quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Quando o Chiado ardeu





A zona do Chiado foi, desde a minha infância até muitos anos depois de vir viver para Leiria, o meu local de compras: a loja de fazendas Souza, a loja de fazendas e primeiro pronto a vestir de que me lembro, o Aguiar, o Paris em Lisboa, o Ramiro Leão, os Tecidos do Carmo, as sapatarias Hélio, as excelentes discotecas (lojas onde se vendiam discos, entenda-se!) Valentim de Carvalho, a Sassetti, as livrarias Bertrand, Sá da Costa, Portugal e, claro está, os Armazéns Eduardo Martins que tinham tudo! Curiosamente, o Grandella e o Chiado nunca foram dos meus preferidos.

E, faz hoje precisamente 23 anos, (quase) tudo isto ardeu. Todos os anos me lembro de estar, como era habitual, a passar o nosso querido e sossegado mês de Agosto na casinha do Galo em S. Pedro de Muel e de começarmos a ouvir as tristes notícias pela televisão de que a Baixa de Lisboa estava a arder. Eu e a minha mãe – duas grandes apaixonadas de Lisboa – não despregámos mais os olhos da televisão e chorávamos – eu, pelo menos chorei que me fartei, que a minha mãe era tão forte e tão dura consigo que só me lembro de a ver chorar perdidamente pela morte repentina do meu pai – até nos entrar pela porta dentro a chorar a nossa amiga Clotilde – outra amante incondicional de Lisboa – que se juntou a nós a ver as dolorosas imagens das labaredas que lambiam e engoliam todas as nossas boas memórias daquela zona colorida e viva que animou a vida cinzenta que se viveu no nosso país nos temos de 50, 60, 70.


 
Era assim


E ficou assim



 
Todos os anos, neste dia, tudo isto me vem à lembrança e ainda sinto uma certa tristeza.

9 comentários:

  1. Entre a amargura de ver arder o Chiado e o que se passou, depois, com a sua (lenta e hesitante) recuperação, não sei o que me fez mais doer o coração. Se tal acontecesse após o terramoto, ainda hoje a baixa pombalina estaria em ruina...

    ResponderEliminar
  2. Na penúltima vez que estive em Lisboa, entrei no Chiado pela primeira vez. Não me disse nada. Apenas outro centro comercial como tantos outros que conheço. Convivi com alguém que lá trabalhou e cuja vida se transformou profundamente depois do incêndio. Ainda hoje, quando a visito, esta senhora recorda os anos durante os quais lá trabalhou. E recorda com muita saudade.

    ResponderEliminar
  3. Estava eu na Nazaré onde tinha casa na altura( e que estupidamente vendemos cansados das neblinas)...saí de manhã para ir ao pão e ouço em primeira mão pela voz cantada/ chorada de uma nazarena a trágica notícia.
    Depois foi correr para casa, acordar filhos e marido que ainda dormiam, ligar a televisão e ficar ali, de coração apertado, a ver tudo a ser engolido pelas chamas!
    A casa que melhores recordações me traz e que continuo a visitar é a Bertrand!
    Adoro aquela livraria!

    Abraço

    ResponderEliminar
  4. Estimada Amiga Carol,
    Embora seja alentejano e nunca tenha vido em Lisboa, fui imensas vezes à zona do Chiado, e lá fazia as minhas compras.
    Assisti através da televisão a esse horrível incêndio, que defez uma das partes mais nobres de Lisboa.
    Passei pelo local anos depois e vi a total transformação.
    Tal como a nossa amiga Rosa dos Ventos, ia frequentemente à livraria Bertrand, ao largo de Camões e toda a zona periférica, local esse que me traz imensas recordações.
    Parabéns por nos fazer reviver esses momentos belos e igualmente o trágico.
    Abraço amigo

    ResponderEliminar
  5. Lembro-me bem... nessa altura estava eu "a arder" no B.C.P., aquilo era fogo por todos os lados, como no Chiado...

    ResponderEliminar
  6. Antes de mais, quero deixar aqui o quanto compreendo a perda sentida pela morte da Ritinha e do desaparecimento do Socas (ainda não apareceu?).

    Estes momentos do incêndio do Chiado ficarão para sempre na memória dos que vimos, num dos directos da RTP da época, aquelas chamas monstruosas a destruírem, num ápice, uma das zonas mais emblemáticas de Lisboa.

    Cenas macabras que nos marcaram para a vida.

    ResponderEliminar
  7. Não moro em Lisboa. Estou a cerca de 300km mas , quando lá vou, procuro manter-me afastada da zona.

    Ainda guardo as imagens do incêndio e há poucos dos espaços que recordo.

    Beijo

    ResponderEliminar
  8. Querida Carol, quando vou à nossa Lisboa, dou sempre um saltinho a esta Baixa, tão emblemática para nós e cada vez gosto mais, da sua cara lavada!
    Beijinhos e bom fim de semana.

    ResponderEliminar
  9. Como sempre, o Rogério cheio de razão. É bem verdade que a recuperação foi dolorosamente longa.

    Mas, pelos vossos generosos comentários, a Baixa/Chiado foi (e ainda) é um espaço mágico para muitos de nós. Aquela Bertrand é de facto um ícone, mas onde eu gostava mesmo de ir era à Sá da Costa!

    Obrigada, António, elas suas palavras tão queridas.

    Quanto ao Rui, que esteve a arder no BCP... espero que as queimaduras não tenham deixado marcas...

    Beijinhos para todos.

    ResponderEliminar