Ao contrário de ontem que evoquei
o nosso Eça para vincar a ideia de que «uma nação só vive porque pensa», hoje deixo
aqui a ideia oposta: porque não falam os que, na nossa nação, pensam. Ideia
muito bem plasmada no artigo «Porque não falam?» de Sérgio Figueiredo no DN de 2ª feira.
Trazendo à nossa presença a
inesquecível conversa de Almada Negreiros com os três criadores do popular
programa Zip-Zip nos anos 60, em que o último poeta de Orpheu vivo explicou
como se formou o grupo «futurista e tudo».
«À pergunta de Cruz "Como
tinha nascido o grupo, com se aproximaram" aqueles intelectuais,
pensadores e artistas, a resposta de Almada: Quando algumas pessoas têm a mesma
desgraça, juntam-se.»
E o jornalista continua: «Não
sabemos qual a desgraça que aproxima os intelectuais de agora. Por onde andam?
Esta elite e as outras? Porque ficaram mudos? Do que se escondem? Quem são os
libertinos do nosso tempo, os diferentes, os corajosos e até os tresloucados
que abalam o estado de graça? (…)
Não há Almada nos ventos que
passam. Nem Natália Correia a chocar os bons costumes, o truca-truca, o
deputado Morgado encavacado, nem Alegre que ninguém o calava e, no final, só se
ficou a ouvir Cavaco. (…)
Temos pintores a pintar,
arquitetos a arquitetar, escritores a escrever, atores a atuar, encenadores e
realizadores, músicos a tocar, mas ninguém a desafinar. A desafiar os sons do
silêncio. Falta-nos Luiz Pacheco, que dizia o indizível. Ou Mário Viegas, que
boicotava o politicamente correto. Artes e Letras, mortes lentas, já nem
corretos são no seu politicamente hoje. Eunucos, consciência cívica zero.
Participação social é um post trivial na página do facebook.
Não é para Julião Sarmento ou
Cabrita Reis dizerem se preferem a coligação ou o Bloco. Não se trata de pedir
a Souto de Moura que comente o discurso do Presidente. Ou a Eduardo Gageiro que
vá fotografar as portas que Abril abriu. Não é preciso saber se Sérgio Godinho
tornou a votar Jerónimo ou não resistiu à barriga prenhe de Joana. (…)
O alheamento das elites
empobrece-nos. Fica mais pobre a sociedade sem pensamento e sem confronto de
ideias. E perde o norte o país em que a elite se resignou. Ou se acomodou. Ou
se acobardou. Ou apenas anda a tratar da vidinha. (…)
Centenário de Orpheu. Fernando
Pessoa. Banqueiro anarquista. República. Monarquia. A quem ouvimos hoje o
atrevimento de gritar: o rei vai nu!?! A elite está amorfa, recolheu-se por sua
livre e espontânea vontade.»
Boa malha,
ResponderEliminarsilenciam-se os que deviam, nesta hora levantar a voz, intervir... Contudo, criar fracturas no eleitorado
é mais possível desde que não se fracture o mercado...
as Editoras
permanecem atentas, no fim de contas
(mas há honrosas excepções)
Tudo orquestrado pelo DINHEIRO! Ao que chegámos!!
EliminarLembro-me bem do programa Zip-Zip de Carlos Cruz, Raul Solnado e Fialho Gouveia. Não me lembro é dessa entrevista a Almada Negreiros.
ResponderEliminarMas lembrou-se o Sérgio Figueiredo e fui lá ler a sua Crónica.
Será que o motivo porque agora os intelectuais se calam, não se unem nem criam um movimento que represente de forma unânime a vontade nacional, porque se acomodaram, porque se desinteressaram e anda cada um a olhar para o seu umbigo ou acham que está tudo bem, tudo alegre e infiltrados a puxar cada um para seu lado?
Orpheu, agora, só se for o da Mitologia grega e sem Eurídice.
Beijinhos pensadores!
Isto há de dar a volta, Janita! Oxalá ainda seja no meu tempo!
EliminarBeijinhos esperançosos.
Lembro-me de ver em directo o programa em que Almada esteve.
ResponderEliminarGostei de ouvir Pacheco Pereira hoje na RTP até porque pôs ems entido o palerma do jornalista.
Bons sonhos
Também me lembro bem desse Zip-Zip com o Mestre Almada. Aliás vi todos os Zips - foi uma verdadeira pedrada no charco de lama dos anos 60!
EliminarO Pacheco Pereira foi único! O que ele mudou! (ou não...)
