O incansável Eduardo Lourenço, professor e filósofo, grande pensador e ensaísta português completa hoje 90 anos. Data que, no dizer de José Carlos Vasconcelos no Editorial do JL dedicado a este "escritor de ideias", "é festiva a diversos títulos, a começar pelo facto do grande ensaísta continuar em pleno labor e em plena atividade criadora. Assim o vemos a participar e intervir nas mais diferentes iniciativas, a falar sobre múltiplos temas, sobretudo em Portugal(...)" bem como no estrangeiro.
Para registar a data e, de alguma forma, celebrar o seu enorme talento, socorro-me de parte do excelente texto de Guilherme de Oliveira Martins "Que saudade no labirinto?" sobre a sua forma de pensar e de ver a realidade portuguesa e europeia.
«Lembremo-nos do que escreveu
Eduardo Lourenço em «Nós e a Europa – Ou as Duas Razões»: «Povo com larga
memória espontânea e cultivada de si mesmo, nação com definição política,
territorial e cultural de muitos séculos, Portugal não parece exemplo particularmente
interessante dos fenómenos, hoje tão angustiosos para outros povos, comunidades
ou continentes inteiros, de “crise de identidade”. Nós pensamos saber quem
somos, por ter sido largamente quem fomos, e pensamos que nada ameaça a coesão
e a consistência da realidade que constituímos». Daí a «hiperidentidade»
detetada pelo escritor, centrada numa «quase mórbida fixação na contemplação e
no gozo da “diferença” que nos caracteriza». As fragilidades ligam-se ao fazer
das fraquezas forças. E vem à lembrança a analogia com o povo judaico, com uma
diferença: Portugal não espera o Messias, o Messias é o seu próprio passado,
convertido na mais consistente e obsessiva referência do seu presente, podendo
substituir-se-lhe nos momentos de maior dúvida sobre si ou constituindo até o
horizonte mítico do seu futuro». Não por acaso, Eduardo Lourenço descobre em
Fernando Pessoa, muito para além do que alguns quiseram ver na «Mensagem», a
essência da multiplicação e a capacidade de ver de dentro e de fora, abarcando
o mito na sua heterogeneidade: «a poucas nações se aplicaria tão bem, como a
Portugal, a imagem do navio-nação e melhor ainda a de “nação-navio”, pela
identidade de destino e o projeto que encarnou, deslocando-se no espaço e no
tempo, mas tão sempre a mesma na diferença apenas apreciável que a História vai
constituindo». E há ainda o paradoxo, que não pode ser esquecido, de uma
sublime vocação de não-identidade dos portugueses («aptos a ser tudo e todos»,
caso em que «não seríamos ninguém»). Veja-se, aliás, a atual crise e o certo
regresso a questões de sobrevivência. De novo a imagem da «nação-navio» faz
sentido, ao lado da metáfora do cais de partida e de chegada. E Eduardo
Lourenço ainda acredita na lógica cosmopolita, do universalismo autêntico
(agora relembrado, pela reedição de «A Chave dos Profetas» do Padre Vieira),
capaz de fazer «ressuscitar, como Novalis o sonhou, uma outra-Europa, onde não
triunfem apenas instâncias obscuras, sem outra ideologia que a da gestão do
“ouro do Reno” wagneriano, convertido em deus do coração humano. Sem a música
do génio para redimir tão sinistros atores do nosso destino coletivo. Sempre
era uma consolação» (Público, 24.11.2012). Vamos, apesar de tudo,
conhecendo-nos melhor, e pondo a vontade no lugar próprio, em vez do fatalismo.»
Gracinhamiga
ResponderEliminarSou um verdadeiro fã do nosso Eduardo Lourenço, com quem falei por várias vezes. Além do mais é um Homem simpático, bom conversador e cultíssimo.
Agora volto a outro assunto: estou muito triste porque tu me abandonaste, nunca mais fizeste um comentário, nem nada. Que se passa? Se te ofendi, se te tratei mal, desculpa. Mas creio que não o fiz...
Assim sendo, só te posso rogar (se calhar, de joelhos...) que vás à nossa Travessa e deixes lá um comentário. Muito obrigado
Qjs
Henrique
É um dos maiores pensadores contemporâneos, mas o seu aniversário passou-me Obrigado pela lembrança.
ResponderEliminarPS: o teu comentário sobre os túbaros recordou-me uma anedota que já agendei para domingo :-)
Chegar-se aos 90 e com essa garra filosófica toda... realmente é pra poucos! Bela lembrança e homenagem, Graça!
ResponderEliminarBjs. Célia.
Um grande pensador .
ResponderEliminarA única vze que ouvi uma coferência dele foi e, Lisboa na Academia das ciências, se me não engano.
Infelizmente, foi um desastre porque se perdeu completamente no tema , alongou-se demasiado e , no fim, Adriano Moreira teve que pedir a evacuação da sala e chamar uma ambulância para levarem Eduardo Lourenço para um hospital, já que não se estava a sentir nada bem.
Uma felicidade chegar aos noventa anos, que continue com saúde e lucidez.
Um abraço para ti.
Um pensador e comunicador de cinco estrelas!
ResponderEliminarTambém me passou o seu aniversário!
Abraço
Bem merece os nossos parabéns.
ResponderEliminarUm grande pensador sem dúvida! e que bonita idade!
ResponderEliminarBjs