A grande notícia que, em letras grandes, sobressaía na primeira página do jornal diário que costumo ler dizia: “Pobres vão receber remédios grátis em final de prazo”. E depois lá vinha o anúncio do Programa de Emergência Social que o governo apresentou hoje.
Chocou-me o uso da palavra pobres tanto quanto serem-lhes destinados os remédios em final de prazo. Sei – sabemos todos – das enormes dificuldades por que milhares de famílias estão a passar. Sei – sabemos todos – que a grande maioria dos idosos vivem em condições que não lembram a ninguém. Sei – sabemos todos – que centenas de crianças chegam às escolas mal alimentadas e com carências de vária ordem. Mas vamos “atirá-los” todos de novo para aquela margem de lá do rio que separa os “remediados” dos “pobres”? E o que é que (ou quem) vai identificar os “pobrezinhos”?
De repente vieram-me à memória os atestados de pobreza que, nos idos de 50 e de 60 do século passado, eram outorgadas pelas Juntas de Freguesia – pelo senhor Regedor que conhecia toda a gente e era um “homem de bem” – às pessoas, a seu pedido, para terem direito a certas “caridosas” benesses (básicas, diga-se). Eu sei do que falo porque a directora (pessoa muito abastada e genuinamente generosa) da escola em que a minha mãe foi professora durante quase trinta anos em Sintra, ofereceu, até aos fins dos anos 60, uma “sopa dos pobres” – era assim chamada esta caritativa benesse – a quem apresentasse o respectivo atestado de pobreza.
Agora são os medicamentos em final de prazo, depois serão os restos– sim, restos – das comidas, o pão rijo que não se vendeu no dia, os alimentos também em fim de prazo, etc. etc.
Repugnante, não é? Desculpem, eu acho! Mas também, o que se poderia esperar de um governo já de si bem de direita que entrega a pasta da Segurança Social ao partido da coligação que ainda se encontra mais à direita – extrema direita? – que terá todas as preocupações menos as de considerar que os “pobrezinhos” têm todos e os mesmos os direitos dos restantes de nós?
É o que acontece no Brasil,também,a gente,aqui se revolta com as "desigualdades" e o Governo vive nos roubando,cobrando impostos altíssimos e o que recebemos desses impostos,do nosso dinheiro?Nada.
ResponderEliminarSou professora e sofro com essa situação...vejo a fome dos menos favorecidos.
Governo brasileiro é só corrupção, roubalheira.
Abraços do Brasil, Mery, sou brasileira, mas filha de portugueses, meu pai era do Porto.
Olá Carol.
ResponderEliminarGostei deste teu post.
Lembro-me bem dos atestados de pobreza passados pelo Regedor. Da maneira que isto vai, vai haver certamente muita pobreza, principalmente a pobreza envergonhada, aqueles que nunca se viram em situações tão difíceis, provocadas pela falta de trabalho.
Beijinhos
O Estado Social dá lugar à caridade organizada. A formula é antiga e aqui bem denunciada. Tudo suportado e até teorizado pelo "pensamento único" que vai governando o Mundo, imundo...
ResponderEliminare revoltante, que as politiquices, e as promessas sem realidade possivel, que foram sendo empurradas por endividamentos extremos nos tenham levado a isto
ResponderEliminarBjihos
Paula
Querida Carol, existem algumas palavras que me fazem lembrar os tempos da outra senhora: pobres, caridade, sopa dos pobres... Incomodam-me e relembram-me que os valores, estão em plena regressão!
ResponderEliminar...sempre fica um cheiro de podre no ar das elites!! Se uns são pobres de pão; outros tantos de espírito real solidário e humano. Gostaria e muito de ver "a elite" sobrevivendo das migalhas de supostos "planos políticos" para salvaguardar a espécie humana!É revoltante! Brasil também corre pelos mesmos "veios" da indignidade social. Abraço, Célia.
ResponderEliminarE não serão esses que mais precisam que votam nestes senhores, que agora lhes atiram os restos sem préstimo? Tão pouco mudámos em trinta e sete anos...
ResponderEliminarTriste sina!
ResponderEliminarMas não é nada com que não contássemos...:-((
Abraço
Estes "novos tempos" lembram-me esta "velha" canção do José Barata Moura - "Vamos brincar à caridadezinha"...
ResponderEliminarhttp://www.youtube.com/watch?v=VDNjIuY1Z2w
Carol
ResponderEliminarOs atestados de pobresa ainda existem, são passados na Junta da Freguesia, até se consegue a quem não tem nada de pobre. esse é o grande problema é que certas pessoas conseguem obter e desfrutar de coisas que outras precisam muito mais e não as conseguem.
Beijinho
Os atestados de pobreza são de facto passados na Junta de Freguesia, a custo zero, naquela em que resido, para fraccionar o preço de custas judiciais, coimas e até outros pagamentos. Para que sejam passados, aos eleitores dessas junta, é necessário que outros dois eleitores idóneos testemunhem que a pessoa que pretende o atestado está em condições de o obter. Se há mentira, não é da junta é de quem lá vai confirmar, o pedido apresentado.
ResponderEliminarContinuo a afirmar: Em 37 anos, aprendemos pouco!
Ao que isto chegou!
ResponderEliminarLá dizia o meu velho amigo Soares, que Deus haja.
Não se cansava de o dizer, a resmungar da falta de justiça que grassa por este país! E pelo mundo fora, claro!
Mas que chateia lá isso é verdade, andarmos para trás como o caranguejo, para tempos que julgávamos já passados!
Entretanto, todos pimpões, os novos senhores desta terra bendita, a distribuírem benesses na hierarquia funcional do Estado pelos rapazes, que tanto os ajudaram a ir para o poleiro, pois então!
honney,
ResponderEliminarMeu país passa por crises há séculos, não que a gente se acostume com desigualdades, ou injustiças socias... nada disso. Mas a gente aprendeu que "não desistir nunca" faz do brasileiro uma pessoa com muita vontade de superar, mesmo que o governo não mereça nossa confiança. Eu acredito nas pessoas, eu acredito que em meio a tanta desigualdade ainda existam pessoas competentes ocupando cargos importante e acredito sim, que há a possibilidade de melhorar.
Quanto a Portugal, eu lamento muito que a situação tenha chegado a este estado lamentável... mas se serve um conselho: "não desista da luta"
beijos, Paty
esta "caridadezinha" não me está a agradar nada, Carol.
ResponderEliminarmas com um ministro de direita...
É isso mesmo! Cheira a caridadezinha...
ResponderEliminar"Vamos brincar à caridadezinha!" (J. Barata Moura)