segunda-feira, 5 de agosto de 2013

O fascismo a bater-nos à porta


Corre pelo Facebook – abençoada janela aberta onde as vizinhas conversam de janela para janela como se costumava e eu vi fazer-se lá na minha terra, Algés, nos longos idos de 50 – e decerto muitos dos meus amigos já se deliciaram a ler, mas não resisto a passar aqui algumas partes deste extraordinário texto que saiu no DN do sábado passado.

Nem sempre leio os textos do provedor do leitor – o jornalista Óscar Mascarenhas – por demasiado longos, mas este realmente não me passou pelo apelativo e por de mais direto título «Poiares Maduro e Lomba sãotão-somente o fascismo a bater-nos ao de leve à porta».
Se não leram ainda, deem uma vista de olhos que merece a pena.

«Aldrabões. Não faço por menos. Mandam as artes e manhas dos artigos de opinião que não se diga logo ao que vem o autor, para manter o leitor agarrado ao prazer do texto. Mas desta vez, iconoclasta como me quero, finto as regras e vou direto ao assunto: os senhores (professores doutores ou doutorandos e mais o que desejarem ser no currículo e na mercearia do bairro) Miguel Poiares Maduro e Pedro Lomba, nos poucos dias que levam de governo, já deram provas de terem sido aldrabões. Não digo que o sejam, que não sou tão pateta e desajeitado que abra um alçapão legal sob os meus próprios pés perante juristas assim ditos tão eminentes: afirmo que o foram. Episódica e admito que corrigivelmente.

E vou mais longe: nos poucos dias em que estes governantes exerceram o poder, o fascismo deu um passo em frente. Nem lhes vou dizer que limpem as mãos à parede, porque podem espalhar a peste, a cólera e a tinha. Lavem-nas, com sabão azul e branco e, de caminho - vão ao banho! (...)

Vejamos quem são estes figurões de que falo - e o leitor trace a opinião sobre o civismo, carácter, ou o que lhe aprouver deles. Miguel Poiares Maduro, ministro, colega de sala de um tal irrevogável Paulo Portas, que preferiu trocar a sua reputação pela salvação da pátria, numa espécie de martírio de Santa Maria Goreti mas ao contrário, no corpinho frágil de São Domingos Sávio que se finou aos quinze anitos. (Este mostra-se mais resistente, sinal de que o Senhor hesita em chamá-lo para junto de si, transferindo o ónus para a tolerante e inexcedível bondade de Cavaco Silva, sempre bem aconselhado pela sua nunca por demais citada esposa, não eleita pelo voto mas calculo que pelo coração de uma cabina telefónica cheia de portugueses, pelo menos!) Paz às almas! Miguel Poiares Maduro, igualmente colega de carteira de um tal Chancerelle Machete que, de ainda mais maduro, se atascou na podridão, ipsis verbis, de uma coisa que dá pelas siglas de SLN e BPN e o qual, diz o WikiLeaks, tem uma reputação tão elevada junto dos americanos que, quando eles quiserem fazer qualquer negócio em Portugal, não duvidarão em consultar certo escritório de advogados porque, como dizem os ianques naquela língua-de-trapos, every man has his price e... money is no problem. Gostaria patrioticamente de estar enganado, mas, em diplomacia, o que parece... é o que diz o WikiLeaks. O outro: Pedro Lomba, colega de Agostinho Branquinho, a criatura que não sabia o que era a Ongoing e teve de ter emprego na Ongoing para perceber o que é a Ongoing. E ser colega de tal figura é coisa para se trazer ao peito, com orgulho, como um broche de bom latão.

Os dois, Poiares Lomba e Pedro Maduro, são herdeiros - com pouco jeito - de Miguel Relvas, que, com muito menos estudos do que eles, lhes deu lições de como fazer política nestes tempos.

Pois os colegas de Portas, Machete e Branquinho - e aprendizes de Relvas - deram-se à missão de gerir a informação ao povo, através dos jornalistas, prometendo briefings diários que duraram dois dias e que retomaram agora, com a honradez da palavra que os caracteriza, em encontros diários duas vezes por semana, não sei se o leitor entende. (...)

