(O José. Hoje também é do Dia de S. José...) |
1. Sabem como sempre elogio o trabalho das (desculpem-me o uso do feminino) educadoras de infância pela sua paciência e coragem (por conseguirem lidar diariamente com vinte e tal criancinhas entre os três e os seis anos sem perderem o juízo e a compostura) pela sua constante imaginação, pela sua eterna juventude. Hoje, porém, devo deixar aqui expressas algumas dúvidas relativamente à forma como celebram os «Dias de».
A educadora dos meus netos mais velhos é excelente em termos de
competência e de dádiva e gosta de fazer de tudo para que os seus meninos sejam/estejam
felizes. Porém, falta-lhe (como a nós todos que nos entregamos de corpo e alma
às coisas) a devida distanciação para ver o outro lado das acções que realiza.
Ora ela, nos dias do pai e da mãe, convida e faz questão da presença de cada um
deles na escola. A intenção é boa e cumpre (ou tenta cumprir) aquele princípio da
necessidade de abrir a escola à comunidade e de atrair a família ao meio
escolar. Porém, com aquele escrúpulo que sempre tive de não beliscar minimamente
os sentimentos dos alunos – crianças ou adolescentes – pergunto-me: e os que
(já) não têm os pais consigo? E aqueles cujos pais, por motivos diversos, não
podem deslocar-se à escola? E aqueles que não querem ir? E aqueles que só podem
lá estar cinco minutos? E aqueles que querem lá estar todo o tempo? Ponho –
sempre pus – muitas questões no que a estas diferenças explícitas diz respeito
quando estão envolvidos “menores” e aí, perdoem-me este pensamento em aresta,
preferia que as celebrações se fizessem no habitual ambiente de sala de aula.
2. Como já por mais de uma
vez aqui manifestei um certo sentimento contra os «Dias de», não se pense que
sou completamente contrária à celebração das efemérides. Há aqueles «Dias de» a
que fomos habituados desde crianças que nos marcam pela tradição e pelas
recordações que nos trazem. É o caso do Dia do Pai, do Dia da Mãe, do Dia da
Árvore, da Criança e outros mais, não muitos. O que me “arrepanha” mesmo é o
exagero de dias que anualmente são inventados, o exagero, o aproveitamento e o
consumismo e, mais que tudo, a lamechice. (O outro tem alguma razão – só que
não podia tê-lo dito – somos um povo lamechas.) Imaginem o António – um António
qualquer – que disse para a capa de uma revista «que nasceu como pai no dia em
que lhe nasceu o filho Martim» … Claro! Já ouviram uma baboseira maior?!
3. E, por fim, para não pensarem que sou uma insensível, permito-me copiar para aqui um poema lindo que o nosso amigo blogger Luís Coelho escreveu neste Dia do Pai e que eu lhe «roubei» do facebook...
Pai
Desenhei o silêncio do teu rosto
Palavras nunca ditas nos teus
olhos
Tempo que juntos construímos
Dias férteis de ledos desenganos
Grandes sonhos de que nunca
desistimos.
Desenhei o silêncio do teu rosto
Sorrisos tracejados pelos anos
Estradas longas por onde
caminhámos
Nervuras onde o tempo já fez
danos
Distâncias onde sempre nos
ligamos.
Desenhei o silêncio do teu rosto
Nas palavras escritas no meu ser
Aquelas que guardo e dou valor
Ser Pai é um ser grande com amor
E vivendo se transforma em
criador.
(Luís Coelho, 19 de Março de 2014)
Deixo o que deixei ao Luis
ResponderEliminarUm comentário, usando as suas próprias palavras, com a generalização que me impôs o coração. E é assim:
Grandes sonhos de que nunca desistimos.
Desenhemos o silêncio do rosto dos nossos pais
Sorrisos tracejados pelos anos
Estradas longas por onde caminhámos
Nervuras onde o tempo já fez danos
Distâncias onde sempre nos ligamos.
...uma nota para o teu texto...
"a mão que embala o berço governa o mundo"
E o importante, Rogerito, é não desistirmos dos nossos sonhos...
ResponderEliminar~
ResponderEliminar~ Excelente seleção, Graça!
~ Aplaudo a sensibilidade criadora
~ da alma tão gentil e poética
- do nosso querido e terno amigo,
~ Luís
~ Rimas perfeitas de perfeito amor. ~
~ Luís, estamos com saudades da sua tão dotada escríta.
~ Contamos consigo, não demore! ~
~ Parabéns a todos os pais amorosos. ~
Bom, não concordo contigo sobre chamar os pais à sala de aula: alguns poderão não estar, poder ir ou sequer existir no universo da criança, mas mais cedo ou mais tarde as próprias crianças vão sentir isso noutras situações - neste caso, é só mais uma.
ResponderEliminarQuanto ao dia do pai (ou da mãe), realmente nestes dias as pessoas sacam o que há de mais lamechas dentro delas, quase cada um a dizer que o deles é ou foi o melhor do mundo! Não se tocam sequer... Hoje o facebook estava de fugir! ;)
Beijocas
Pois, para mim o Dia do Pai também está sempre associado ao Dia de São José.
ResponderEliminarMas, por aqui, vão pelas americanices.
E o Dia do Pai é comemorado em Junho :(
Beijinhos
Bom dia Graça
ResponderEliminarParabéns pelo texto do dia de.
Cada um cuidará de guardar dentro de si o melhor da sua vida. As escolinhas dão uma ajuda. Os pais, as mães ou outro dia de festa serão reforços de amor. Um apertar dos braços que nos acolhem ou onde fomos acolhidos.
O resto é folclore.
Não é difícil chorar. Foi assim que fiquei aqui neste espaço com o seu trabalho e com o carinho dos comentadores.
Obrigado, palavra simples mas sincera.
Saudades de todos e para todos.
Hoje o dia do pai e da mãe são para mim dias de grande saudade, já que os dois já se foram e havia uma grande ligação com o meu pai. Uma comunhão de pensamentos e ideais, que nunca existiu entre mim e a minha mãe.
ResponderEliminarO poema do Luis é muito bonito. Mais do que isso é um abraço de ternura. Tive ocasião de o ler ontem no blogue dele.
Um abraço
Uma reflexão sobre o "tem que ser" que espelha o comportamento coletivo nos dias de hoje, também muito referido por "politicamente correto". É essa organização "carneiristica" que a Graça pretende, julgo eu.
ResponderEliminarLuís Coelho espelha magistralmente no poema a relação que perdura no seu coração (e no nosso).
~
ResponderEliminar~ Meu Deus, Teté!
~ Essa intolerância nem parece tua!
~ Desejo que hoje, estejas mais bem disposta.
~ ~ ~ Abraço e Beijocas. ~ ~ ~
Quando fala apenas a emoção, acho válido sem ferir suscetibilidades. Agora, quando envolve consumir para homenagear, ai acho lastimável!
ResponderEliminarAbraços.
Gostei muito do poema (não o conhecia)
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