«Ou isto ou aquilo» diz a poeta e
eu, na minha pequenez, gosto, concordo. Mas admiro muito quem consegue fazer
isto e aquilo.
No meu constante afã de servir a
(minha) escola fazendo tudo o que havia para fazer – aulas, direção, formação de
professores, coordenação de grupos – e de tratar (e ganhar para) a casa, a
família (ah! Paulo Portas como tu
conheces bem o papel das mulheres! Estás é um pouco desfasado no tempo – uns 50
anitos ou mais!!) não consegui manter-me culturalmente atualizada e deixei
que tantas coisas importantes acontecessem e tantos homens e mulheres de nome
passassem sem que deles quase desse conta. Houvera net nesses idos de 80/90 e talvez a falha não fora assim desmedida.
Um desses ilustres desconhecidos foi o malogrado poeta Luís Miguel Nava de que ouvi falar há
muito pouco tempo numa entrevista na rádio à autora do livro «Maçãs Azuis»,
Edila Gaitonde, a faialense que casou com o nacionalista goês Pundolika Gaitonde, médico-cirurgião formado
em Lisboa e primeiro deputado nomeado para o Parlamento Indiano , após a
anexação de Goa à India.
De novo me surgiu o nome do poeta
na rubrica «A Alma Vagueante» que Mário Cláudio assina às sextas-feiras no DN. No artigo «Nocturno à Beira-Mar», aquele
excelente escritor da actualidade recorda Luís
Miguel Nava no ano em que se cumprem vinte anos sobre a sua trágica morte. De
facto, desapareceu em Maio de 1995, com apenas 37 anos, da forma mais trágica:
foi encontrado morto no seu apartamento em Bruxelas, onde trabalhava para a
Comunidade Económica Europeia, brutalmente assassinado por um qualquer parceiro
de ocasião. (in Wikipedia)
Da sua poesia Gastão Cruz diz: «trata-se da única presença verdadeiramente
forte e diversa afirmada no panorama português dos anos 80.» A sua poesia pode
ser comparada a um vulcão cuja lava irrompe súbita e violentamente do interior
da terra e das trevas (a memória, o corpo e a alma) em forma de pedras e
materiais explosivos em estado sólido. Ainda nas palavras de Gastão Cruz, Luís
Miguel Nava só pode ser relembrado como “um
ser paradigmaticamente livre” e
desmistificador, em todas as acepções: transgressivo, anti-conservador e
crítico.
Deixou uma obra marcada pela
transgressão e pelo excesso mas também pela vulnerabilidade extrema e “desamparadamente humana” de quem assumiu
o “desejo irresistível de se expor até ao
âmago”. É dele o verso: “Desnudar-se
é pouco, há que mostrar as entranhas”.
Talvez isso explique a razão pela
qual ainda hoje esteja por esclarecer o facto de Luís Miguel Nava ser tão pouco
conhecido pelo grande público, apesar da sua imensa qualidade literária.
Ele próprio escreve em “Os nós da
escrita”:
«Escrever é, para mim, tentar desfazer nós, embora o que na realidade
acabo sempre por fazer seja embrulhar ainda mais os fios. A própria caligrafia
é sufocada. Há todavia, um momento em
que as palavras são cuspidas, saem em borbotões, e o sangue e a saliva
impregnam o sentido. É impossível separá-los.»
Deixo ainda um poema seu de que
gosto particularmente:
«As ondas que se encontram
ainda agora em formação no
espírito
dele já não vêm rebentar ao meu.
Por mim não volto a vê-lo,
encontros houve
com ele dos quais a alma ficou
cheia de dedadas.
Já nem sequer dele quero ouvir
falar,
saber que se ele
fosse uma cama estaria por fazer
nada me traz
agora além de desconforto.»
(1987)
Pois (a minha ignorância é grande) não conheço. Fiquei com vontade de saber mais para poder dizer apenas que não conhecia, ainda.
ResponderEliminarDesconhecia por completo...
ResponderEliminarBons sonhos, Gracinha
desgostos de amor
ResponderEliminarquem os não tem?
até os poetas
não importa quem
Especialmente os poetas
Eliminartantas vezes tidos por «patetas»...
