domingo, 19 de maio de 2013

Palavras

Palavras

Talvez uma nuvem encubra o sentido
das palavras; e as esconda do mundo
que elas pretendem representar; ou
lhes dê o rumo vago do horizonte.

Então, a palavra adquire a forma
da  nuvem, e obscurece a frase
com o seu contorno cinzento, quando
o outono nasce da sua melancólica entoação.

Porém, há palavras que nos enchem
do branco das nuvens estivais, com
a sua solidão impressa no centro do céu.

Não preciso de escolher as palavras
quando elas passam por mim, como
nuvens, e me indicam o sentido da vida.

(29.12.2004)

Era de Românicas mas foi meu colega nas teóricas de Introdução aos Estudos Linguísticos e de Literatura Portuguesa I – cadeiras exemplarmente regidas pelo nosso muito querido Professor Lindley Cintra – lá nos longínquos idos de sessenta na Faculdade de Letras de Lisboa. Impossível esquecer-me dele, naquele seu modo tímido e (pseudo)apagado no Anfiteatro I apinhado com todos os alunos das Românicas e das Germânicas, sentados pelas escadas e nos parapeitos das janelas… E quando o Professor punha uma questão para o ar a que ninguém respondia porque não sabíamos ou porque não nos atrevíamos já que nesse tempo não estávamos preparados para responder nas aulas, o Professor chamava docemente: «O Júdice…» e ele, sereno, talvez algo encabulado, levantava-se e dizia aquilo que era preciso ser dito.


Foi também serenamente e sem alarde que, num dia desta semana foi agraciado com o Prémio Rainha Sofia de poesia ibero-americana, o qual foi atribuído apenas uma vez antes a outro poeta português – a admirável Sophia.



                                    Parabéns, Nuno! O Júdice. 

 

8 comentários:

  1. Parabéns por teres tido como colega alguém assim!

    Além dele e de Sophia, só mais um poeta de língua portuguesa recebeu este prémio: Joã Cabral .

    Fico orgulhosa com esta atribuição, que coloquei num dos meus grupos do facebook.

    Boa semana, menina.

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  2. Parabéns de pé e com aplausos!

    Abraço para ti

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  3. Fiquei feliz ao saber que ele recebeu esse prémio mas que fique bem claro, o que "me obrigou" a vir a Espanha não tem nada que ver com isso.
    Saludos de lá Corunha!
    :)

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  4. O quê? outra vez na passeata, menino Rui?! Há pessoas com muita sorte...

    Besos!

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  5. Como grande poeta, ele devia ter por sentido da vida mergulhar no céu azul nadando com as palavras que o não afundassem num infinito... devia ajudar-nos a detestar um céu enublado e a enjeitar que as nuvens nos indiquem o caminho...

    Talvez faça com que isso aconteça, num outro poema...

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  6. A melhor de todas as palavras ele a escolheu - humildade - como seu melhor e mais digno troféu. Parabéns!
    Bj. Célia.

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  7. Um prémio muito bem atribuído e
    foi de certeza muito bom para si
    ter tido o Nuno como colega.
    Desejo que esteja bem.
    Um beijinho
    Irene Alves

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  8. Um troféu digno!
    Aplaudo de pé.

    beijinho e uma flor

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