta. Uma emoção!














(um aspeto da Biblioteca)
(Bilhete de Identidade de Pessoa)



Fosse certo ou não que Pessoa tivesse escrito aqueles poemas todos naquele dia dito triunfal de 8 de Março de 1914 (conforme estudos a decorrer), esta foi uma visita triunfal para mim...


11 comentários:

  1. ~
    ~ Em primeiro lugar, as minhas melhores congratulações, pela excelente reportagem fotográfica, que tão simpática e amistosamente preparaste para partilhares com os teus leitores.

    ~ Não conheço a casa do poeta e sempre me insurgi com a situação da mesma, defendendo que a casa da Fundação, deveria ter ficado no Largo de S. Carlos, coração da baixa lisboeta, onde nasceu.

    ~ Fico-te muito grata por teres partilhado o teu dia triunfal, no Centenário do Dia Triunfal de Fernando Pessoa.

    ~ Eu acredito firmemente, que ele teve esse dia glorioso e quem dele duvida, nunca teve uma mente criadora. ~

    ~ ~ ~ Uma excelente semana. ~ ~ ~

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  2. Que sábado estava guardado para passar do imaginário à realidade de Pessoa!
    Bom trabalho e detalhada reportagem fotográfica, Graça Sampaio. Venham outros idênticos.

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  3. Você foi nesse dia, a convidade oficial de Pessoa! Ele sabia de suas intenções! Que linda reportagem em suas fotos, e textos informativos tão preciosos, Graça! Dá-nos a impressão de estarmos junto à você! Obrigada!
    Abraço.

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  4. Estimada Amiga Graça Sampaio,
    Está cheia de sorte.
    Em Macau esteve Camilo Pessanha, Venceslau de Morais, Bocage entre outros, dizem também ter estado Camões.
    Porém o que resta, e somente de camilo Pessanha, é a sua sepultura, e por sinal bem mal tratada.
    Existe a gruta de Camões.
    Abraço amigo

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  5. fixe.

    e esteve um dia luminoso.

    abraço Graça

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  6. Ainda há dias assim, inesperados, surpreendentes e cheios de magia. Parabéns!

    beijinho

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  7. Há momentos que valem pelos momentos.

    Nunca lá fui e lamento.

    Beijinho

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  8. Há dias que correm bem...
    Fernando Pessoa, Genial!
    Beijos.

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  9. Tenho a certeza que foste recebida pelo meu primo Ricardo, quer dizer filho de um primo do meu parceiro que trabalha na Casa Fernando Pessoa e que já me fez uma visita guiada a esse belíssimo espaço, precisamente no dia do aniversário da sua morte!

    Abraço

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  10. FERNANDO PESSOA SEMPRE!!!

    Não conheço a casa do poeta, mas esta tua reportagem ainda me abriu mais o apetite.

    ADOREI!!!

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