terça-feira, 17 de setembro de 2013

Estranhas lembranças

Difícil de entender e mais ainda de explicar a forma como funciona a nossa memória. Por exemplo a minha – da qual não me posso queixar – é “fixada” em datas. Nunca precisei de anotar datas de aniversários e, chegado o dia de anos de amigos, familiares, colegas de longa data, aí está ela, a minha memória a mandar-me um toque a avisar…

A mesma coisa com outras datas de acontecimentos mais ou menos importantes, mais ou menos marcantes. Lembro-me apenas! É o caso do dia 17 de Setembro: nada de especial aconteceu, mas todos os dias 17 de Setembro me vem à memória a mesma imagem, a mesma brincadeira. Sem importância nenhuma! Terá sido pelo ano de 62 ou 63, vivíamos nós em Sintra e vinha eu com a minha mãe da Estefânia para a Vila quando começa a chover com força. 



Vestidas já de Outono – ainda me lembro que o camiseiro que usava nesse dia era de uma popelina cor de salmão com aquele brilho mate que as boas popelinas tinham – não trazíamos porém chapéu-de-chuva pelo que nos abrigámos momentaneamente no edifício das queijadas da Sapa no início da minha muito amada Volta do Duche. Naquele tempo a Volta do Duche não estava, como agora, sempre pejada de carros e autocarros estacionados, nem de filas de trânsito, nem de magotes de pessoas a arrastarem-se por ali a tirar fotografias. Essa era a “minha” Volta do Duche.



Mas voltemos àquele dia 17 de Setembro de há muitos anos! Resguardadas na alpendrada da Sapa à espera que a chuva abrandasse, chega, de corrida, um senhor igualmente a abrigar-se da chuva . E, já se sabe, mais minuto, menos minuto, aí começou a conversa sobre a maçadora chuvinha inesperada… Que aborrecimento uma chuva destas ainda no Verão! Que mais isto, que mais aquilo, Que aquela chuvinha era ouro. E logo a minha mãe que, não obstante a sua dureza, não se negava a uma boa brincadeira, deixa-se vir com uma saída destas: «Esta chuva não é mesmo nada boa é para as nossas uvas!» E lá se trocaram mais umas palavras de circunstância até a chuva abrandar e nos pormos a caminho.

Intrigada que fiquei com aquela saída da minha mãe, perguntei: «Mamã, de que uvas é que estavas a falar?!» E ela, com o ar mais divertido: «Às que estão no frigorífico, parva!...»


14 comentários:

  1. A memória pode ser muito seletiva.
    Seria devido à brincadeira de uma pessoa pouco dada a brincadeiras que te surpreendeu ou a sua resposta?

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  2. Pode ser, Catarina! A minha mãe foi uma pessoa muito marcante na minha vida.

    Beijinho.

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  3. Talvez por ser tão inesperado vindo da tua mãe, te não esqueceste...

    Dorme bem

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  4. Gracinhamiga

    Venho convidar-te a ver na nossa Travessa a troca de ideias entre o Quinhentosamigo e eu próprio. A questão da emigração já extrapolou Para o (des)Governo. Pode ser que ela motive que tu entres na polémica que está a começar. O nosso blogue só ganhará com isso. Obrigado.

    Qjs

    Henrique

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  5. Uma mãe com sentido de humor :))
    E uma foto a fazer-me ficar com saudades das queijadas de Sintra :(

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  6. As boas lembranças da nossa infância marcam-nos mesmo! Ainda mais com nossos familiares queridos!
    [ ] Célia.

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  7. Também eu tenho uma memória fantástica para datas , boas , más e asim assim...o 17 de Setembro ,por acaso lembra-me 2 datas muiiiito más e ontem o dia teminou mesmo muito mal ...é praga...e é sempre com a mesma pessoa 18 anos mais velham M.A.A.

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  8. mais velha , dizia eu M.A.A.

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  9. Uma forma inteligente e com algum humor da sua mãe, para "alimentar" uma conversa com um desconhecido, digo eu.

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  10. Adorei Graça do sentido de humor da tua mãe.
    As memórias de criança ficam bem marcadas.

    Sabes Graça também recordo muito d dia 17 de Setembro, dia em que faleceu meu marido e também o dia do funeral do meu menino.

    beijinho e uma flor

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  11. Querida Flor, o teu 17 de Setembro tem lembranças bem tristes! Lamento muito.

    Beijinho solidário.

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  12. Boa saída a da senhora tua mãe! :)

    Abraço

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  13. Eu não fixo assim tão bem as datas mas há memórias que me chegam em cheiros, em cores e em certas palavras. Gostei desta história e da brincadeira... :)

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  14. Só hoje coloquei a escrita em dia.
    Quando recordas os teus tempos sintrenses, fico com mais saudades da nossa juventude, porque fazes-me andar com o filme para trás.

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