domingo, 9 de fevereiro de 2014

Pedro e Inês

Revisitando o imponente Mosteiro de Alcobaça, impossível não revisitar os trágicos amores de Pedro e Inês.

“Mandou D. Pedro obrar um muymento de alva pedra, todo muy sutilmente lavrado, pondo, elevada sobre a tampa de cima a imagem della com coroa na cabeça como se fôra Rainha; e este muymento mandou pôr no Mosteiro de Alcobaça, não à entrada onde jazem os Reys, mas dentro da Igreja, à mão direita, junto da Capela Mor, e fez trazer o seu corpo do Mosteiro de Santa Clara de Coimbra, onde jazia, o mais honradamente que se fazer pode; porque ele vinha em umas andas muy bem preparadas para tal tempo, as quais trazião grandes cavallos acompanhados de grandes Fidalgos, e outra muita gente, e Donas, e Donzelas, e outra muita Cleresia; e pelo caminho estavão muito mil homens com círios nas mãos, de tal sorte ordenados, que sempre o seu corpo foy todo o caminho entre círios acezos; e assim chegarão até ao dito Mosteiro, que erão dalli dezassete léguas, onde com muitas Missas, e grande solemnidade foy posto aquelle muymento. E foi esta a mais honrada Tresladação, que até áquelle tempo em Portugal fôra vista.”

Fernão Lopes


Túmulo de D. Pedro
Alcobaça





Túmulo de D. Inês
Alcobaça



Inês morreu e nem se defendeu
da morte com as asas das andorinha
pois diminuta era a morte que esperava
aquela que de amor morria cada dia
aquela ovelha mansa que até mesmo cansa
olhar vestir de si o dia-a-dia
aquele colo claro sob o qual se erguia
o rosto envolto em loura cabeleira
Pedro distante soube tudo num instante
que tudo terminou e mais do que a Inês
o frio ferro matou a ele.
Nunca havia chorado é a primeira vez que chora
agora quando a terra já encerra
aquele monumento de beleza
que pode Pedro achar em toda a natureza
que pode Pedro esperar senão ouvir chorar
as próprias pedras já que da beleza
se comovam talvez uma vez que os humanos
corações consentiram na morte da inocente Inês
E Pedro pouco diz só diz talvez
Satanás excedeu o seu poder em mim
deixem-me só na morte só na vida
a morte é sem nenhuma dúvida a melhor jogada
que o sangue limpe agora as minhas mãos
cheias de nada
ó vida ó madrugada coisas do princípio vida
começada logo terminada.

Ruy Belo


12 comentários:

  1. Ainda fiquei consternada, pelo que, fui percorrida por um arrepio.
    Os túmulos são autênticas jóias e as fotos estão com óptima qualidade.
    Uma semana agradável, Graça, apesar deste mau tempo.

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  2. É impossível ficar indiferente diante daqueles túmulos.
    Aquelas jóias de arte são testemunhas de um amor tão grande que nunca se viu outro igual.

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  3. Uma das mais belas histórias de amor do nosso chão.
    Ruy Belo um poeta de peso.
    É sempre bom trazer à superfície a nossa história, nossa maior riqueza.

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  4. Também já estive mais que uma vez
    junto a esses túmulos. Foi realmente
    um grande amor, que acabou
    tragicamente.
    Bj.e o desejo que esteja bem.
    Irene Alves

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  5. A rainha mais amada da história de Portugal.

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  6. A rainha mais amada da história de Portugal.

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  7. Uma bela e trágica história de amor eternizada na nossa literatura e em Alcobaça, nesse "romance" de pedra!

    Abraço

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  8. Amores de Pedro e Inês em vésperas de S. Valentim? Aprovado!

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  9. Bem gostei agora de por aqui passar e relembrar o Mosteiro de Alcobaça, a sua História e os amores de Pedro e Inês...Obrigada
    Boa semana
    maria

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  10. Um dos momentos da nossa Historia que sempre me emocionou.
    Destacam os túmulos, quanta beleza! Como tudo aquilo que se faz com amor.
    Bom trabalho!
    Um grande abraço

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  11. Obrigada, Duarte! Nada que se compare com as suas riquíssimas reportagens!!

    Beijinhos

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