quinta-feira, 28 de julho de 2011

Lembrando Amália


O fado nunca faz os meus encantos. Como as baladas, afinal, e as mornas e todos esses estilos choradinhos, desgraçados e tristonhos. Não se passa o mesmo com a música brasileira que, mesmo dolente, tem aquela cadência ritmada que lhe é emprestada pelas suas raízes mais populares bem mais alegres.

Num destes dias atrás, foi lembrado até pelo Google que Amália Rodrigues teria feito 91 anos se fosse viva. Nunca gostei muito da Amália, primeiro porque como já disse, nunca gostei de fado. Mas a minha pouca simpatia pela “fadista nacional” decorre muito mais do que se dizia e se sentia lá em casa sobre ela quando eu era ainda muito pequena.


Como já aqui referi, nasci em Algés, arredor de Lisboa à beira Tejo, onde a minha mãe e os meus avós viviam há uns bons pares de anos, e onde terão conhecido a jovem ladina de família muito pobre que por ali vendia limões (lembram-se da cantiga do Max “A Rosinha dos Limões”? foi-lhe, por isso, dedicada).  Por outros motivos que não vou aqui deslindar, mas especialmente porque, diziam lá em casa, ela não permitiu que a sua irmã Celeste “brilhasse” já que teria uma voz tão boa e tão bonita como a sua, ninguém em minha casa – a não ser o meu avô que a conheceu bem – falava bem dela.  Mulheres!

Uma noite – aí pelos meus quatro anos – os meus pais foram ao cinema – ao Stadium que ficava na nossa rua, mesmo ao lado da piscina e da sede do Sport, Algés e Dafundo – ver o filme “O Fado” que era protagonizado pela artista em questão e levaram-me com eles – naquele tempo, ainda não havia classificação de filmes por idades e até os bebés de colo podiam ir ao cinema onde, aliás, se fumava livremente... Só me lembro de ter chorado todo o tempo tendo berrado mais violentamente numa cena de grande plano da fadista  exibindo umas enormes argolas – aí os meus pais tiveram de sair comigo. E nunca mais vi o filme!


Apesar de reconhecer que se trata de uma voz – e de uma artista –  poderosa e de gostar de algumas canções e até de alguns fados cantados pela Amália, nunca consegui, desde muito novinha, “perdoar-lhe” aquela canção verdadeiramente fascizante “Uma Casa Portuguesa” e anda menos o facto de ter deixado de cantar a belíssima canção “Mãe Preta” tendo-a travestido  em “Barco Negro” se bem que com um poema lindíssimo de David Mourão-Ferreira. Dizia a minha mãe que essa canção teria sido dedicada a seu marido que cedo se divorciou dela e a quem ela nunca teria deixado de amar.


E, a propósito, lembrei-me de uma fotografia com a data de Março de 1943 – ainda eu estava longe de nascer – tirada na fábrica de lanifícios de Filipe Nogueira (pai de J. F. Nogueira, um conhecido piloto português dos anos 50) em Algés, na qual esteve presente para uma qualquer comemoração, a já grande fadista num vison, ao centro, a sua irmã Celeste mais à esquerda também de casaco de vison e, encostado à janela, o meu avô que lá trabalhava e que, como podem constatar, era um belo homem...


10 comentários:

  1. Penso que os tempos mudaram e o fado também. Há letras fantásticas, bons intérpretes e hoje já não é só Fátima, Futebol e Toiros...
    Digo eu.

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  2. Pensava o que escreveu até saber e ouvir a outra face do fado. Um dia escreverei sobre o tema...

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  3. Não é preciso gostar de fado para gostar de muitas canções da Amália. Já ouviu com atenção a "Gaivota"?

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  4. Olá Carol,

    Também nunca gostei muito de fado e então quando era mais nova não gostava nada. Depois com o passar dos anos passei a gostar de alguns fados. Gosto de 2/3 que ela cantava.
    Lá na Mansarda disseste que a tua filha Ana era minha seguidora, tenho mais do que uma. Algumas até são também amigas do Facebook.Vou passar a seguir o teu blogue.

