sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Estamos quase, quase lá!





A grande notícia que, em letras grandes, sobressaía na primeira página do jornal diário que costumo ler dizia: “Pobres vão receber remédios grátis em final de prazo”. E depois lá vinha o anúncio do Programa de Emergência Social que o governo apresentou hoje.

Chocou-me o uso da palavra pobres tanto quanto serem-lhes destinados os remédios em final de prazo. Sei – sabemos todos – das enormes dificuldades por que milhares de famílias estão a passar. Sei – sabemos todos – que a grande maioria dos idosos vivem em condições que não lembram a ninguém. Sei – sabemos todos – que centenas de crianças chegam às escolas mal alimentadas e com carências de vária ordem. Mas vamos “atirá-los” todos de novo para aquela margem de lá do rio que separa os “remediados” dos “pobres”? E o que é que (ou quem) vai identificar os “pobrezinhos”?

De repente vieram-me à memória os atestados de pobreza que, nos idos de 50 e de 60 do século passado, eram outorgadas pelas Juntas de Freguesia – pelo senhor Regedor que conhecia toda a gente e era um “homem de bem” – às pessoas, a seu pedido, para terem direito a certas “caridosas” benesses (básicas, diga-se). Eu sei do que falo porque a directora (pessoa muito abastada e genuinamente generosa) da escola em que a minha mãe foi professora durante quase trinta anos em Sintra, ofereceu, até aos fins dos anos 60, uma “sopa dos pobres” – era assim chamada esta caritativa benesse – a quem apresentasse o respectivo atestado de pobreza.

Agora são os medicamentos em final de prazo, depois serão os restos– sim, restos – das comidas, o pão rijo que não se vendeu no dia, os alimentos também em fim de prazo, etc. etc.

Repugnante, não é? Desculpem, eu acho! Mas também, o que se poderia esperar de um governo já de si bem de direita que entrega a pasta da Segurança Social ao partido da coligação que ainda se encontra mais à direita – extrema direita? – que terá todas as preocupações menos as de considerar que os “pobrezinhos” têm todos e os mesmos os direitos dos restantes de nós?

15 comentários:

  1. É o que acontece no Brasil,também,a gente,aqui se revolta com as "desigualdades" e o Governo vive nos roubando,cobrando impostos altíssimos e o que recebemos desses impostos,do nosso dinheiro?Nada.
    Sou professora e sofro com essa situação...vejo a fome dos menos favorecidos.
    Governo brasileiro é só corrupção, roubalheira.
    Abraços do Brasil, Mery, sou brasileira, mas filha de portugueses, meu pai era do Porto.

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  2. Olá Carol.

    Gostei deste teu post.
    Lembro-me bem dos atestados de pobreza passados pelo Regedor. Da maneira que isto vai, vai haver certamente muita pobreza, principalmente a pobreza envergonhada, aqueles que nunca se viram em situações tão difíceis, provocadas pela falta de trabalho.

    Beijinhos

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  3. O Estado Social dá lugar à caridade organizada. A formula é antiga e aqui bem denunciada. Tudo suportado e até teorizado pelo "pensamento único" que vai governando o Mundo, imundo...

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  4. e revoltante, que as politiquices, e as promessas sem realidade possivel, que foram sendo empurradas por endividamentos extremos nos tenham levado a isto

    Bjihos
    Paula

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  5. Querida Carol, existem algumas palavras que me fazem lembrar os tempos da outra senhora: pobres, caridade, sopa dos pobres... Incomodam-me e relembram-me que os valores, estão em plena regressão!

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  6. ...sempre fica um cheiro de podre no ar das elites!! Se uns são pobres de pão; outros tantos de espírito real solidário e humano. Gostaria e muito de ver "a elite" sobrevivendo das migalhas de supostos "planos políticos" para salvaguardar a espécie humana!É revoltante! Brasil também corre pelos mesmos "veios" da indignidade social. Abraço, Célia.

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  7. E não serão esses que mais precisam que votam nestes senhores, que agora lhes atiram os restos sem préstimo? Tão pouco mudámos em trinta e sete anos...

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  8. Triste sina!
    Mas não é nada com que não contássemos...:-((

    Abraço

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  9. Estes "novos tempos" lembram-me esta "velha" canção do José Barata Moura - "Vamos brincar à caridadezinha"...

    http://www.youtube.com/watch?v=VDNjIuY1Z2w

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  10. Carol
    Os atestados de pobresa ainda existem, são passados na Junta da Freguesia, até se consegue a quem não tem nada de pobre. esse é o grande problema é que certas pessoas conseguem obter e desfrutar de coisas que outras precisam muito mais e não as conseguem.
    Beijinho

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  11. Os atestados de pobreza são de facto passados na Junta de Freguesia, a custo zero, naquela em que resido, para fraccionar o preço de custas judiciais, coimas e até outros pagamentos. Para que sejam passados, aos eleitores dessas junta, é necessário que outros dois eleitores idóneos testemunhem que a pessoa que pretende o atestado está em condições de o obter. Se há mentira, não é da junta é de quem lá vai confirmar, o pedido apresentado.

    Continuo a afirmar: Em 37 anos, aprendemos pouco!

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  12. Ao que isto chegou!

    Lá dizia o meu velho amigo Soares, que Deus haja.
    Não se cansava de o dizer, a resmungar da falta de justiça que grassa por este país! E pelo mundo fora, claro!

    Mas que chateia lá isso é verdade, andarmos para trás como o caranguejo, para tempos que julgávamos já passados!
    Entretanto, todos pimpões, os novos senhores desta terra bendita, a distribuírem benesses na hierarquia funcional do Estado pelos rapazes, que tanto os ajudaram a ir para o poleiro, pois então!

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  13. honney,
    Meu país passa por crises há séculos, não que a gente se acostume com desigualdades, ou injustiças socias... nada disso. Mas a gente aprendeu que "não desistir nunca" faz do brasileiro uma pessoa com muita vontade de superar, mesmo que o governo não mereça nossa confiança. Eu acredito nas pessoas, eu acredito que em meio a tanta desigualdade ainda existam pessoas competentes ocupando cargos importante e acredito sim, que há a possibilidade de melhorar.
    Quanto a Portugal, eu lamento muito que a situação tenha chegado a este estado lamentável... mas se serve um conselho: "não desista da luta"
    beijos, Paty

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  14. esta "caridadezinha" não me está a agradar nada, Carol.

    mas com um ministro de direita...

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  15. É isso mesmo! Cheira a caridadezinha...
    "Vamos brincar à caridadezinha!" (J. Barata Moura)

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