quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Outono

 Hoje é o primeiro dia do Outono. Com a idade passei a gostar muito do Outono. Porém, quando era apenas uma jovem adolescente, lá em Sintra, detestava-o a bem detestar, especialmente o mês de Setembro. No fim de Agosto acabavam-se as idas à praia e, em Setembro começava a tortura das tarefas em casa: levantar cedo, limpar o pó (que horror!) estudar as matérias do ano anterior para ir tudo fresquinho na cabeça quando no dia 1 de Outubro começassem as aulas, hora das leituras – tive de ler tudo quanto foi Condessa de Ségur, Júlio Dinis, os clássicos ingleses, os policiais da Agatha Christie e Ellery Queen, mais ou menos por esta ordem. E, finalmente, hora dos bordados. Imaginem!

Além disso, o tempo era muito diferente naquele tempo: em Setembro já não saíamos sem um casaquinho de malha por cima da blusa de manga comprida. E chovia. Chovia quase permanentemente. Para além do clássico nevoeiro da Serra de Sintra.

(Castelo dos Mouros, Sintra)

Porém, o pior de tudo, é que só quase saía de casa acompanhada, ou para ir requisitar livros à Biblioteca que, à época, era no Palácio de Valenças, à entrada do Parque por onde, sem a minha mãe saber, dava uma voltinha rápida, ou para ir visitar uma amiga ou outra perto da minha casa. Não admira que estivesse sempre ansiosa para que começassem as aulas. Eram a minha doce liberdade. E tinha muitas saudades dos meus colegas da escola.


(Palácio de Valenças, Sintra)

(Parque da Liberdade)

Isto dito assim, parece que vivi no século XIX, mas não. Foi mesmo nos anos 60, imagine-se! É que os nossos anos 60 não foram como os anos 60 do mundo livre! Nesse tempo, cá em Portugal, as mulheres estavam em casa a prepararem-se para ser boas donas de casa. Elas até só tinham de andar na escola até à 3ª classe!

Todos os anos me vêm à mente estas recordações de porcelana. E (re)lembro sempre com alguma nostalgia a velha canção romântica francesa do início dos anos 60 que falava do fim do Verão e do fim dos efémeros namoros de praia tão habituais naquele tempo – Derniers Baisers pelo conjunto Les Chats Sauvages.

Era essa canção que, nos meus parcos passeios de Setembro pela Vila Velha, mais frequentemente ouvia, no Setembro de 63, a ser ensaiada na Sociedade pelos meus “queridos” Diamantes no início dos inícios da sua carreira musical.


6 comentários:

  1. Querida Carol
    Talvez por ter uma irmã mais velha muito prendada, fui educada mais em liberdade...
    Não aprendi a bordar, nem no colégio onde estive interna conseguiram essa proeza, não limpava o pó, não aprendi a cozinhar!
    Era uma Maria Rapaz que, sem exageros, estávamos nos anos 60 como dizes, com o beneplácito de um pai permissivo, quebrava muitas regras.
    E quando vinha o tempo de partir para a Nazaré era o máximo!
    "Quand vient la fin de l´été, sur la plage..."
    O que eu namorisquei!
    E depois vivia numa aldeia onde passávamos muito tempo na rua, na brincadeira.
    O facto de seres filha única não te favoreceu mas tu recuperaste bem e depressa! :-))

    Abraço

    ResponderEliminar
  2. Que sortuda, Rosinha!!! A minha mãe que, curiosamente, em jovem também foi uma Maria Rapaz, não me deixava pôr o pé em ramo verde! Mas que eu recuperei depressa, lá isso é verdade....
    Beijo

    ResponderEliminar
  3. Comentário enviado pela minha querida Amiga A.:

    "Que saudades também eu sinto do Outono! Esse Outono dos passeios ao campo, a espreitar as castanhas ainda nos ouriços, mas já gostosas!...Que bom, Graça, ter uma amiga como tu, que tens o condão de me fazer lembrar os Outonos do meu tempo de menina!..."

    A.

    ResponderEliminar
  4. Oh amiga!
    Eu tinha que dar o meu palpite!
    Esta música foi a primeira que nós começámos a assassinar!
    Esta era a música que nós colocávamos aos pretendentes a vocalistas que tivemos antes da resolução de sermos só quatro (mais tarde cinco), mas sempre sem vocalista.
    Sobre o Outono também dizer-te que o vejo com outros olhos que não via antigamente. Ainda sinto a nostalgia dos dias ficarem mais pequenos, mas fico compensado com as cores, sobretudo os castanhos e os dourados.
    Como também já cheguei ao Outono da vida, deve ser essa a razão deste amor novo.
    Sobre as tuas fotos não vale a pena falar, quem não for cá da terra, que se delicie e diga de sua justiça. Não há terra como esta, mesmo com todo o mal que lhe têm feito.

    ResponderEliminar
  5. Olá Carol. Que bela e nostálgica evocação dos Outonos dos anos 60. Natureza, emoções, estudos, preparativos para novo ano escolar. E a música, aquela música que nos ficou nos ouvidos, para sempre!
    Bem me lembro dos "Les gats sauvages", até dos "Diamantes", e aquelas belas canções de Charles Aznavour, Gilbert Bécaud, das eternas baladas e fados de Coimbra...dos bailaricos nas garagens dos amigos, e nas festas em honra dos padroeiros das terras da minha terra...

    Outono, tempo de retorno ao convívio do amigos/colegas de escola (onde estão, por exº o Costa Santos? o Borges? o Carlos Alberto? o Jorge? com quem disputava a primazia à baliza da nossa equipa de futebol? Onde estão, saudosos amigos, será que nos reconhecemos, hoje, se passarmos uns pelos outros???... Que é feito de ti, "grande chefe orelha voadora"?...)...

    Saudades...
    Um abraço de solidariedade, Carol eheh

    ResponderEliminar
  6. É isso tudo, Amigo António! Os bailes. Os saudosos bailes de garagem e em casa dos amigos e até nas "sociedades" onde se juntavam as senhoras "de família" com as filhas... Tão giro! E aquelas música lindas, francesas românticas! Até as músicas dos Beatles eram românticas! E nó estamos cá uns saudosistas! O que hão-de pensar de nós?!....

    ResponderEliminar