Nunca tinha ouvido falar,
ResponderEliminarUm abraço
Nunca tinha ouvido falar,
ResponderEliminarUm abraço
Também não conhecia Luís Miguel Nava, mas gostei do que li e vou pesquisar para me inteirar.
ResponderEliminarParece-me um escritor que gosta de dramatizar a vida, sendo ela já tão trágica.
Agradeço a sugestão e vou tentar saber mais sobre este jovem e malogrado escritor!
"«As ondas que se encontram
ainda agora em formação no espírito
dele, já não vêm rebentar ao meu."
Que desencanto...
Beijinhos com amor pela poesia!
Maravilha, não é?
EliminarGracinhamiga
ResponderEliminarA sorte (e a desdita) do jornalista é encontrar e conhecer meio-mundo- Conheci o Nava e conheço a Edila Gaitondé (é assim mesmo). O Nava era um "bom malandro" como diria o meu amigo Mário Zambujal; a Edila é uma Senhora que viveu uma aventura tramada na Índia e especialmente em Goa.
O Luís Miguel Nava teve uma morte terrível; mas com a vida desregrada que tinha pareceu-me tê-la encomendada... Nunca se conseguiu saber o nome do assassino, pois eram tantos os parceiros que...
O Gastão Cruz que também conheço desde o tempo em que era adido cultural da nossa embaixada em Paris, é um enorme Poeta.
Enfim dizem os espanhóis que el mundo es un pañuelo... E têm razão.
Bjs da Raquel e qjs do Leãozão
Este homem conhece todo o mundo... (já estava à espera que assim fosse...)
EliminarBeijinhos, leãozinho.
Não conhecia, confesso.
ResponderEliminarFiquei a conhecer e gostei.
Beijinhos, bom resto de semana
Aprendizagem sempre!
ResponderEliminarDestaco: “Desnudar-se é pouco, há que mostrar as entranhas”.
Abraço.
Sei que nesse país nosso irmão há muitos estudiosos deste poeta.
EliminarUma poesia muito «em carne viva», poderosa.
Já conhecia o poeta e alguma da sua poesia. Na dilaceração de ser, na sedução imparável do caminho, colocou-se à beira do abismo por onde sopram as tempestades.
ResponderEliminarBelo trabalho, Graça.
Isso mesmo, Agostinho, «colocou-se à beira do caminho» e deixou-se engolir
EliminarObrigada pela palavras sempre simpáticas.
Uma vida e uma escrita, nos limites!
ResponderEliminarBj.
Lídia
Isso mesmo, Lídia. Para além dos limites.
EliminarObrigada por me recordares esse poeta "maldito", incómodo, verdadeiro, inteiro. Só os que obedecem aparecem nas livrarias...
ResponderEliminarÉ mesmo assim, Justine. Um país de «bons alunos»...
EliminarConfesso amiga que também não conheço a obra de
ResponderEliminarLuis Miguel Nava. Vou tentar saber mais coisas sobre
o mesmo. Obrigada pela partilha.
Desejo que se encontre bem.
Bj.
Irene Alves
Também vou procurar Graça, o mundo é tão extenso por todos os lados e sentidos que facilmente precisaríamos de mais umas quantas vidas!
ResponderEliminarparece-me que o caminho desse poeta foi uma constante provocação, até em relação a si mesmo
abraço
... ...
ResponderEliminar~«Ou compro o doce e gasto o dinheiro.
~~ Ou isto ou aquilo: ou isto ou aquilo
~~~ E vivo escolhendo o dia inteiro!»
... ...
~~~~ Gosto muito disto...
~~~~~~~~~~~~~~~ Grande Cecília!
~~~ Beijinho. ~~~~~~~~~~~~~~~
Uma grande senhora da Língua Portuguesa.
EliminarBeijinho
~ Não é a primeira vez que digo isto neste teu espaço...
Eliminar~ Tenho muita dificuldade em apreciar a escrita de mentes perturbadas...
~~~ Boa noite. Bj. ~~~
Feliz por ter contribuído para divulgar mais um poeta daqueles que as nossas Letras escondem...
ResponderEliminarBeijinhos para todos