Gosto de ler os textos que o José Jorge Letria vai escrevendo no jornal.
Hoje escreveu sobre a Revolução Russa que faz cem anos que se deu. Achei interessante
mais pela história do pobre embaixador português que a viveu. Como sempre, os nossos
governantes sempre esquecem os seus representantes que se encontram em dificuldades.
Escreve Letria: «No princípio de abril estive em Moscovo por motivos
profissionais e institucionais, na minha quarta deslocação à capital russa
depois do 25 de Abril, e confesso que nada vi nas ruas, no hotel, no metro e
até em espaços museológicos que me fizesse lembrar a comemoração do centenário
da Revolução Russa. O sentido do marketing político e a relação pragmática com
a sociedade de consumo recomendaria uma presença visual mais forte desse
imaginário que reflete mudanças profundas na história da Rússia e do mundo. Mas
fiquei com a sensação, talvez próxima de uma complexa realidade política e
psicológica, de que o país de Putin não se revê na Rússia revolucionária de
Lenine e bolcheviques, embora o presidente seja resultado desse contexto e do
quadro político que ele implantou. (…)
A Revolução Russa ocorreu há um século e contribuiu para mudar o mundo.
Houve um português, o diplomata Jaime Batalha Reis (1847-1935), que a viu de
perto, por ser embaixador em Petrogrado. Estava ali acompanhado por duas filhas
adultas e, sendo republicano, não nutria particular simpatia pela transformação
política operada no país. Não gostou do que viu e viveu. Viu lojas e casas
assaltadas, teve fome e frio e viu assassinatos. Teve medo e disse-o em
português nos relatórios enviados a Lisboa. "Vivo com a família há pelo
menos seis meses em perigo de vida permanente agravada por falta de dinheiro.
Tenho tido fome e frio. Terei de partir inopinadamente com dificuldade. Suplico
a V. Exa. que leia meu último telegrama sobre assunto não respondido e mande
pôr urgentemente à minha ordem no Provincial National Bank Londres pelo menos
mil libras esterlinas extraordinárias."
O seu senhorio octogenário, que fizera parte da corte do imperador, foi
enforcado ao fim da tarde na sala de jantar. Batalha Reis estava exausto e
aterrorizado. Queria fugir e chegar a Lisboa. Tinha 66 anos, em fim de carreira
e chegou a conhecer Lenine, na presença de outros embaixadores, em clima de
grande tensão. Só o jornalista comunista norte-americano John Reed se movimentava
em Moscovo com liberdade e conhecimento profundo, o que lhe permitiu escrever a
obra-prima Dez Dias Que Abalaram o Mundo,
que ainda se lê com emoção e prazer. De Lisboa chega ao diplomata Batalha Reis
pouco amparo e consolo. (…)
Lenine e os bolcheviques triunfaram e o resto é o que a história registou e
que mudou em aspetos tão profundos a relação dos povos em vários continentes.
Estava lá um português, mas de partida, no meio de grande sofrimento.»
Para ler o artigo completo:
Jaime Batalha Reis |
Estive a ouvir o Jaime Nogueira Pinto e o Rúben Carvalho debaterem a Revolução Russa.
ResponderEliminarExcelente, como sempre.
Beijos, boa semana
Sempre fomos "pequeninos". Esta é mais uma estória a somar a tantas outras, que confirmam a História. A nossa, como País.
ResponderEliminarTermino com isto: nunca o sangue fará uma revolução. Dito de outro modo, "não há machado que corte a raiz ao pensamento. A não ser que se extermine a humanidade até que reste um único homem. Mas então tornar-se-á impossível fazê-la.
Apesar de todos os prós e os contras há que acreditar na utopia. É essencial.
Grato pelas palavras amigas que deixou no Mundo.
Bj.
Querida Gracinhamiga I
ResponderEliminarGostei da Transcrição ddo orinal. Mas, onde está o cmentário?
Bjs da Raquel e qjs do Henrique, o Leãozão
Gostei de ler, Graça. Não conhecia a história de Batalha Reis. Como era de esperar o poder nada fez para o ajudar. Em relação à Revolução russa, ela não pode apagar-se da História, apesar dos que não gostam dela e até dos que gostam...
ResponderEliminarUma boa semana.
Um beijo.
Há coisas que não se apagam, simplesmente, por delas não se falar. A RR é uma delas. Gostei de ler sobre a história, triste, desse diplomata português, na Rússia. E gosto de ler Jorge Letria. Muito, mesmo.
ResponderEliminarPena não ver aqui outras opiniões...daqueles que gostam de opinar sobre tudo e todos!
Beijinhos e boa semana, Graça.