Aqui é que estes grandes educadores dos jornalistas aldrabaram. Começaram por dizer - ponho no plural porque tão aldrabão foi o secretário de Estado que disse, como o ministro que mandou dizer ou, pelo menos, não o desautorizou - que os briefings com os jornalistas seriam umas vezes em on - isto é, podia dizer-se quem disse o quê - outras vezes em off (que na sabedoria analfabeta do secretário de Estado e do ministro não sei de quê nem interessa se convertia numa figura nova em que suas excelências expenderiam umas quantas patacoadas espremidas dos seus notáveis bestuntos e os jornalistas papagueá-las-iam, mas sem dizer quem esvurmou tais pústulas de sabedoria). E disseram, ex cathedra, que era assim que se fazia em Inglaterra. Aldrabaram. (Vês, Pedro Tadeu, que há uma palavra ainda mais forte do que "mentiram"? Quando a falta à verdade é rasca e torpe, a palavra é "aldrabice".) Os briefings em Inglaterra são sempre atribuídos ao PMS (Prime Minister Spokesperson), isto é, ao porta-voz oficial do primeiro-ministro, pessoa conhecida e identificada - e as respostas são sempre factuais, nada de divagações onanistas de ministros ou secretários de Estado fala-barato armados em palestrantes.

E, com esta aldrabice, intrujaram: no segundo dia de briefing, levaram uma conceituada jornalista da rádio a reproduzir todos os vómitos e regurgitações opinativas do ministro ou do secretário de Estado, atribuindo-os sempre a "fonte do Governo". Intrujaram a jornalista, que, eventualmente, por temor reverencial ou mau conselho, se esqueceu dos seu dever deontológico de não reproduzir comentários sem identificar a autoria. (...)

Mas não se fica por aqui a impertinência e a incivilidade destes dois cavalheiros: mais recentemente, o ministro Maduro esticou-se nas pontas do pés, esganiçou--se e verberou jornalistas sobre as perguntas que deveriam ou não fazer!

Mas quem é ele?

E, pior do que isso, porque é que não houve nenhum jornalista presente que dissesse a Sua Impertinência que lhe cabe responder ou não às perguntas dos Senhores Jornalistas (com maiúsculas, perante tão vulgar e efémero ministro) e não dizer-lhes o que devem ou não perguntar?

Aviso solene aos jornalistas do Diário de Notícias - e estou seguro de ser levado a sério: manda o nosso Código Deontológico, no seu ponto 3, que "o jornalista deve lutar contra as restrições no acesso às fontes de informação e as tentativas de limitar a liberdade de expressão e o direito de informar. É obrigação do jornalista divulgar as ofensas a estes direitos."

Venham os Poiares Pedros ou os Lombas Maduros que vierem, jornalista do DN que se acobarde perante este fascismo com pés de lã, pode ter a certeza, à fé de quem sou, que fica com o nome num pelourinho de cobardolas que prometo expor aos leitores. Porque é dos direitos dos leitores que estamos a falar. Enquanto estiver nesta casa e nela tiver voz, o fascismo não entra de esguelha.

Estamos a viver tempos perigosos. Em Espanha, o alegado recebedor por baixo da mesa Mariano Rajoy proíbe que se fotografe, que se grave, não sei mais quê. Em Itália, é o que sabe do império Berlusconi (ou é Burlesconi?). Na Grécia, silencia-se a televisão e mesmo com ordens do tribunal não se reabre.

O fascismo anda por aí. É bem visível no ovo da serpente.

Já não há a Europa da liberdade: somos governados por filhos de Putin.

Inúmeros filhos de Putin.

Cabazes de filhos de Putin.

Em Portugal, os devotos de Putin, discípulos de Miguel Relvas, condiscípulos de Agostinho Branquinho e quejandos chamam-se, entre outros, Miguel Poiares Maduro e Pedro Lomba, lamentáveis expoentes de um passado que parecia inconformista e rebelde, transformados num estalar de dedos em esbirros da política da mordaça, assim que os convidaram a sentar-se num mocho cambaio a metro e meio da mesa do orçamento com direito a côdea bolorenta.(...)»



15 comentários:

  1. Bom, não tinha lido, mas concordo com o jornalista inteiramente. Quem é ele para dizer aos jornalistas o que devem perguntar? Sua Impertinência, só pode! Clap, clap, clap! :)))

    O que vale é que enquanto existirem jornalistas sem papas na língua, estas criaturas pardacentas não conseguem os seus intentos! :)

    Beijocas!

    ResponderEliminar
  2. Tive um fim de semana alucinante e não li nada...
    Agora percebo o meu parceiro quando me disse que voltámos a ter uma espécie de "conversas em família" mas com perguntas!
    O que vale é que, por enquanto, ainda podemos dizer mal deles e desmascará-los!

    Abraço

    ResponderEliminar
  3. Perderam a vergonha,perderam o tino.
    Está tudo "grosso".Antecipava Ivone Silva,vai para 30 anos.

    ResponderEliminar
  4. Ai conseguem, conseguem, Teté! Vão conseguindo... E o pessoal vai permitindo. Tudo!

    Por enquanto, dizes bem, Leo!

    Está tudo "grosso" e os juízes até já acham bem...

