Costumo ler as pequeninas crónicas da última página do DN assinadas pelo jornalista Ferreira Fernandes, inexorável crítico da nossa sociedade e da nossa política que, em meia dúzia de palavras, não "as poupa" a ninguém. Considero a crónica de hoje particularmente boa porque, ao contrário do que se usa agora afirmar em toda a comunicação social, tudo o que de mal que nos acontece é por culpa dos políticos, especialmente dos últimos porque são os que estão mais à mão e porque já nos esquecemos dos anteriores, ele descarrega as responsabilidades da nossa situação actual sobre alguns (muitos?) de nós, pondo não o dedo, mas os dedos todos na ferida. Até dói!
Querem ler?
"A todos os bancários com 58 anos que estão há dez anos na reforma. A todos os jornalistas com dentaduras como teclados de piano pagas quase de borla antes que lhes tirassem essa trafulhice. A todos os maus professores que subiram na carreira só porque passaram tantos anos no ensino quanto os passados pelos bons professores. A todos os mestrandos com idade para saber que nunca exercerão o que estudam, mas que vão aproveitando porque entretanto sempre vai pingando a bolsa obtida graças à influência de um familiar. A todos os condutores de Mercedes que o têm porque o seu nível de patamar do emprego diz "direito a carro de classe X", quando a qualidade com que exercem o trabalho seria mais para andar de burro. A todos os autarcas que fizeram obras em casa e não precisaram de pagar por elas. A todos, pobres e ricos, donos de jantes de liga leve e filhos com educação ainda mais leve. A todos os que lá em casa bebem vinho vulgar mas durante a semana, com factura metida na tesouraria da empresa, hesitam entre o Pêra Manca e um Quinta do Crasto Vinha Maria Teresa. A todos os empresários que declaram às Finanças prejuízo e aos amigos declaram que este ano vai ser Maldivas. A todos: obrigado. Ontem, vendo os meus feitores, humildes e com a boina enrodilhada nas mãos, prestando contas à dona alemã da quinta, senti a minha parte da vergonha. Mas a todos, obrigado: graças a vocês sei que há maiores culpados."
Já o tinha lido no FB de um amigo!
ResponderEliminarEmbora concorde com grande parte do conteúdo da crónica, discordo da última parte e passo a explicar.
Vergonha é roubar, o PM ir junto das instituições mais poderosas da UE negociar de forma a não nos afundarmos mais é acto de coragem e demonstra espírito de luta.
Muitos já teriam atirado a toalha ao chão.
Independentemente dos erros que Sócrates e a sua equipa têm cometido, estão a dar tudo por tudo para que o FMI não entre em Portugal.
Afinal a Grécia e a Irlanda ainda não melhoraram nada com isso.
Há que deixar respirar o povo e atacar do lado da despesa do Estado, isso é uma verdade e devem avançar com essas medidas rapidamente.
O que eu não suporto e tu também não, tenho a certeza, são os emproados críticos de bancada, com os bolsos cheios de dinheiro à nossa custa e que contribuíram em grande para a situação aflitiva em que nos encontramos.
Também gostei da resposta do PM às insinuações de servilismo.
Somos como os outros e temos 800 anos de História que nos garantem que havemos também de ultrapassar esta crise!
Acrescento que aprecio bastante este cronista!
Abraço
Aplaudo. A ideia da transcrição desta crónica. E a mensagem, que é bom que haja quem tenha coragem para o fazer!
ResponderEliminarBasta de malhar sempre nos mesmos.
Afinal, o homem do leme só lá está porque os super-homens que por aí pululam, cheios de ideias, sabem bem que não têm pedalada para enfrentar a tormenta!
Gosto muito do FF...Vejo-o como o Ramalho Ortigão dos nossos tempos:)
ResponderEliminarE ele têm quase toda a razão. Eu diria mais: Somos todos culpados. Todos. Por acção ou por omissão...E destes dois actos...nem ouso pensar qual o pior...
Não são todos, eu sei! Mas... bancários, jornalistas, professores, mestrandos, condutores de carros da "dona da quinta", autarcas, pobres e ricos, donos de jantes de liga leve e filhos com educação ainda mias leve, apresentadores de facturas "in" nas empresas, empresários e feitores é muita gente!... Onde é que eu entro? Nos escravos da quinta, claro! Alguém tem que produzir. É a velha história: se tens a sala limpa e não limpaste, alguém a limpou por ti. Já pouco me interessa quem é culpado. Estão mais que identificados. Alguém está disponível para contribuir e ajudar na limpeza? Ou vamos continuar a concordar com tudo o que os outros limpem, desde que nos deixem a nós descansadinhos?!...
ResponderEliminarE acho que ele só não deu mais exemplos porque tinha limite de espaço...é mesmo colocar o dedo na ferida e todos nós - de uma forma mais directa ou indirecta, lesando em mais ou menos dinheiro - temos responsabilidades. E o pior é que não vejo jeito desta mentalidade mudar...Bom Carnaval :)
ResponderEliminarConcordo plenamente contigo, Rosinha. Ainda ponderei truncar a parte final da crónica, mas achei que não devia. Também achei que a atitude não foi de servilismo e também gostei da resposta que o PM deu a essa questão.
ResponderEliminarTens razão, Luís! Têm razão todos em tudo o que disseram. Há que mudar, mas não me parece que isto lá vá com a mudança para o PSD... Parece-me ser mais do mesmo ou pior.
Aprecio a escrita de Ferreira Fernandes.
ResponderEliminarA lucidez que transparece no que escreve, dá-nos uma interpretação "tal e qual".
Recebi da minha amiga A. M.:
ResponderEliminar"Estou tentando entender os nossos políticos!? Esta crónica retrata bem o país que somos!!! E Parabéns ao autor! A "