terça-feira, 31 de março de 2020

Chove






Chove. Há silêncio, porque a mesma chuva
Não faz ruído senão com sossego.
Chove. O céu dorme. Quando a alma é viúva
Do que não sabe, o sentimento é cego.
Chove. Meu ser (quem sou) renego…

Tão calma é a chuva que se solta no ar
(Nem parece de nuvens) que parece
Que não é chuva, mas um sussurrar
Que de si mesmo, ao sussurrar, se esquece.
Chove. Nada apetece…

Não paira vento, não há céu que eu sinta.
Chove longínqua e indistintamente,
Como uma coisa certa que nos minta,
Como um grande desejo que nos mente.
Chove. Nada em mim sente…

Fernando Pessoa

12 comentários:

  1. Olá:- Leio em silêncio. Sorrio. Sinto a minha génese poética fascinada com tão maravilhosa leitura.
    .
    Saudações amigas

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  2. Um poema triste do nosso grande Pessoa, mas triste ou alegre é sempre um prazer ler.

    Beijos Graça

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  3. É sempre um privilégio ler Fernando Pessoa.
    Abraço e saúde

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  4. São dias melancólicos, estes. E a chuva acentua essa melancolia.

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  5. Chuva

    aqui Pessoa estava em baixo
    é o que eu acho
    mas, por sua sina
    era raro estar em cima

    E me dizia minha mãe
    "Meu filho, chove sempre
    nos olhos de alguém..."

    E Pessoa sabia
    o que minha mãe me dizia

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    1. Ter uma mãe poeta
      não é para o comum dos mortais...
      E claro que o Pessoa esteta
      Sabia muito de mães...

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  6. Não conhecia.
    Gostei muito.
    um beijinho e uma boa noite

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  7. Chuva, "capacete", humidade.
    Estaria em Macau?
    Beijinhos

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    1. Por acaso, não. É mesmo em Sintra, nos parques da Pena...

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