Nunca fez as minhas preferências, o fado. Nem sequer com a idade fui aprendendo a gostar mais desta nossa canção tão apreciada em todo o mundo. Mas ontem à noite, calhou assistir por mero acaso a um programa na RTP1, apresentado pelo Carlos do Carmo, no âmbito da Candidatura do Fado à Lista Representativa do Património Cultural Imaterial da Humanidade, que me deixou surpreendentemente agradada.
Tratou-se de uma apresentação séria e despretensiosa de um ponto de vista cultural e histórico, referindo as raízes do fado e os seus primeiros passos no século XX muito bem entremeada pelos aspectos sociais e culturais lisboetas. E sem lamechices! Que foi o que mais me agradou.
Gostei francamente das referências feitas ao quadro O Fado de Malhoa, que foi terminado exactamente há cem anos, em 1910 e que não foi aceite pela sociedade portuguesa da época – o nosso traço cultural de sempre: o que é nosso não é bom; o que não está dentro dos trâmites morais (puritanos e inquisitoriais) não é aceite! Porém, Malhoa não se deixou intimidar pela pequenez de vistas dos seus conterrâneos e percorreu a Europa e a América, onde foi muito bem acolhido. Como (ainda) é costume entre nós, só depois de ser bem sucedido no estrangeiro, o quadro foi reconhecido em Portugal. E até gostei de ver a interpretação do Fado Malhoa, escrito para a fadista Amália Rodrigues em 1947, ainda ela tinha uma voz absolutamente límpida e fresca.
Depois o musicólogo Rui Vieira Nery foi apresentado, com toda a sua sabedoria, a história do fado, o que me agradou imenso porque simplesmente adoro o século XX e a sua história. Foram feitas referências e fomos ouvindo fadistas daqueles tempo que realmente “consolidaram” o fado – Alfredo Marceneiro (de que nunca consegui gostar) que falou de como se cantava e “estilava” o fado; a Sr.ª D. Maria Teresa de Noronha, com a sua voz cristalina e o seu estilo finíssimo (lembro-me de a ver actuar na televisão, em estúdio, como sempre fazia e atrevo-me a dizer que nunca mais apareceu uma voz como a dela!): D. Vicente da Câmara, finíssimo também e com aquela voz melodiosa que lhe fica tão bem!
Um fado que passaram e de que gosto bastante pela música e pela letra – Ó Rua do Capelão (o novo fado da Severa). Deixo-o aqui mas, lamentavelmente, não na voz de Amália.
Fui informar-me e fiquei a saber que o programa, que se chama “Trovas antigas, Saudades loucas” vai ter seis episódios, é transmitido do Museu do Fado e é da responsabilidade de Carlos do Carmo, Rui Vieira Nery, José Parcana e Sara Pereira e vai abordar “os universos temáticos da história do Fado”.
Parece-me que vale vermos os restantes episódios.
O Fado também não é a minha música de eleição, mas há qualquer coisa nele que o torna muito especial ao vivo. As vozes são, muitas vezes, fabulosas. A emoção a rodos. As guitarras e seus virtuosos uma delícia de técnica. O ritmo cola-se. A participação do público nos "lá-lá-lá" e refrões entusiasma. O ambiente global, entre amigos, um copo e um petisco, vale a pena. Prefiro outros estilos, mas Amália, Mariza, Carminho, Carlos do Carmo... são ARTISTAS! Eu gosto!!!
ResponderEliminarSempre gostei de Fado, sei até alguns de cor...
ResponderEliminarHá fados lindíssimos...o Fado é parte integrante da nossa cultura!
Obrigada pela mensagem de apoio!
Vai dar cá uma trabalheira a pôr outra vez tudo em ordem:-((
Ser roubada foi meu fado...:-))
Abraço
Abraço
Bom comentário, Luís! Obrigada.
ResponderEliminarParece que é mesmo, Rosinha! Já foste assaltada, agora isto. É mesmo o teu fado! Não é nada. Infelizmente acontece a (quase) todos.
Beijo
Fiz duas tentativas falhadas para comentar este texto, mas a máquina recusou. Apesar do atraso, não quero deixar de apresentar a minha opinião.
ResponderEliminarSempre gostei de fado, nas suas diferentes formas (castiço, marialva, "nobre", humorístco, etc.), mas como em tudo na vida, não de qualquer um. Até ousei cantá-lo com a minha irmã, em reuniões familiares. A Amália teve um papel fundamental para mim, porque ousou utilizar poesia de qualidade para as letras dos seus fados. Hoje há excelentes vozes, umas mais mediáticas que outras, mas que dão ao fado uma roupagem mais actualizada, sem perder o sentimento que o envolve. Carlos do Carmo, que já é da velha guarda, porta-bandeira da candidatura do fado a património da Humanidade é um dos meus preferidos. Viva o fado! (mas não o "nosso fado" choradinho)