A Batalha de La Lys, travada no
Sul da Flandres em 9 de Abril de 1918, constitui o momento mais traumático da
acidentada participação portuguesa na Primeira Grande Guerra.
Esta batalha insere-se na
investida que a Alemanha desencadeou na Primavera desse ano com o objetivo de
quebrar a resistência dos Aliados e acabar rapidamente com a guerra, buscando
alcançar a vitória antes que os contingentes norte-americanos, que
desembarcavam em França a um ritmo crescente, tomassem parte no conflito.
O novo poder instalado na Rússia,
saído da Revolução de Outubro, logo em Novembro assinara um cessar-fogo e em 3
de Março de 1918 firmara a paz separada com os Impérios Centrais. O exército
alemão agora com uma só frente de luta na Europa, a ocidental, volta-se para a
Flandres e decide a chamada "Operação Georgette” para retomar a cidade de
Ipres e abrir caminho até Calais e Boulogne. É nesta operação que se enquadra o
combate da planície do Lys. As forças militares em presença são, de um lado, a
2.ª Divisão do Corpo Expedicionário
Português comandada pelo general Gomes
da Costa e as Divisões 40ª e 55ª do Reino Unido, e, do outro lado, o 6.°
Exército alemão, com oito divisões em primeira linha, outras quatro em apoio e
mais sete em reserva.
A batalha começa às 4,15h com um
bombardeamento alemão maciço sobre as trincheiras, sobre as primeiras e
segundas linhas de infantaria. O comando português foi colhido de surpresa e
levou algum tempo a perceber que não se tratava de mais um raid. As comunicações
ficaram todas cortadas desde as 4,30h, quer as ligações telefónicas, quer o
telégrafo. A batalha transformou-se numa série de combates locais de iniciativa
dos oficiais subalternos.
Sem comunicações, logo desde o
início cada unidade ficou entregue a si própria sem qualquer direção do comando
e ficaram também comprometidas as transmissões entre a infantaria e a
artilharia que a apoiava. Durante horas de bombardeamento pesado, a artilharia
germânica conseguiu varrer as linhas de abastecimento e as posições da
artilharia, e destruir completamente todas as fortificações da linha de defesa
em frente ao setor português.
Às 7h, as primeiras linhas de infantaria
portuguesa eram "uma massa de escombros, de terra, de revestimentos
despedaçados, amalgamados com os cadáveres das guarnições!"
Pelas 7,50h, os soldados alemães,
a coberto da sua barragem de artilharia e do nevoeiro, saltam os parapeitos das
trincheiras, atravessam a terra de ninguém, e atacam diretamente as posições
defendidas pelos restos dos Batalhões de Infantaria, que os recebem à baioneta
até serem completamente avassalados pela enorme superioridade numérica
contrária, que avança em ondas sucessivas.
Uma hora depois, a Divisão Britânica
começa a retirar, deixando o flanco português desprotegido a norte. Às 9,30h,
as forças alemãs atacam as linhas de separação entre as congéneres portuguesas
e inglesas em ambos os lados. Às 10,30h, os Britânicos da 55ª Divisão, a sul,
avisam que também vão recuar e estabelecer posições defensivas. Assim, as
divisões em que os flancos da Divisão portuguesa se apoiavam "retiravam
para formarem flanco defensivo, deixando aberturas por onde o inimigo penetrou
com mais facilidade".
A partir desta hora começa a
desorganização de muitas unidades, completamente destroçadas, com os soldados
errando desgarrados depois de abandonarem os seus postos.
Muitos são mortos e feridos, e
milhares são feitos prisioneiros. As hostes portuguesas e britânicas não
conseguiram aguentar o embate e cederam perante uma avalanche que chegou a ser
na proporção de dez para um.
Cerca de 400 portugueses morreram
nessa batalha e mais de sete mil portugueses terminaram a guerra em campos de
prisioneiros alemães, onde enfrentaram condições de vida muito complicadas.
O seu desenlace feriu profundamente a alma nacional, chegando a
falar-se de um novo Alcácer-Quibir.
(Texto adaptado de “Batalha de La Lys: um relato pessoal” recolhido e
tratado por Guilhermina Mota. Trabalho completo em:
(Prisioneiros portugueses) |
Um verdadeiro horror.
ResponderEliminarAs tropas portuguesas não estavam minimamente preparadas para o que aconteceu.
Abraço
A guerra é um horror! E nesse tempo, o país era tão pobre, o povo tão miserável, como poderia estar minimamente preparado para uma enormidade daquelas?
EliminarMas ainda assim ficou a memória de um herói.
ResponderEliminarAinda agora ao jantar estive a pesquisar sobre o soldado Milhões, o nome pelo qual ficou conhecido Aníbal Augusto Milhais, o soldado português mais condecorado da I Guerra Mundial. A minha mãe ouviu o seu nome nas notícias e estivemos a pesquisar sobre ele.
Beijinhos em dia de efeméride (triste)
Também li no jornal. Parece que vão fazer um filme sobre esse soldado. Vamos esperar para depois ver.
EliminarBeijinho.
Convém sempre (re)lembrar.
ResponderEliminarPara que a memória não se perca.
Beijinhos
A História faz-se de todas estas e outras lembranças, Pedro. Há que passar o "testemunho"...
EliminarBeijinho.
Muito bem. Adorei a publicação. Parabéns:))
ResponderEliminarHoje:- Estaria mentindo, se a sede não fosse o desejo.
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Bjos
Votos de uma boa Terça-Feira
Obrigada, Larissa!
EliminarBeijinhos.
Vi e ouvi, ontem, no noticiário da manhã, na RTP1, a notícia sobre a comemoração do centenário da Batalha de La Lys. Àquela hora, matinal, o cemitério português de Richebourg, era pequeno para albergar tanta gente que ali aguardava a chegada do nosso PR e do Presidente francês.
ResponderEliminarTive pena de não dispor de tempo para esperar até à chegada dos Chefes de Estado, pois noticiaram que, as dezenas de crianças que ali se encontravam, descendentes de emigrantes portugueses e familiares dos soldados que perderam a vida nessa Batalha, haviam aprendido o Hino de Portugal, para o cantarem quando fosse chegado o momento de o fazer. A palavra que mais lhes custou a pronunciar - disseram - foi "canhões". Senti-me profundamente emocionada, mas não voltei a ouvir nada sobre o acontecimento.
Obrigada, Graça, por nos relembrares a valentia (hoje, meio adormecida) do povo Lusitano.
Beijinhos
Também fui vendo pela televisão. Gosto de tudo quanto tem a ver com a nossa História.
Eliminar(E tens razão: a nossa valentia anda pelas ruas da amargura...)
Beijinhos.
escutei o relato vezes sem conta, sentado nos joelhos de um tio-avô!
ResponderEliminarbeijo
Imagino que deva ter sido bem emocionante! Não tive essa sorte...
EliminarNinguém está preparado para morrer
ResponderEliminarmuito menos inocente
Bj
Concordo em absoluto!
Eliminarbeijinho.
Obrigada por partilhar em pormenor um acontecimento que a História jamais esquecerá!bj
ResponderEliminarAcontecimento bem triste! Mas a História é mesmo assim: feita de momentos bons e outros menos bons!
EliminarBeijinho
Tive um avô que andou por lá e que felizmente sobreviveu !
ResponderEliminarQue sorte ele teve, Ricardo!
EliminarBeijinhos.
Boa tarde
ResponderEliminarAo lembrar-me que o meu avô deixou um diário escrito com um relato da batalha de La Lys, vim à Net e deparei-me com este Blog, cujo relato é idêntico ao do meu avô, só que com outras palavras...