segunda-feira, 2 de julho de 2012

As fortificações de Elvas

Desculpar-se-me-á a ignorância, mas vi, no ano passado, pela primeira vez, numa das páginas interiores do Diário de Notícias, um pequena fotografia que me atraiu imenso pelo inusitado: um forte em forma de estrela com uma povoação dentro. Fui ler com atenção e vi tratar-se do Forte da Graça em Elvas. A notícia era como que um lamento sobre o estado de quase abandono e degradação em que se encontravam as fortificações da cidade – que eu conheço há anos, mas cuja vista aérea nunca me tinha passado pelos olhos – já que a edilidade não tinha meios para a manutenção das mesmas, enquanto os governos centrais, pelos respetivos Ministérios da Defesa, como que ignoravam aquele monumento que entretanto tinha já apresentado a sua candidatura a património mundial pela UNESCO, em 2007. Recortei a notícia – como faço a muitas outras – para, quando viesse a propósito por qualquer motivo, escrever sobre o assunto aqui neste espaço.

Forte da Graça ou de Lippe -
obra prima da arquitectura militar Europeia do séc. XVIII, mandado construir por D. José, para completar o sistema defensivo de Elvas numa colina 2 Km a norte de Elvas.


Há dois ou três dias, porem, não se fala de outra coisa e estão todos muito contentes! A UNESCO reconheceu as fortificações de Elvas como o 15º espaço português Património Mundial. Agora são elogios que saltam de boca para boca: «É um sucesso para Portugal, um sucesso para Elvas e é um reflexo do respeito que Portugal tem, em termos internacionais, em matéria da defesa do seu património» disse o presidente da Comissão Nacional da UNESCO. 

«Elvas triunfou com um forte consenso e ultrapassando dúvidas do comité de património da UNESCO. Isso significa que Portugal fez um trabalho diplomático de alta qualidade, demonstrando, país a país, voto a voto, os méritos da candidatura», afirma Paulo Portas.

Como disse Shakespeare, all  is well that ends well… e isso é que interessa! Espera-se agora é que terminem as birras e as turras entre a autarquia e o Ministério da Defesa a ver se se entendem quanto à recuperação dos monumentos. É que se trata de uma fortificação abaluartada, com cerca de dez quilómetros de perímetro e uma área de 300 hectares: a maior do mundo no género! Foram classificadas todas as fortificações da cidade, os dois fortes, o de Santa Luzia, do século XVII, e o da Graça, do século XVIII, três fortins do século XIX, as três muralhas medievais e a muralha do século XVII, além do Aqueduto da Amoreira.

Um pouco de História:

Povoação anterior aos romanos e implantada num local privilegiado estrategicamente, Elvas integrou definitivamente o território de Portugal com o rei D. Sancho II, em 1228.

Zona de fronteira desde o séc. XII devido às vicissitudes da História, foi fortemente marcada pela sua função militar, o que a torna hoje um verdadeiro museu de fortificações de várias épocas. 



Elevada a cidade por D. Manuel I em 1513 e sede episcopal de 1570 a 1881, em Elvas realizaram-se casamentos ilustres que selaram alianças ibéricas, como o dos futuros reis D. João IV com D. Luísa de Gusmão Medina-Sidónia e o de D. José I com D. Maria Ana Victória, Infanta de Espanha.

O centro histórico da praça-forte de Elvas é abraçado pelas imponentes muralhas seiscentistas que desde então defenderam o país da invasão estrangeira. Exemplo notável da primeira tradição holandesa de arquitetura militar, estas muralhas desenhadas pelo jesuíta holandês Cosmander, juntamente com os Fortes da Graça, de Santa Luzia e os fortins, fazem de Elvas o maior conjunto de fortificações abaluartadas do mundo.



 (Importante construção abaluartada do séc. XVII, obra-prima da arquitectura militar. Tem forma de um polígono irregular com 12 frentes, 7 baluartes e 4 meios-baluartes. Do sistema defensivo da praça de Elvas, fazem parte os fortes de Stª Luzia e da Graça e os fortins de São Pedro, de São Mamede e São Francisco.)

Porta da Muralha

Forte de Santa Luzia

Aqueduto da Amoreira

Castelo de Elvas 
mandado reedificar em 1226 por D. Sancho II, sofreu modificações e aumentos nos reinados de D. Dinis, D. João II e D. Manuel. A torre de Menagem foi reconstruída em 1488.


Ponte da Ajuda 
estabelecia a ligação entre Elvas e Olivença. Edificada no séc. XVI, 
foi destruída por motivos de estratégia militar, há cerca de 300 anos.




9 comentários:

  1. Bom, uma boa notícia, para variar! Mas também nunca tinha visto uma panorâmica aérea sobre a fortificação (falta um i no título), obrigada pela imagem. :)

    E esperemos que se entendam de vez, sim!

    Beijocas, Graça!

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  2. Agradeço esta lição de arte e história. O monumento é muito bonito visto na sua totalidade(vista aérea)

    O desleixo e a incompetência são pratos fortes em alguns governos que nomeiam amigos para cargos públicos sem os mínimos conhecimentos nem vontade de fazerem alguma coisa pelos pelouros que estão na sua dependência.
    Uns dias dizem que não há dinheiro e arrastam a degradação dos imóveis.
    Outros prometem mas nada fazem....

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  3. Estimada Amiga Graça Sampaio,
    Conheço a cidade de Elvas desde criança, ainda lá tenho familiares.
    O Forte da Graça serviu durante imensos anos como prisão militar, conheço bem o local, visto ter la ido imensas vezes visitar meu saudoso pai.
    Elvas é sem dúvida alguma a cidade mais fortificada de Portugal.
    Quando lá ia passar férias via o estado em que as mulharas e não se encontravam ao abandono, já que a autarquia nada fazia para presevar esses locais alegando ser da competência do Ministério da Defesa, assim se dizia.
    O Forte de S, Luzia esse era o que se encontrava mais abandonado, mas o tal Portas, que está cá por estas zona, lá meteu as cunhas e Elvas é hoje Património Mundial da Humanidade, é assim já....
    Alguns monumentos em Macau foram igualmente considerados Património Mundial da Humanidade.
    Abraço amigo

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  4. Curiosamente, o Grupo Pestana, há uns anos proprietário das Pousadas de Portugal, decidiu, ao atropelo da sensibilidade e bom senso, fechar no inicio deste ano a Pousada de Sta Luzia, em Elvas que era, simplesmente, a histórica primeira Pousada de Portugal. Neste momento está fechada, abandonada à sua sorte, à beira do saque - como já aconteceu a outras - a qualquer momento...
    Eu diria... dá Deus nozes a quem só quer dentes de ouro.
    Um beijinho, Graça

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  5. Nunca este país dá valor ao que tem nem o conserva.

    Triste mas este reconhecimento é positivo. No fundo trata-se da História de um Povo que construiu a História de todos os Povos.

    Beijo

    Laura

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  6. Neste tempo de rapinanços,eu,no teu caso, não divulgaria esta matéria.Mais coisa,menos coisa tens aí o papelinho para pagares o IMI do Forte da Graça Kinkas

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  7. Pobre país que nem sabe aproveitar o que tem ...e tem tanto!!

    Bolas, é só olhar aqui para o lado e ver o que Espanha faz em matéria de turismo!!

    Um abraço.

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  8. Conheces Almeida? A muralha também é em estrela. Vale a pena ver.

    Boa postagem. Parabéns.

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