sexta-feira, 14 de setembro de 2018

Lobo Antunes na Pléiade

Fiquei feliz quando, esta manhã, ouvi a notícia de que António Lobo Antunes – o nosso melhor escritor vivo (digo eu) – vai ter a sua obra editada pela Biblioteca Pléiade incluída na coleção que desde 1931 reúne a obra de uma selecionada lista de grandes autores mundiais.

De referir que o único autor português que até hoje teve a sua obra publicada por aquela Biblioteca de referência foi o poeta Fernando Pessoa, em 2001.

O escritor afirma que este “é o maior reconhecimento que algum escritor pode ter". A escolha da Pléiade é dedicada pelo escritor "aos meus amigos, aos meus leitores e ao meu irmão José Cardoso Pires, que esteja onde estiver estará muito feliz". (daqui)




Parabéns ao escolhido pelo seu talento, pela sua entrega, pelo seu valor!

E para falar de Lobo Antunes, chamo aqui o poeta Manuel Alegre que escreveu assim:

«António Lobo Antunes é um dos que sabe, como o poeta René Char, que certas guerras não acabam nunca. Devemos-lhe as páginas que sobre ela escreveu. Mas devemos-lhe sobretudo a revolução literária em que ele trouxe para a escrita a continuação, as consequências, o rasto e o rosto dessa guerra cá dentro. Está nas docas, nos contentores. E nas personagens que trazem dos arrabaldes para o centro uma fala nova. cada uma delas é à sua maneira o regresso das caravelas. Não só os que partiram, mas os que nunca mais terão oportunidade de o fazer.

Do Esplendor de Portugal ao Manual dos Inquisidores ou ao Sôbolos Rios Que Vão às vezes eu não sei se é o António que escreve ou um coro que fala por ele naquela estranha forma de partitura em que se vão transformando os seus romances. Como uma sinfonia de muitas vozes. Dizem alguns que não há história. São os que não percebem que pela pena do António todas as vozes estão a contar a nossa História, ainda que por vezes pareça uma história dos subúrbios que são afinal os arredores da História. Sinais, ecos, rastos de um império e de uma guerra que acabou e não acaba. Se repararmos bem, nós estamos nessas frases, somos essa paródia, falamos nessas falas. E somos esse texto.»

Manuel Alegre, in “Uma outra memória”, 2016



12 comentários:

  1. Justíssima distinção.
    Gostei de o ouvir afirmar, do alto da sua serenidade, que agora será apenas o romance que tem em mãos e mais três. "Depois acabou" - disse, por meio de um sorriso (apenas) adivinhado.

    Beijo

    Lídia

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    1. A ironia em pessoa... Um cérebro daqueles!!!! E não é obrigatório gostar-se da pessoa que ele é. É excelente e ponto!

      Beijinho.

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  2. Lobo Antunes é um escritor... escreveu obra... diz agora...
    que serão mais três, pois o tempo não lhe sobra...

    Como homem, como cidadão é um asco...
    Disse ele de Fernando Pessoa, o outro (e até agora único) ocupante da Pléiade:

    «O livro do não sei o quê [Livro do Desassossego] aborrece-me até à morte. A poesia do heterónimo Álvaro de Campos é uma cópia de Walt Whitman; a de Ricardo Reis, de Virgílio. Pergunto-me se um homem que nunca fodeu pode ser um bom escritor.»

    https://observador.pt/2015/09/25/lobo-antunes-pergunto-me-um-homem-nunca-fodeu-pode-bom-escritor/

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    1. O António Lobo Antunes é livre para gostar ou não gostar do Fernando Pessoa, camarada Rogério!!!

      Essa que, "um homem que nunca fodeu pode ser um bom escritor" é uma pequena provação. O nosso Nobel da Literatura também deu muitos pontapés na *loja de porcelana*.

      Bom fim de semana sem ressentimentos 😘

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  3. Desconhecia Escritor. Adorei :))

    Bjos
    Votos de um óptimo Sábado

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  4. Embora tenha a certeza da qualidade inquestionável de Lobo Antunes, é escritor do qual li dois ou três livros. Idem do Saramago também !
    Falta-me o ar ao lê-los !!!
    Abraço para ti para o Sidónio

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  5. muito bem. concordo e fico feliz.
    o mérito de um grande escritor reconhecido por uma prestigiosa instituição

    beijo

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  6. Sou fã da escrita de Lobo Antunes!
    Há excertos de obras dele que nunca esqueço.

    Beijinhos Graça

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  7. Tinha comentado há uns dias, semanas talvez, o trabalho que a Graça dedicou a António Lobo Antunes. Percebi, de imediato, que se tinha volatizado (não voltei ao post). Mostrou-se, sem tibiezas, apaixonada pela escrita do autor. Fiquei contente. Muitas das pessoas que encontro detestam o autor, particularmente, pela razão aflorada no magnífico texto transcrito de Manuel Alegre :"dizem alguns que não há história"!
    Andam à procura de acção, de efeitos especiais, digo eu, e não percebem peva do dobar do fio, e do desfiar das personagens, da construção dos perfis psicológicos e físicos que vão ganhando consistência ao longo das páginas.
    Para mim, ALA teve o engenho de inventar uma narrativa revolucionária em constante toada poética. Fabulosa!
    Fico contente, também, pela distinção que alcançou. Merecida.
    Parabéns para a Graça.
    Bj.

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  8. Gosto de Lobo Antunes e gosto da sua frontalidade de dizer, sem peias, aquilo que sente.
    Fico contente por ele!

    Beijinhos Graça, bom Domingo.

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  9. Fiquei muito feliz. António Lobo Antunes merece essa distinção. Espero que este país que somos se orgulhe…
    Uma boa semana, Graça.
    Um beijo.

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