    ResponderEliminar
  5. Já tinha lido. Aos poucos vai-se fechando o cerco... e o gado nem se apercebe.

    ResponderEliminar
  6. Um texto a justificar a mais ampla divulgação.

    ResponderEliminar
  7. O Provedor do Leitor do DN, deu-lhe forte.
    Já tinha lido e achei que vale nora máxima.

    ResponderEliminar
  8. Infelizmente as pessoas estam distraidas com o circo demais, para dar conta

    Bjinhos
    Paula

    ResponderEliminar
  9. Li o texto no sábado e, obviamente, gostei, aplaudi e concordei. Apenas um senão...
    Óscar Mascarenhas é Provedor do Leitor do DN e não devia ocupar aquele espaço para escrever o que escreveu. Perdeu um pouco de autoridade como Provedor, o que lamento, porque desempenha bem o lugar.

    ResponderEliminar
  10. Gracinhamiga

    Antes do mais uma ADVERTÊNCIA

    Trabalhei anos a fio no "Diário de Notícias" com o Óscar Mascarenhas de quem sou admirador e amigo. Tenho muito prazer e orgulho de termos juntado os nossos esforços para tentar fazer um DN tão bom quanto fosse possível.

    Salvo a imodéstia, julgo que se não traçámos uma secante quanto a esse objectivo,teremos - de certeza - chegado à tangente; mas, penso que conseguimos mais. Ou seja secantámos muito mais do que tangentámos

    (Como a transcrição foi longa, o comentário quiçá enferme da maleita)

    Considero o Óscar um dos mais brilhantes Jornalistas (com maiúscula) da sua (nossa) geração. A sua Tese de Mestrado é um Livro Sagrado que todos os que fazem Informação (também com caixa alta) deviam ter à cabeceira, para lerem umas páginas antes de dormir. E pensar no lido.

    Este texto é um dos mais importantes e esclarecidos que se publicaram face ao que se está tragicamente a acontecer quotidianamente. Os senhores que nos tentam aldrabar são, decorrentemente, aldrabões

    Óscar Mascarenhas tem razão. E, ao contrário do que pensa e escreveu a cima outro meu amigo, o Carlos Barbosa de Oliveira, ele tem todo o direito enquanto Provedor do Leitor de alertar este, melhor dizendo, estes para não caírem nos embustes destes senhores Maduro & Lomba.

    Quer isto dizer que, (apesar de o não fazer todos os dias, o que me deixa triste, pois este DN tem muito pouco a ver com o que nós fazíamos, o que não me agrada), leio invariavelmente os textos do Óscar, enquanto Jornalista e simultaneamente Provedor do Leitor.

    O facto de ser amigo do Óscar... amigo, não me embota o cérebro, se é que o tenho. Pelo contrário, como os amigos são para todas as ocasiões, neste contexto solto um brado de alerta: cuidado malta, o fascismo não anda por aí; está por cá! Ou, pelo menos, há Poiares & Pedros que são disso bons (???) executantes.

    Resumindo: estou, uma vez mais, com o Óscar Mascarenhas, Jornalista e Amigo! Cuidado com ele... que tem ferrão e não gosta dos filhos de Put..in.

    Abração Óscaramigo

    Qjs Gracinhamiga e muito obrigado ela transcrição de parte de um texto que, como sempre li de fio a pavio.

    Henrique

    ResponderEliminar
  11. Estimada Amiga Graça Sampaio,
    Com estes filhos de Putin estamos entregues à bicharada!...
    Abraço amigo

    ResponderEliminar
  12. Enquanto os jornalistas poderem por a boca no trambone e não forem obrigados ao silêncio.

    beijinho e uma flor

    ResponderEliminar
  13. Gostei!
    E gostei quando interrompeu para uma chamada de atenção ao Tadeu... Mas o problema é que se vai escrevendo e... consentindo... Falando e consentindo... E não saímos desta ilusão de liberdade apenas por poder escrever e falar...

    ResponderEliminar
  14. Mas que dupla...grandes " estojos".M.A.A.

    ResponderEliminar
  15. Óscar Mascarenhas , tenho-o como jornalista sério e corajoso.

    Maduro, só ouvi falar dele quando chegou ao actual Governo vindo de Florença(de onde jamais deveria ter saído) e fiquei logo com opinião formada ao saber que abandonara a meio uma reunião, acusando os presentes de estarem mal preparados.O que só demonstra arrogância e petulância da sua parte.

    Lomba é de extrema-Direita, mas isso há muito tempo que o demonstrou nas suas intervenções televisivas.

    O texto já o lera e acho que está muito bom.

    Boa semana

    ResponderEliminar