São muito poucos os pensadores verdadeiramente livres, Graça.
ResponderEliminarA maioria ou vive engajada, com agendas próprias, muitas vezes de pura vingança.
Beijinhos
Somos um povo estranho, Pedro. Medroso, cabisbaixo, egoísta, invejoso, vingativo... Por isso o Cavaco foi eleito para tudo e mais alguma coisa durante 30 anos. O povo reviu-se nele. Uma pena.
EliminarPensadores ninguém lhes paga. É melhor ser político, abotoam-se à vontade e criam leis que os protegem.
ResponderEliminar- Que se lixe o povo...
Infelizmente assim parece...
EliminarLembro-me bem do programa. Não perdia um. Era o tempo em que fazia algum sentido ver TV. Contrariamente ao que hoje acontece.
ResponderEliminarOs pensadores de hoje, ausentaram-se do País. Ou fisicamente,por razões várias, ou moralmente, deixando-se corromper pelo poder instituído
Um abraço
Bem dito, Elvira! O Zip foi, de facto, uma coisa única naqueles tempos de névoa e tristeza.
EliminarBeijinhos
Está tudo a dormir embalado pela voz suave do patrono mor , Cavaco...
ResponderEliminarSabe , aburguesaram-se e estão à espera que a Maria os indique para o próximo prémio ou viagem...sim , atrás de um grande homem há uma grande mulher , então não há ?
M.A.A.
Uma «apagada e vil tristeza» - dizia o nosso poeta maior...
EliminarEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarOlá Gracinha
ResponderEliminarLindo o seu texto. Cheio de conteúdo; recordações, alertas, e tristes constatações. Até rimei sem querer.
Recordo-me bem das entrevistas na T. V. e dessa com o grande Almada Negreiros, na altura já idoso, e ainda com um raciocínio brilhante.
Actualmente a T. V. é diferente... por mim já tinha desligado esse aparelho cá em casa.
Também gosto de vez em quando, voltar aos livros do "nosso" Eça - fiquei apaixonada desde nova...
Grata pelas visitas no meu birras.
Beijinhos.
Dilita
Beijinhos, Dilita!
EliminarNão acredito em elites, Graça, embora perceba o que querem dizer. Acredito em gente com a coragem de não se conformar. Mas este é um país tremendamente calado...
ResponderEliminarUm beijo.
Também «acredito em gente com a coragem de não se conformar», mas o que ganham com isso a não ser boa consciência? Às vezes soa a pouco...
EliminarBeijinho
Excelente texto! Destaco: "O alheamento das elites empobrece-nos. Fica mais pobre a sociedade sem pensamento e sem confronto de ideias. E perde o norte o país em que a elite se resignou. Ou se acomodou. Ou se acobardou. Ou apenas anda a tratar da vidinha. (…)"
ResponderEliminarAplausos!
Obrigada, Célia, pelos seus comentários. Acredito que por aí, no seu belo país, aconteça o mesmo. Infelizmente.
EliminarBeijinho.
Gracinhamiga
ResponderEliminarSerá que o meu silêncio incomoda? Se sim, façam o favor de me suicidar; se não ,,,fiem-se na "virgem" e depois venham queixar-se que o toucinho tem bicho.. Esta "tirada" é mesmo do Marco António Costa... Quem diria...
Extraordinário texto; Gracinhamiga; quando for grande quem me dera escrever assim..Parece que o tempo não para trás, cantava o António Mourão e ao mesmo tempo havia o Zip-Zip talvez o melhor programa que passou e passeou na RTP.
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Intelectuais? Só se forem excedentários...Falam, falam, falam - e ninguém diz nada,,,(RAP) Espero que esta frase publicitária não se aplique ao sôr Silva.
Bué da fixe, Gracinhamiga
Bjs da Raquel e qjs do Leãozão
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Henriquamigo, welcome back!!! Cadê o seu blog da Travessa, já se sabe o que aconteceu?! Espero bem.
EliminarBeijinhos e abraços.
Subscrevo o comentário do Pedro.
ResponderEliminarExcelente reflexão!
Um beijinho, Graça :)
:)))
EliminarTal e qual, já não há (?). Ponho a interrogação entre parêntesis porque ponho a hipótese de estar eu cristalizado num modelo e pensamento do passado.
ResponderEliminarMas concordo em absoluto com o artigo. De facto, há já uns bons anos, dá-me a impressão que houve uma domesticação por força dos interesses económicos pessoais da nata e ficam-se de pantufas calçadas no não te rales.