Andávamos a passear por lá num dia de Setembro numa volta grande que fizemos pelo Minho nas férias de 74. A barragem apareceu-nos depois da curva da estrada, imensa, fria e cinzenta. E, lá do outro lado do rio, alargado por força do paredão da barragem, via-se um conjunto de paredes de pedra e de telhados sem telhas que, solitários e silenciosos, imergiam das águas paradas. Foi o encantamento! Sabiamos que havia uma aldeia que fora inundada quando construíram a barragem, mas vê-la ali, na nossa frente, despida, abandonada, imersa num silêncio que parecia gritar-nos: “Olhem! Ainda estamos aqui! Ainda existimos!” foi de mais. A aldeia – fora uma aldeia comunitária de cerca de 250 habitantes a quem deram uma ninharia pelas suas casas e haveres e que tiveram de se mudar para aldeias e cidades vizinhas – tinha sido alagada em 71, tinha passado muito pouco tempo e tudo parecia ainda muito vivo, muito presente. Aquelas imagens nunca mais me saíram da cabeça. Informação escrita sobre o assunto só mais tarde, nos anos 80 por Manuel Azevedo Antunes, professor e sociólogo, filho da terra, uma das últimas pessoas a andar por lá antes da grande inundação.
Este fim-de-semana voltámos lá, mas não deu para (re)ver ruínas míticas. Mas deu para vermos e visitarmos o Museu Etnológico de Vilarinho da Furna no Parque Natural da Peneda-Gerês onde pudemos ver uma impressionante exposição de fotografias e de mobiliário e utensílios da velha aldeia.
Deixo aqui algumas fotografias (peço desculpa pela evidência nas minhas fotos dos focos luminosos sobre as fotografias expostas nas paredes) e o sítio da net onde encontrei mais informação sobre Vilarinho: http://www.serra-do-geres.com/
(O quarto com a arca do enxoval)
(O berço)
(A lareira)
(O forno com o capote de palha à esquerda)
(A arca do pão)
(O tear)
(O arado)
(Utensílios vários)
(Um capote de palha)
(Brinquedos)
(Mais brinquedos)
E, a finalizar, o poema que Miguel Torga escreveu sobre a morte de Vilarinho da Furna.
Requiem
Viam a luz nas palhas de um curral,
Criavam-se na serra a guardar gado.
À rabiça do arado,
A perseguir a sombra nas lavras,
aprendiam a ler
O alfabeto do suor honrado.
Até que se cansavam
De tudo o que sabiam,
E, gratos, recebiam
Sete palmos de paz num cemitério
E visitas e flores no dia de finados.
Mas, de repente, um muro de cimento
Interrompeu o canto
De um rio que corria
Nos ouvidos de todos.
E um Letes de silêncio represado
Cobre de esquecimento
Esse mundo sagrado
Onde a vida era um rito demorado
E a morte um segundo nascimento.
Miguel Torga
Barragem de Vilarinho da Furna
18 de Julho de 1976
Também já lá estive por várias vezes...
ResponderEliminarCheguei a ver as paredes da igreja e de algumas casas mas também houve alturas em que nada se via!
Ainda não visitei o museu...
Tem que ir para a lista!
Com a Aldeia da Luz foi diferente, procuraram recriar uma aldeia igual só que o espaço dos afectos não é aquele... :-((
Abraço