    Beijinhos

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  5. Para mim, neta de portugueses, o fado simboliza o mais alto folclore de Portugal. Aprendi a respeitar. Quanto a gostar vai muito das preferências individuais. Vejo como um fator educativo de outras culturas que temos sim que ter o contato, o conhecimento. É símbolo em Portugal assim como o tango na Argentina. Gostar, vai mais além! Abraço. Célia.

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  6. Não se pode radicalizar, e dizer fulana portou-se mal, está marcada para toda a vida, é uma proscrita, cante bem ou cante mal. Então se fossemos a pensar assim de todas as outras, que dizer de Piaff, Billy Holliday, e por aí fora. Já te disse que tive uma questão particular com ela, fui-lhe lá bater á porta, mandou a governanta falar connosco, mesmo tratando-se de trabalho, não recebeu dois jovens (todos aprumadinhos, e respeitosos), mandou-nos dar uma volta! Fiquei-lhe com um "pó"!... Diferenciei sempre a grande artista, da vedeta que se tinha portado mal comigo.
    Entendo que prolongou demasiado nos anos, a sua aparição em palco, por fim metia dó.
    Nunca deveremos esquecer, que esta mulher, teve o mundo aos pés, ela correu o mundo acompanhada de uma guitarra portuguesa, e de uma viola de caixa, três microfones, no tempo em que aquilo era rudimentar, mesmo assim enchia de sonoridade agradável, as casas de espetáculo por onde passou, de Paris ao Brasil, de Lisboa ao Japão, de Londres a Nova Yorque.
    Actualmente o Fado é apreciado no mundo todo, mas quem abriu as portas foi ela!
    Hoje há boas vozes, e, sobretudo grandes músicos, boas condições de sonoridade, os artistas já se fazem-se acompanhar de uma pequena banda, com contrabaixo de cordas, duas guitarras portuguesas, um ou dois violas, um percusionista, o show (felizmente) evoluiu para melhor.
    A minha preferida actual é a Ana Moura.
    Como sabes, também não ligava nada ao fado, fiz sempre a minha vida a tocar rocalhadas, e outras músicas dos anos sessenta, e não só! Mas sou vidrado no Jazz, e aprendi a gostar de fado.

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  7. Olá, Carol
    Pois eu gosto imenso de fado. E então tratando-se de fado de Coimbra... adoro. Sou natural da Figueira da Foz ( pertenço ao distrito de Coimbra...) e cresci a ouvir fado de Coimbra. Talvez seja por isso...
    Quanto ao fado de Lisboa já é diferente. Foi mais tarde que tive contacto e comecei a gostar. E considero a Amália a melhor fadista de sempre - embora considere que actualmente há belíssimas vozes (masculinas e femininas) a cantar fado.
    Precisas ir ouvir fado numa casa de fados, para modificares o teu pensar :)))

    Um feliz restinho de semana. Beijinhos

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  8. Querida Carol, só muito recentemente comecei a ouvir fado e pela voz da Carminho, da Mariza e da Ana Moura. Sempre associei este tipo de canção, ao Salazarismo e isso incomodava-me, sem dúvida.
    Gostei e identifiquei-me, como tantas outras vezes, com este teu post! :)

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  9. Peço desculpa se choquei os meus queridos amigos, mas eu, embora não radicalize tanto como diz o meu querido amigo Carlos José, sou bastante radical e... não gosto de fado. Desculpa Mariazinha mas de Coimbra então...

    Sim, já ouvi a Gaivota que é lindíssimo. E gosto de ouvir um pouco de Camané e de Carlos do Carmo. Ah! e gostava bastante da voz transparente da Senhora Dona Maria Teresa de Noronha. De resto...

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  10. A mim não me chocaste nada!
    Também sei que podia ter escrito o dobro das linhas, e por muito bons que fossem os meus argumentos, para ti era igual.
    E é assim que eu espero que continues, porque se mudares, barálhas-me!

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