Fiquei feliz quando, esta manhã,
ouvi a notícia de que António Lobo Antunes – o nosso melhor escritor vivo (digo eu) – vai ter a sua obra editada
pela Biblioteca Pléiade incluída na coleção que desde 1931 reúne a obra de uma
selecionada lista de grandes autores mundiais.
De referir que o único autor
português que até hoje teve a sua obra publicada por aquela Biblioteca de
referência foi o poeta Fernando Pessoa, em 2001.
O escritor afirma que este “é o maior reconhecimento que algum escritor
pode ter". A escolha da Pléiade é dedicada pelo escritor "aos meus amigos, aos meus leitores e ao meu
irmão José Cardoso Pires, que esteja onde estiver estará muito feliz". (daqui)
Parabéns ao escolhido pelo seu talento, pela sua entrega, pelo seu valor!
E para falar de Lobo Antunes, chamo
aqui o poeta Manuel Alegre que escreveu assim:
«António Lobo Antunes é um dos
que sabe, como o poeta René Char, que certas guerras não acabam nunca. Devemos-lhe
as páginas que sobre ela escreveu. Mas devemos-lhe sobretudo a revolução
literária em que ele trouxe para a escrita a continuação, as consequências, o
rasto e o rosto dessa guerra cá dentro. Está nas docas, nos contentores. E nas
personagens que trazem dos arrabaldes para o centro uma fala nova. cada uma
delas é à sua maneira o regresso das caravelas. Não só os que partiram, mas os
que nunca mais terão oportunidade de o fazer.
Do Esplendor de Portugal ao Manual
dos Inquisidores ou ao Sôbolos Rios
Que Vão às vezes eu não sei se é o António que escreve ou um coro que fala
por ele naquela estranha forma de partitura em que se vão transformando os seus
romances. Como uma sinfonia de muitas vozes. Dizem alguns que não há história. São
os que não percebem que pela pena do António todas as vozes estão a contar a nossa
História, ainda que por vezes pareça uma história dos subúrbios que são afinal
os arredores da História. Sinais, ecos, rastos de um império e de uma guerra
que acabou e não acaba. Se repararmos bem, nós estamos nessas frases, somos
essa paródia, falamos nessas falas. E somos esse texto.»
Manuel Alegre, in “Uma outra memória”, 2016
Justíssima distinção.
ResponderEliminarGostei de o ouvir afirmar, do alto da sua serenidade, que agora será apenas o romance que tem em mãos e mais três. "Depois acabou" - disse, por meio de um sorriso (apenas) adivinhado.
Beijo
Lídia
A ironia em pessoa... Um cérebro daqueles!!!! E não é obrigatório gostar-se da pessoa que ele é. É excelente e ponto!
EliminarBeijinho.
Lobo Antunes é um escritor... escreveu obra... diz agora...
ResponderEliminarque serão mais três, pois o tempo não lhe sobra...
Como homem, como cidadão é um asco...
Disse ele de Fernando Pessoa, o outro (e até agora único) ocupante da Pléiade:
«O livro do não sei o quê [Livro do Desassossego] aborrece-me até à morte. A poesia do heterónimo Álvaro de Campos é uma cópia de Walt Whitman; a de Ricardo Reis, de Virgílio. Pergunto-me se um homem que nunca fodeu pode ser um bom escritor.»
https://observador.pt/2015/09/25/lobo-antunes-pergunto-me-um-homem-nunca-fodeu-pode-bom-escritor/
O António Lobo Antunes é livre para gostar ou não gostar do Fernando Pessoa, camarada Rogério!!!
EliminarEssa que, "um homem que nunca fodeu pode ser um bom escritor" é uma pequena provação. O nosso Nobel da Literatura também deu muitos pontapés na *loja de porcelana*.
Bom fim de semana sem ressentimentos 😘
Desconhecia Escritor. Adorei :))
ResponderEliminarBjos
Votos de um óptimo Sábado
Embora tenha a certeza da qualidade inquestionável de Lobo Antunes, é escritor do qual li dois ou três livros. Idem do Saramago também !
ResponderEliminarFalta-me o ar ao lê-los !!!
Abraço para ti para o Sidónio
Bem merecido!
ResponderEliminarBj
muito bem. concordo e fico feliz.
ResponderEliminaro mérito de um grande escritor reconhecido por uma prestigiosa instituição
beijo
Sou fã da escrita de Lobo Antunes!
ResponderEliminarHá excertos de obras dele que nunca esqueço.
Beijinhos Graça
Tinha comentado há uns dias, semanas talvez, o trabalho que a Graça dedicou a António Lobo Antunes. Percebi, de imediato, que se tinha volatizado (não voltei ao post). Mostrou-se, sem tibiezas, apaixonada pela escrita do autor. Fiquei contente. Muitas das pessoas que encontro detestam o autor, particularmente, pela razão aflorada no magnífico texto transcrito de Manuel Alegre :"dizem alguns que não há história"!
ResponderEliminarAndam à procura de acção, de efeitos especiais, digo eu, e não percebem peva do dobar do fio, e do desfiar das personagens, da construção dos perfis psicológicos e físicos que vão ganhando consistência ao longo das páginas.
Para mim, ALA teve o engenho de inventar uma narrativa revolucionária em constante toada poética. Fabulosa!
Fico contente, também, pela distinção que alcançou. Merecida.
Parabéns para a Graça.
Bj.
Gosto de Lobo Antunes e gosto da sua frontalidade de dizer, sem peias, aquilo que sente.
ResponderEliminarFico contente por ele!
Beijinhos Graça, bom Domingo.
Fiquei muito feliz. António Lobo Antunes merece essa distinção. Espero que este país que somos se orgulhe…
ResponderEliminarUma boa semana, Graça.
Um beijo.