sábado, 15 de janeiro de 2011

Camélias



Gosto muito de camélias. Só vi camélias quando fui para Sintra, tinha dez anos. E lá havia muitas cameleiras (ou japoneiras, como se dizia à época) brancas, cor-de-rosa, encarnadas, pintalgadas, simples, dobradas - todas lindas.




Quando vim viver para Leiria, trouxe uma cameleira que plantei no meu micro-jardim e que tantas recordações me traz. Do tradicional Baile das Camélias que tinha lugar na Sociedade União Sintrense, lá mesmo perto da minha casa, todos os anos no dia 19 de Março. A Sociedade tinha (e tem) quase a dimensão dos cinemas tradicionais e, para esse evento,  as suas paredes eram completamente forradas com camélias para receber as centenas de pessoas que se apinhavam para dançar e para ouvir os artistas convidados. Lembro-me de uma dessas noites das camélias nos idos de 60 em que foi convidado o Tony de Matos. Ora eu nunca gostei nada de fado e, adolescente vivaça como era em época de Shadows, de Rolling Stones e de Beatles, não tinha paciência nenhuma para estar a ouvir os fadunchos do Tony de Matos ou de outros qualquer. Por isso, tratei de arregimentar um grupinho de amigos e lá nos pusemos, junto ao palco, a imitar e a gozar  o fadista. Imaginam a vergonha que passámos quando o director da Sociedade, o Sr. Magalhães, nos veio dizer que se não nos calássemos nos punha na rua... Nós queríamos era ouvir os Diamantes e o resto era conversa...

(Os Diamantes Negros, Baile das Camélias, 1966)


As camélias são muito delicadas e duram muito pouco tempo na árvore, caindo dois ou três dias depois de florirem.




O chão cobre-se de camélias o que sempre me traz à lembrança a festa de fim de ano do colégio da Parede onde fiz a 4ª classe e que teve lugar ainda nas antigas instalações do Casino do Estoril (1958). Nessa festa eu fazia o papel de uma velha avó que fazia 82 anos e recebia a visita dos seus imensos netos que, à medida que chegavam, presenteavam a avó com uma música ou dança das várias regiões de Portugal. Havia uns netos que recriavam a velha modinha brasileira "Jardineira" que ainda trauteio enquanto apanho as camélias caídas...




4 comentários:

  1. Também me lembro bem dessa canção:))))Que seria de nós sem as memórias, que nos criam raízes na vida!
    Uma braçada de camélias para ti:))

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  2. Lembro-me perfeitamente desse Baile das Camélias, e até como o TONY estava vestido, com o seu impecável fato branco. Se foste para "partir a louça" e gozar com o homem, foi mau. Deixa dizer-te, que ele nesse dia nem queria vir, pois já tinha feito duas sessões de Revista no Parque Mayer, e só veio porque era empregado do Vasco Morgado, e este lhes colocava estes trabalhos de borla no percurso, dispensando-nos os seus artistas a titulo gracioso. Hoje já não há disso, até o Baile das Camélias é uma pálida amostra daquilo que foi.
    Esta música tocava-se no Carnaval, nas marchinhas brasileiras, junta com tantas outras do género.

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  3. Ó Gato Preto, podes ter toda a razão quanto ao "frete" que o Tony de Matos lá foi fazer, e a sua disponibilidade, mas que queres? A malta tinha 16 ou 17 anos e queria era ouvir-vos tocar! Aquela vossa versão do "Satisfaction" era de loucos! Nós queríamos era dançar até cair para o lado, não queríamos ouvir fadunchos...
    Obrigada, Justine! Um cesto de camélias também para ti e para quem tem a pachorra de me ler...

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  4. Pois eu gosto de camélias, de fado e das músicas que referes...
    Não considero Tony de Matos um fadista, era mais um cançonetista cujas canções nada nos diziam...
    Não mando um abraço de camélias porque não as tenho no meu mini-jardim mas mando-te...

    Bisous

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