Sabe quem me conhece bem que eu
sou – sempre fui – esquisita. Esquisita com o comer; esquisita com o aspeto das
coisas; esquisita com a forma de fazer as camas; esquisita com as amizades;
esquisita com os gostos em geral. Lembro-me de, jovem adolescente e mesmo jovem
adulta, detestar (quase) tudo e (quase) todos e de a minha mãe, que tinha uma
forma de ser bem austera, me chegar a proibir de usar o verbo «detestar»… Lembro-me
de um colega/amigo com quem há anos trabalhei e bem lá na direção da “minha”
escola diariamente durante dois anos (e que depois se “passou” para a “oposição”
mas que, apesar de tudo, nunca detestei…) me perguntar um dia em tom de
brincadeira: «Mas haverá alguém do teu partido que tu não detestes?!»
Vem todo este introito ao caso
para dizer que sou bem esquisita também com as palavras e com as expressões que
ouço e que uso. Claro que somos todos assim e que a psicolinguística achará
explicação para estas nossas preferências ou embirrações na escolha dos imensos
e variados vocábulos que temos à nossa disposição para usarmos.
Ora uma das expressões com que eu
mais embirro e que detesto ouvir ou ler é o “bom senso”. Para mim, o “bom senso”
não existe. Existe a sensatez, a prudência, o senso até, mas nunca o “bom senso”.
Primeiro porque se trata de uma redundância e depois porque todo o conceito que
vem acompanhado pelos adjetivos “bom” ou “mau” já vem absolutamente carregado
de juízos de valor da pessoa que o profere pelo que não tem qualquer valor
preciso. E, a partir das minhas “análises de conteúdo” caseiras, tenho
concluído que quem mais utiliza esta expressão (e desde já peço desculpa se vou
suscetibilizar alguém) são, entre outras, as pessoas ligadas à direita, à
igreja, os “escuteirinhos” de Massamá e quejandos, ou seja, quem se sente na
obrigação de se mostrar muito bonzinho e, claro está, quem sofre de manifesta falta
de vocabulário.
Agora imaginem a cara com que
fiquei quando hoje fui ler a crónica das 6ªs feiras da Fernanda Câncio, que até
uma mocinha que eu gosto bastante de ler, e me deparo logo a abrir com a minha
mal-amada expressão. Depois, incrédula, lá retrocedi, voltei a ler e concluí
que se tratava de uma citação. E sabem retirada de onde? Do acórdão da Relação
do Porto! É verdade! Mal está a coisa quando juízes, que deveriam ser o mais
objetivos possível e deter-se o mais próximo possível da(s) lei(s), também
apelam (espero que não por falta de vocabulário…) para o dito “bom senso”,
conceito moralista, impreciso, polissémico até mais não, mais maleável e
escorregadio do que uma enguia viva, a fim de dar razão ao homenzinho que estava
trabalhar podre de bêbado. Salazar (infelizmente) cada vez mais na moda: «Beber vinho é dar de comer a um milhão de portugueses!»
(A propósito da questão que
motivou este triste acórdão lembrei-me de uma brincadeira que se contava acerca
de um presidente de uma qualquer sociedade recreativa que terminou um dos seus
discursos em noite de festa da seguinte
maneira: «Cômamos e bêbamos para que esta coletividade próspere!»…)
Esta e outras frases de Salazar nunca serão esquecidas. Não me parece boa política abusar seja do que for.
ResponderEliminarPerfeito ninguém será mas o pior são os defeitos que mais identificam certas personagens .
Pois , bebamos , para abafar a dor e nem reparar em tanta chochice.M.A.A.
ResponderEliminarTambém fui ler o artigo da Fernanda logo pela manhã e registei o facto que ela conta, mas nenhuma imprensa realçou: a empresa não devia ter tido acesso aos resultados da análise.
ResponderEliminarOra isso talvez ajude a explicar a ironia da sentença que, apesar de tudo, obviamente reprovo
Bom fds
Sou dos que poderiam enfiar a carapuça, sobre o uso da expressão "bom senso". Poderia, mas não o faço, porque vou continuar a usá-la. Antes de mais, julgo eu é uma questão de gosto. Não digo de "bom gosto".
ResponderEliminarconcordo plenamente
ResponderEliminarate porque, o bom senso, se existir, depende de quem o esta a julgar
E ja agora, nao, o observador nao gostou so do sorriso ;)
Bjinhos
Paula
Estimada Amiga Graça Sampaio,
ResponderEliminarEssa notícia do acordão do Porto chegou até cá, foi uma bomba, e muita gente anda a dizer que os juízes, sem bom senso devia estar com os copos quando assim procederam.
É assim já embriagada vai a justiça em Portugal.
Abraço amigo
Ontem quando ouvi a noticia na TV parecia anedota, comentei o facto de não reconhecer a (in)justiça do nosso país, anda tudo doido, só pode.
ResponderEliminarbom fm de semana Graça
beijinho e uma flor
Não tenho lido jornais por isso não sei do que falas!
ResponderEliminarDe notícias só soube que há ministros no Algarve a serem guardados por 100 seguranças...
Que falta de senso!
E nós a pagar...
Mas também gostas de muitas coisas e de muita gente, não é? :)
Abraço
Mas não seria importante apurar se ele estava ou não a executar bem o seu trabalho? Imaginemos que naquele dia por qualquer problema excedeu-se na bebida, ou estava com frio ou precisou de energia, e não sendo o condutor, não me parece bem que o despedissem só por ter uma taxa de alcoolémia elevada, sem apurar tudo o demais (mas não li o Acórdão e não conheço o caso).
ResponderEliminarDeixa-me brincar um bocadinho contigo e perguntar-te se não detestas ainda mais o "consenso"...
ResponderEliminarÉ que eu já não suporto ouvir/ler mais a palavra e desde que estou a ler "A Madrinha"( este título do livro de Gertrud Holhler sobre Ângela Merkel foi traduzido para português como "Estratégia Merkel")ainda menos. porque é uma maneira de esbater as diferenças entre Partidos e assim matar a Democracia pois acabar por ficar sem alternativas.
Portugal está doente, minha amiga!
Só assim se compreende o que esses juízes escreveram, a multa bem alta da ASAE porque uma ambulância não tinha o dístico dos não fumadores, a destruição da costa entre Tróia e Algarve, as frases infames de certas criaturas , a apatia face às patifarias do actual Governo CDS/PSD, as sondagens da Católica!
Bom final de semana
Escrevo e como com a mão direita e até a utilizo quando voto à esquerda.. :)e não me importo nada com a expressão "bom senso" que por sinal até está referenciada no verbete "senso" do dicionário Houaiss. Mas compreendo a embirração. Eu tenho outras. :))
ResponderEliminarObrigada, Luísa,pela compreensão...
ResponderEliminarAi São como concordo contigo!... Infelizmente temos muita razão!
É, Leo, há muitas coisas e muitas pessoas com que não embirro... antes pelo contrário.
Beijinhos para todos e bom fim de semana
uns "picos" (de roseira brava) muito bem cuidados...
ResponderEliminargostei muito.
grato pela presença no meu "relógio".
beijo
a expressão "bom senso" não me incomoda, embora eu seja uma pessoa muito mais sensível do que sensata.... :)
ResponderEliminarabraço