domingo, 15 de maio de 2011

Lamentavelmente!

(Banquete dos deuses)

Sabem bem os professores que para a pseudo-eleição dos directores das escolas e agrupamentos a legislação (DL 75/2008) previa a elaboração, por parte dos candidatos, de uma projecto de intervenção para os quatro anos de mandato. Mais um documento para ficar arquivado lá nas estantes – ou nas caixas de CD, ou nas pen-drive para ser mais moderna – como acontece com os projectos educativos, os projectos curriculares de escola e de turma e o planos de recuperação e toda essa parafernália que, burocratas como somos, governo após governo nos foram atirando para as escolas.

Como o que interessa neste país são as palavras e as frases bonitas que componham textos também muito bonitos mesmo que depois na acção nada corresponda ao que se escreveu, o plano de intervenção do actual mandante lá da “minha” escola/agrupamento foi elaborado de acordo com todas as mais bonitas normas da teoria do projecto que se podem ler em qualquer bom manual.

Numa (balofa) intenção de “implementar uma cultura de colaboração” no agrupamento e com o objectivo de “construir um projecto de mudança que [lá] introduza melhorias profundas” um dos cinco domínios do dito projecto era precisamente o “Bem-estar dos alunos e o controlo da indisciplina”.

Lembra-se quem leu a megalómana entrevista que aquele director deu ao Jornal de Leiria logo após a sua tomada de posse que ali foi dito e escrito para quem quisesse ler que « A indisciplina no Agrupamento de Escolas D. Dinis, em Leiria, é encarada como um “problema grave” pelo novo director», que «acredita que é possível solucionar o problema através do envolvimento de toda a comunidade educativa.» « Consciente que o controlo da indisciplina é um facto preventivo do insucesso, desmotivação e abandono escolar e, a longo prazo, da delinquência e da exclusão social» o director «propõe formar uma equipa de supervisão da disciplina para acompanhar problemas específicos nas escolas do agrupamento, apoiar os professores com crianças difíceis e dar formação no domínio do controlo da disciplina.» « O novo director da D. Dinis considera que a prevenção da indisciplina passa pela adopção de regras contempladas no projecto curricular de cada turma, realização de assembleias de turma, balanços periódicos e assembleias de delegados de alunos. O projecto de intervenção prevê ainda um sistema de controlo das “ocorrências”. Os casos mais graves serão encaminhados para o director ...» e « compromete-se a apoiar os professores no controlo da indisciplina, de modo a torná-los mais disponíveis para o processo de ensino-aprendizagem e incentivar o trabalho de equipa, a valorização profissional, o espírito de iniciativa e de abertura à mudança.» (in Jornal de Leiria de 1 de Abril de 2010) Belas palavras de quem parecia que tinha descoberto a pólvora ou de quem nunca tinha estado naquele agrupamento de escolas...

Mas, lamentavelmente, passado mais de um ano de actuação desta direcção, seguindo, sem dúvida (!) à recta o definido no projecto de intervenção que tanto encantou os representantes dos pais com assento no “colégio eleitoral” que foi o conselho geral transitório, são os pais (já para não falar dos professores) quem mais por aí se queixa do aumento da indisciplina na escola. E dizem mais: que os alunos indisciplinados vão ao gabinete da direcção e nada lhes acontece... que irem lá ou não irem é exactamente a mesma coisa... que os processos disciplinares são levantados e as medidas são aplicadas tardiamente... que os professores já nem mandam lá os alunos que se comportam mal nas aulas porque são reorientados para os mesmos professores ou para os directores de turma. Onde está a tão apregoada liderança?

Ouve-se falar mal da “minha” escola na rua. Lamentavelmente.



8 comentários:

  1. Na tua e em muitas outras...

    Também culpa dos professores e dos directores...Parece que constitui prova de incompetência denunciar problemas disciplinares...

    Então está tudo calado...Num silêncio covarde e compartilhado pelos directores...


    E assim as escolas dão uma boa imagem... Mas um dia...Não sei não...

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  2. Ouve-se falar mal da “nossa” escola na rua. Lamentavelmente.
    Constantemente.

    e a questão disciplinar é só parte (importante) do que se fala.

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  3. É bom que se fale mal. Porque não se deve ignorar que de facto o problema existe. E existe há muito tempo.

    Vou dar-lhe uma novidade. A sua escola vai ter 2 turmas de CEF, uma delas técnicas comerciais T3, sendo um dos objectivos melhorar o comportamento e aproveitamento de alunos problemáticos.

    Independentemente disso ser positivo, negativo, assim ou assado, o que acontece é que na ânsia de aparentemente termos uma população com maior nível de escolaridade, isso acaba por ser apenas uma fachada. Com os RVCC CEF etc., presentemente ao serem apresentados os currículos fica-se na dúvida da forma como os conseguiram e se realmente correspondem ao que aparentam.
    Voltando ao comportamento e às medidas para o melhorar, ainda hoje mais uma cena de tiroteio nos EUA. Por cá já faltou mais.
    E ainda, como nos miseráveis, há alguns que pagam e uns que pagam pelos outros... como sabe.
    Um bom director tem que ter essencialmente discernimento e não sei se o actual o terá.

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  4. lamentavel e muito triste.

    beijinho Carol

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  5. O que se passa a nível interno deverá ser discutido, resolvido, dentro dos estabelecimentos.

    Se assim não fôr, admiram-se das especulações.

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  6. