(imagem retirada de Rio das Maçãs)
Ouvi um dia destes na televisão um médico que falava sobre educação - toda a gente manda palpites à educação; é quase como com o futebol... – repetindo aquela frase completamente gasta “É preciso devolver a autoridade aos professores!”
Quase se me arrepiam as unhas dos pés quando oiço dizer isto. Ninguém alguma vez retirou autoridade aos professores. As circunstâncias e a sociedade é que se alteraram completamente. Não me lembro de nenhum decreto-lei que tenha sido assinado por qualquer administração que nos dissesse que “de agora em diante os professores não podem ter este ou aquele comportamento para com os alunos”. As crianças é que começaram a ter de vir todas, quero dizer, com todo o tipo de educação para a escola o que, aos poucos, foi alterando a relação pedagógica professor-aluno também ela beliscada pela necessária massificação ao nível dos professores.
A educação dada pelos pais às crianças foi ganhando outros contornos pela abertura nas relações familiares, por influência da abertura do país depois do fechadismo obscurantista da nossa longa ditadura, por influência dos meios de comunicação, pela adesão cega, por parte de pais e de professores, a novas correntes educacionais, por influência (ai no que eu me vou meter!) dos psicólogos.
De um momento para o outro, as crianças vêem-se com todo o poder nas mãos e exercem-no! De um momento para o outro, elas quase passaram a ter só direitos e muito, mas mesmo muito poucas obrigações e deveres. Recordo sempre aquela anedota que se contava do homem que nunca tinha comido uma perna de galinha porque, quando era miúdo, a perna de galinha era sempre para o pai e agora, em adulto, a perna passara a ser sempre para o filho!
A falta de regras em casa – e assiste-se muito a esse fenómeno – leva a que as regras da escola e das aulas nada digam às crianças. E, perante isso, que pode o professor fazer? As crianças respondem aos professores e têm com estes os comportamentos que têm para com os pais. Tal como era há trinta ou quarenta anos atrás. A minha autoridade como professora foi sempre a mesma desde quando comecei a dar aulas em 70. Nunca, até ao final da minha carreira, me vi coarctada na minha autoridade por nenhuma ordem superior. Mas quando, nos anos 70/80, tinha trinta e tal alunos nas aulas, podem ter a certeza que estavam muito mais sossegados e atentos do que há meia dúzia de anos, quando tinha à volta de vinte. Eles agora não se calam, não se sentam, não estão atentos, não se interessam…
“Devolver a autoridade aos professores”?! Gostava que o senhor doutor médico e os outros críticos do(s) governo(s) me definissem “autoridade dos professores”…
Eduquem-se antes as crianças! Com regras. Com passagem de responsabilidade, com passagem de valores, com a assunção pelos pais do seu papel de pais.
Se alguém retirou autoridade aos professores foram os próprios, na sua maioria.
ResponderEliminarCom a preciosa ajuda dessa espécie de sindicalista (Mário Nogueira) que tudo fez para "jogar" com a classe, em seu proveito.
Muito haveria e há para falar deste tema que é quente. Mas há muita gente que deveria estar calada e quase só diz bacoradas.
Subscrevo o que dizes!
ResponderEliminarE mais nada!
Eduquem-se os pais para serem pais a sério!
O acto educativo é um fenómeno altamente complexo sujeito às influências sociais, políticas, económicas e culturais de uma sociedade e como qualquer pessoa, em algum momento da vida, já teve uma atitude educativa, mesmo não tendo filhos(do género: não mexas nisso que te magoas), qualquer um acha que sabe muito sobre o assunto. Um médico a opinar sobre educação faz o mesmo serviço que eu a receitar aspirina para a dor de cabeça. Só lastimo que não haja canal que me pague para isso.
ResponderEliminarSe cada macaco se preocupasse só com o seu galho, como tudo seria mais fácil...
Primeiro:
ResponderEliminarParabens pelo texto. É inteligente na argumentação e na crítica.
Segundo:
Parabens por escrever uma frase com as palavras "professor" e "autoridade"...lol
Terceiro:
um prazer ler-te.
Não falando da "autoridade" dos professores do antigamente (não todos), autênticos trauliteiros (e eu que o diga), exerciam o pânico, o medo, o terror até, em vez da autoridade.
ResponderEliminarJá aqui escrevi isso, fico em brasa quando ouço dizer que um aluno bateu no professor, fez isto ou aquilo, que se portou mal, lembro-me sempre da pancada que eu levei (e foi tanta), nunca faltando ao respeito a nenhum professor, era apenas um mau aluno.
Absolutamente de acordo quando comparas a tua ex-profissão com o futebol, onde toda a gente dá palpites e tem a mania que vê mais que o treinador, mas este país de cegos, tem especialistas em oftalmologia em cada um dos seus cidadãos, esta malta sabe tudo, por isso é que estamos neste lindo estado.
Agradeço os vossos comentários sobre este tema tão complexo e de tão difícil solução. Obrigada, M., não mereço!
ResponderEliminarÉ verdade, Observador, os nossos sindicatos, quero dizer, os nossos "sindicaleiros", enfim, são uma miséria!
É verdade, Gato Preto, no nosso tempo, a autoridade era imposta à pancada. Será isso que as pessoas querem, quando dizem para se "devolver a autoridade aos professores"?!
Permita-me, Carol, uma achega.
ResponderEliminarTive professores "à moda antiga". Talvez porque o respeito fosse mútuo, nunca nenhum docente foi trauliteiro nem sequer prepotente.
Limitavam-se a cumprir o sei papel de co-educadores, enquanto os alunos cumpriam os seus deveres adequadamente.
Ah! Mas nesse tempo, os pais eram verdadeiros pais.
Já vi que este observador quer festa!
ResponderEliminarAlém de lampião, é provocador!
Não lhe vou passar cartão nenhum, vai ficar a falar sozinho.