Porque hoje foi mais um dia de
chuva, recolhi um poema de 2011 escrito por um poeta e artista de várias outras
artes contemporâneo – José Carlos Barros.
chove mais uma vez
oiço lá fora o barulho da água a correr nas caleiras
a espalhar-se nos passeios de cimento
estou na sala da casa da
minha avó
passo a ponta dos dedos pela gravura
japonesa da tampa da
caixa de costura
há um único livro
a velhice do padre eterno
os versos do meu pai em folhas quase
transparentes
chove mais uma vez
a infância é um pássaro aceso nos ramos das árvores
um território de meteoros incendiados
numa bacia de plástico
com água
da chuva
(in «Rumor», 2011)
E, a propósito da sua referência
ao livro «A Velhice do Padre Eterno»
de Junqueiro, lembrei a excelente (e arrasadora) crónica de Baptista-Bastos ontem no DN, que zurzindo a imagem angelicamente pungente e a prestação hipócrita
do pequenino ministro Mota Soares nas celebrações dos 500 anos das
Misericórdias, recita de cor e em paralelo, parte do tremendo poema recolhido no
livro de Junqueiro, «Os Parasitas»,
que também aqui deixo.
«No meio duma feira, uns poucos de palhaços
Andavam a mostrar, em cima dum jumento
Um aborto infeliz, sem mãos, sem pés, sem braços,
Aborto que lhes dava um grande rendimento.
Os magros histriões, hipócritas, devassos,
Exploravam assim a flor do sentimento,
E o monstro arregalava os grandes olhos baços,
Uns olhos sem calor e sem entendimento.
E toda a gente deu esmola aos tais ciganos:
Deram esmola até mendigos quase nus.
E eu, ao ver este quadro, apóstolos romanos,
Eu lembrei-me de vós, funâmbulos da Cruz,
Que andais pelo universo há mil e tantos anos,
Exibindo, explorando o corpo de Jesus.»
OI GRAÇA!
ResponderEliminarTE VI EM OUTRO BLOG E LEMBREI QUE NÃO NOS VISITAMOS JÁ FAZ TEMPO. ENTÃO AQUI ESTOU PARA TE DAR UMA BOA NOITE E TE PARABENIZAR PELO POST.
ABRÇS
http://zilanicelia.blogspot.com.br/
Desde há uma hora até amanhã à noite, vamos passar por neve molhada (já começou), chuva... muita chuva, com possibilidades de trovoada para esta noite, depois a temperatura desce e teremos mais neve; sei que a temperatura subiu ou vai subir para 4 positivos, para descer de novo (abaixo de zero) e subir (não sei quando) para 7 positivos.
ResponderEliminarHaverá algum poema que se refira a estas condições metereológicas num só dia/noite? : )
faltou ali um "..e.."
ResponderEliminarDificilmente, Catarina...
ResponderEliminarNão desesperes! Já só fala um mês para a Primavera chegar!
Beijinho
Tb acho! : )
ResponderEliminarBjos
Boa poesia. Junqueiro. Nao lhe ponho os olhos ha um ror de anos, mentira, decadas. Que soneto perfeito!
ResponderEliminarQuanto ao homem da mota, tera ido pedir perdao pelos pecados. Mas nao ha perdao sem arrependimento. Nao lhe adianta nada comprar indulg|encias e queimar cera porque vai direitinho ao inferno.
Percebo, pelos comentários, que ninguém foi ler a crónica de Baptista Bastos.
ResponderEliminarGuerra Junqueiro, nunca me perdoaria se eu o não tivesse feito...
(mesmo depois de a ter lido no DN)
Bom, a crónica do BB já a tinha lido. O poema do G. Junqueiro é que não. Bem haja, pois, Graça, por tê-lo posto à disposição dos seus leitores. Isto sim, é serviço público.
ResponderEliminarO Francisco tem razão: eu não conhecia a crónica.
ResponderEliminarMuito interessante a associação de BB e Guerra Junqueiro.
Mordazes, satíricos, de ironia cáustica, relatam as verdades como ninguém!
No entanto, na minha opinião, considero a expressáo do título e conclusão da crónida, infeliz, porque se atingimos o grau zero da ignomínia, ela simplesmente, não existe!
A partir do zero, será positiva ou negativa.
Deveria constar, "o grau máximo de ignomínia", juízo que subscrevo.
Esse Mota Soares impressionou muita gente porque andava de vespa.
ResponderEliminarO senhor ministro?
De vespa?
Que moço tão prendado!
Saiu dali uma boa m#$%da!!
Beijinhos e votos de bfds!!
Gosto muito da poesia de José Carlos Barros. Quanto a Guerra Junqueiro, um poeta tão esquecido, é sempre e cada vez mais actual. Obrigada pela partilha.
ResponderEliminarBeijos.
Fiquei quieta a ler... obrigada por esta partilha.
ResponderEliminarBom fim de semana.
Beijinho
Guerra Junqueiro Tão atual que poder-se-ia dizer que ele previu o futuro. José Carlos Barros, não conhecia. Obrigada pela partilha.
ResponderEliminarUm abraço e bom fim de semana
valha-nos o Junqueiro e o Batista Bastos para zurzir os novos vendilhões do Templo.
ResponderEliminare o poema - como um raio de Sol...
beijo