segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Amizades


(Praia da Foz do Lizandro)

  
Hoje faz anos uma amiga de infância. Da minha infância porque, quando a conheci eu tinha apenas dez anos, mas ela já tinha dezasseis! E nestas idades nota-se muito a diferença! Andávamos no mesmo colégio, só que, enquanto eu estava no 1º ano do liceu ela estava já no 6º ou no 7º, prestes a ir para a faculdade.

Já não a vejo nem sei nada dela há mais de trinta anos, mas todos os dias 6 de Setembro me lembro dela. Muito. Gostei tanto dela como se minha irmã fosse, uma irmã que nunca tive. Brincámos muito, tivemos muitas coisas em comum, deixámos que se estabelecessem imensas cumplicidades entre nós. Ela ensinou-me muitas coisas e, quanto mais não fosse, ajudou-me muitas vezes a “suportar” o difícil feitio da minha mãe.

Tinha, à época em que a conheci, uma vida complicada. Vivia com uma tia muito querida que eu também aprendi a amar como minha. Atravessaram ambas uns momentos muito difíceis e a minha mãe que, não obstante ter um feitio severo como convinha a uma professora primária da época, era um coração de manteiga quando via a pessoas em dificuldades, trouxe-as para nossa casa, onde ficaram a viver durante alguns meses.

Foi uma época de grande felicidade para mim, menina filha única, a viver num enorme casarão no sopé da Serra de Sintra, apenas com o pai e a mãe. Passeávamos todos juntos, íamos à praia todos juntos, aprendemos as duas a nadar sozinhas no rio da praia do Lizandro, lá para a Ericeira. Lembro-me de chorar incessantemente quando as nossas amigas, tia e sobrinha, conseguiram arranjar uma casa para elas que não distava da minha cem metros...

Os anos foram passando, ela foi para a Faculdade de Ciências – lembro-me de lhe passar os apontamentos a limpo e copiar outros, que ainda não havia fotocopiadoras... Mudou a vida, reconquistou o namorado que se tinha afastado um pouco na altura das dificuldades, casou e fez a sua vida já afastada de nós.

Vim para Leiria, chegou a vez de ser eu a afastar-me da minha querida Sintra e de tudo o que eu gostava lá. Tudo passou...

Há anos, uma “senhora dona” cá de Leiria perguntou-me se eu conhecia a MC. Claro que conheço! Muito bem! Porquê?

“Porque nos conhecemos nuns cruzeiros que fizemos e ela esteve cá, em minha casa, e disse que tinha cá em Leiria uma amiga de infância e disse-me o seu nome...”

Conversas de “senhoras donas”... nem se lembrou de saber onde eu morava...


(Praia da Foz do Lizandro, sem o rio à vista)


7 comentários:

  1. Com que então a fazer jus ao nome do blog!?!? Acho bem! Boa continuação (como sói agora dizer-se, a torto e a direito e em jeito de despedida).

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  2. Pois! Eu cá sou assim e nunca o escondi de ninguém....

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  3. Pelos vistos, ela foi mais importante para ti do que tu para ela... Foi uma oportunidade perdida!
    No ano passado tive a sorte, numa situação idêntica à que relatas, de retomar o contacto, primeiro via mail e depois pessoalmente, com uma colega de estágio que de quem não sabia nada há 38 anos. Foi uma grande alegria. Cada um faz a sua vida, mas os amigos não se esquecem, particularmente quando a amizade se constrói com base na solidariedade. Mas enfim, a minha sorte foi que as intervenientes neste processo não não são "senhoras donas"...

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  4. "Não peças a quem pediu, nem sirvas a quem serviu!"
    Tu não gostas de ditados e talvez seja preciso dar uma "voltinha" ao texto para se entender mas creio que se aplica a essa senhora dona M.C.
    Que se danem as senhoras donas! :-))

    Abraço

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  5. Obrigada pelos vossos comentários, mesmo pelo provérbio. Eu só não gosto de provérbios porque me lembram as redacções que sobre eles tinha de escrever na primária e por casa das moralidades e porque me lembram o tempo do salazarimo - e já não é nada pouco...

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  6. Vê lá se também te lembras de mim que nada tenho a ver com essas recordações! :-))

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  7. Tenho um palpite que é gente que eu conheci!...
    Este relato faz-me lembrar aqueles jantares dos alunos da Escola "x", ou da malta da tropa, em que agora está tudo velho, e a amizade ficou lá para trás.
    Amigos para toda a vida, são poucos!
    Bem lembrado o provérbio, porque esse pessoal tem tendência a rasgar essas páginas.

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