terça-feira, 24 de abril de 2018

E depois do adeus

Otelo Saraiva de Carvalho revelou-se um estratega capaz dirigindo as operações militares que resultaram na revolução de 25 de Abril de 1974, mas não se pode dizer que a estratégia musical empregue na escolha das senhas da revolução tenha sido delineada de forma igualmente brilhante pelo militar. Quarenta anos depois da revolução dos cravos, Paulo de Carvalho explica à BLITZ que "E Depois do Adeus", o tema com que venceu o Festival RTP da Canção realizado a 7 de março de 1974, esteve para não ser a primeira senha do 25 de Abril: "sei hoje que houve uma reunião no Apolo 70 entre o Otelo, o Costa Martins, que foi Ministro do Trabalho no tempo de Vasco Gonçalves, e o [radialista] João Paulo Diniz [que à altura trabalhava nos Emissores Associados de Lisboa e no Rádio Clube Português]. A ideia do Otelo era que a primeira senha fosse o "Venham Mais Cinco", do José Afonso, mas foi o João Paulo Diniz que o convenceu de que essa canção, de um autor proibido pelo regime, poderia levantar suspeitas. E foi ele também que sugeriu o "E Depois do Adeus", que poderia ser tocado sem fazer soar nenhum tipo de alarme".

Num documento secreto onde se explicava aos comandantes operacionais a estratégia para a madrugada de 25 de Abril, Otelo Saraiva de Carvalho indicava as duas senhas de transmissão radiofónica que espoletariam as operações militares da revolução que se seguiria: "Às vinte e duas horas e cinquenta e cinco minutos (22H55) do dia 24 Abr 74 será transmitida pelos "Emissores Associados de Lisboa" uma frase indicando que faltam cinco minutos para as vinte e três horas (23H00) e anunciado o disco de Paulo de Carvalho, "E Depois do Adeus"". O tema de José Afonso deveria ouvir-se mais tarde: "entre as zero horas (00H00) e a uma hora (01H00) do dia 25 Abr 74, através do programa da Rádio Renascença, será transmitida a seguinte sequência: Leitura da estrofe do poema "Grândola Vila Morena" "Grândola Vila Morena / Terra de fraternidade / O povo é quem mais ordena / Dentro de ti ó cidade"; Transmissão da canção do mesmo nome interpretada por José Afonso".



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18 comentários:

  1. ~~ 25 DE ABRIL SEMPRE!
    BEIJINHOS FESTIVOS
    ~~~~

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  2. Parafraseando alguém que ouvi hoje:

    "Enquanto houver um português a viver em condições sub-humanas, não podemos dizer que a Liberdade e o espírito do 25 de Abril, foi alcançado"

    E ainda existem tantos, Graça, tantos!! :(
    Quem pode pensar em Liberdade e Democracia de estômago vazio e sujeito de ir viver ao relento, debaixo de uma ponte?

    Foi bom sair do obscurantismo da ditadura? Da miséria, do analfabetismo? Claro que sim, indubitavelmente, SIM!... Mas, e 44 anos...«Depois do Adeus» como estamos nós? Sós...muito sós!

    Beijinhos, Graça.
    Desculpa...:(




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    1. Estamos bem melhor do que estávamos antes de 70, Janita! Miséria e pobreza haverá sempre, infelizmente, e em todos os países por mais democráticos e civilizados que sejam.

      Viva o 25 de Abril - apesar disso tudo!

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    2. Estamos melhor, sim Graça. Nem há termo de comparação. E a liberdade maior e mais significativa, é a liberdade de expressão.
      Contava a minha tia Gertrudes que o marido, um dia, apanhou uma carraspana e foi para a Praça da República, em Serpa, mesmo em frente à Câmara Municipal, pôs-se a dar 'Vivas à Russia'. Sem que se soubesse de onde surgiu, apareceu uma ramona e levou-o para Beja. Soltaram-no dias depois porque viram que ele não representava perigo político.

      Vivam pois todas as revoluções que tragam liberdade, igualdade e saibam formar cidadãos conscientes e responsáveis...

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  3. A senha é excelente.
    A Revolução também foi.
    Mas teve excessos que se podiam e deviam evitar.
    E que eu, então com 10 anos, senti na pele.
    Beijinhos

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    1. Todas as revoluções têm excesso como o Pedro bem sabe. Muitos sentimos na pele as suas consequências, mas tantos, tantos sentiram na pela a ausência da liberdade que a revolução, de alguma forma, nos trouxe.

      Beijinho

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  4. Viva a Liberdade que o 25 de Abril nos devolveu!
    Um beijo, Graça.

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  5. Abril sempre. VIVA A LIBERDADE :))

    Hoje, o tema é do nosso Poeta Gil, mas pela sua ausência, aqui estou eu:- Revolução - A criança, o cravo, a G-3 silenciada
    .
    Bjos
    Votos de um bom feriado (Dia da liberdade)

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    1. Obrigada. Lá irei espreitar o seu tema, Larissa.

      Beijinhos.

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  6. sempre bom relembrar esses acontecimentos, Graça,
    já há muitas pessoas das novas gerações que não percebem o que aconteceu,
    que essa data nunca seja esquecida

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    1. É bem verdade, Ângela. Nem fazem ideia do que se passou antes de Abril. Não podemos deixar de lhes passar a mensagem.

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  7. Relembrar esta data com tanta importância para a DEMOCRACIA com belas escolhas só engrandece a homenagem!!!bj

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  8. Em Luanda na altura, só no fim do dia 25 soubemos o que se passava.
    E durante todo o dia, só se ouviam marchas militares.
    Abraço

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    1. Eu estava em Sintra e praticamente aconteceu-nos o mesmo... Ninguém nos dava notícias - uma ansiedade! Um sufoco! Mas, no fim, valeu a pena.

      Beijinho.

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  9. Memórias vivas que não devem ser submersas pelo pó do tempo. Compete-nos garantir a transmissão oral da História, aos filhos e netos, àqueles que vêm a seguir. Parece-me que essa narrativa oral terá muito mais força que as páginas dos compêndios de história.

    Bj.

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