quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Crónica de uma (re)candidatura anunciada




Conforme “arautizado” (passe o neologismo), o dr. Cavaco lá veio anunciar a sua (re)candidatura. Todo solenidades, todo formalidades. Todo contenção. Que sente que o país ainda precisa dele, que vai gastar metade do orçamento disponível para a sua campanha, que tem experiência, que tem credibilidade, etc. etc.

Com tantos predicados e com tantos conhecimentos de Economia, não se percebe como não conseguiu prever e atalhar a crise que, por acaso e para relembrar às pessoas até é mundial! Evidentemente que o Presidente da República não governa. Quem governa ou desgoverna são os governos. Então para que precisamos de um tecnocrata na Presidência? O “buraco” em que nos encontramos é recorrente na nossa História. Bem vistas as coisas já vem do final dos Descobrimentos, do tempo do D. Sebastião. Mas este “buraco” começou a ser cavado nos finais dos anos 80 quando o dr. Cavaco era Primeiro Ministro.

Não sou capaz de perceber como pessoas inteligentes e vividas, com experiência de vida fora deste “jardim à beira-mar plantado” como são o Dr. João Lobo Antunes e a Maestrina Joana Carneiro (filha do melhor Ministro da Educação que tivemos no pós-25 de Abril) conseguem ser apoiantes incondicionais deste presidente de estatura esfíngica, sem o dom da palavra, sem perfil cultural de nenhuma ordem.

Entendo, porém, que com estas características, com estes discursos tristonhos e sem rasgo, o povo se reveja nele. Diz Fernando Dacosta referindo-se ao povo português no excelente livro “Máscaras de Salazar” que “Pela tristeza atingimos a paz interior, nossa forma de felicidade, de alegria; daí cultivarmos o saudosismo, o romantismo, o messianismo, o fatalismo. Lavamo-nos no choro, deleitamo-nos na desgraça, adiamo-nos na espera.” E é esta tristeza, este dramatismo, este pessimismo, esta resignação compulsiva que nos faz aceitar tudo, até um presidente sorumbático, rígido, que mal sabe sorrir e que acredita que pode ser o paizinho, o salvador da Pátria.

Abençoada crise na qual nos revolvemos com deleite e que está sempre na ponta da língua de todo e qualquer comentador, jornalista ou analista para que ninguém abstraia dela. Faz o nosso género, acalenta-nos a dor e faz-nos esperar por um messias pintado de tímido, de não sofisticado, de honesto, de raiz popular subido a pulso, de ungido de Deus, como o povo gosta e que o vem tirar da desgraça.

É assim que se apresenta o "novo" candidato.

2 comentários:

  1. Que mais nos irá acontecer?!
    Nem sei quem é que me faz mais pele de galinha se ele se a D. Maria... :-))
    Totalmente recuperada, pelos vistos!

    Abraço

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  2. Cruzes, credo! Novo!!!!
    Onde?
    Acho que a esfínge "nunquinha" o foi nem mesmo aos 18 anos.

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