Difícil de entender e mais ainda
de explicar a forma como funciona a nossa memória. Por exemplo a minha – da qual
não me posso queixar – é “fixada” em datas. Nunca precisei de anotar datas de
aniversários e, chegado o dia de anos de amigos, familiares, colegas de longa
data, aí está ela, a minha memória a mandar-me um toque a avisar…
A mesma coisa com outras datas de
acontecimentos mais ou menos importantes, mais ou menos marcantes. Lembro-me
apenas! É o caso do dia 17 de Setembro: nada de especial aconteceu, mas todos os
dias 17 de Setembro me vem à memória a mesma imagem, a mesma brincadeira. Sem
importância nenhuma! Terá sido pelo ano de 62 ou 63, vivíamos nós em Sintra e
vinha eu com a minha mãe da Estefânia para a Vila quando começa a chover com
força.
Vestidas já de Outono – ainda me lembro que o camiseiro que usava nesse dia
era de uma popelina cor de salmão com aquele brilho mate que as boas popelinas
tinham – não trazíamos porém chapéu-de-chuva pelo que nos abrigámos
momentaneamente no edifício das queijadas da Sapa no início da minha muito
amada Volta do Duche. Naquele tempo a Volta do Duche não estava, como agora, sempre
pejada de carros e autocarros estacionados, nem de filas de trânsito, nem de
magotes de pessoas a arrastarem-se por ali a tirar fotografias. Essa era a “minha”
Volta do Duche.
Mas voltemos àquele dia 17 de
Setembro de há muitos anos! Resguardadas na alpendrada da Sapa à espera que a
chuva abrandasse, chega, de corrida, um senhor igualmente a abrigar-se da chuva
. E, já se sabe, mais minuto, menos minuto, aí começou a conversa sobre a maçadora
chuvinha inesperada… Que aborrecimento uma chuva destas ainda no Verão! Que
mais isto, que mais aquilo, Que aquela chuvinha era ouro. E logo a minha mãe
que, não obstante a sua dureza, não se negava a uma boa brincadeira, deixa-se
vir com uma saída destas: «Esta chuva não é mesmo nada boa é para as nossas
uvas!» E lá se trocaram mais umas palavras de circunstância até a chuva
abrandar e nos pormos a caminho.
Intrigada que fiquei com aquela
saída da minha mãe, perguntei: «Mamã, de que uvas é que estavas a falar?!» E
ela, com o ar mais divertido: «Às que estão no frigorífico, parva!...»
A memória pode ser muito seletiva.
ResponderEliminarSeria devido à brincadeira de uma pessoa pouco dada a brincadeiras que te surpreendeu ou a sua resposta?
Pode ser, Catarina! A minha mãe foi uma pessoa muito marcante na minha vida.
ResponderEliminarBeijinho.
Talvez por ser tão inesperado vindo da tua mãe, te não esqueceste...
ResponderEliminarDorme bem
ResponderEliminarGracinhamiga
Venho convidar-te a ver na nossa Travessa a troca de ideias entre o Quinhentosamigo e eu próprio. A questão da emigração já extrapolou Para o (des)Governo. Pode ser que ela motive que tu entres na polémica que está a começar. O nosso blogue só ganhará com isso. Obrigado.
Qjs
Henrique
Uma mãe com sentido de humor :))
ResponderEliminarE uma foto a fazer-me ficar com saudades das queijadas de Sintra :(
As boas lembranças da nossa infância marcam-nos mesmo! Ainda mais com nossos familiares queridos!
ResponderEliminar[ ] Célia.
Também eu tenho uma memória fantástica para datas , boas , más e asim assim...o 17 de Setembro ,por acaso lembra-me 2 datas muiiiito más e ontem o dia teminou mesmo muito mal ...é praga...e é sempre com a mesma pessoa 18 anos mais velham M.A.A.
ResponderEliminarmais velha , dizia eu M.A.A.
ResponderEliminarUma forma inteligente e com algum humor da sua mãe, para "alimentar" uma conversa com um desconhecido, digo eu.
ResponderEliminarAdorei Graça do sentido de humor da tua mãe.
ResponderEliminarAs memórias de criança ficam bem marcadas.
Sabes Graça também recordo muito d dia 17 de Setembro, dia em que faleceu meu marido e também o dia do funeral do meu menino.
beijinho e uma flor
Querida Flor, o teu 17 de Setembro tem lembranças bem tristes! Lamento muito.
ResponderEliminarBeijinho solidário.
Boa saída a da senhora tua mãe! :)
ResponderEliminarAbraço
Eu não fixo assim tão bem as datas mas há memórias que me chegam em cheiros, em cores e em certas palavras. Gostei desta história e da brincadeira... :)
ResponderEliminarSó hoje coloquei a escrita em dia.
ResponderEliminarQuando recordas os teus tempos sintrenses, fico com mais saudades da nossa juventude, porque fazes-me andar com o filme para trás.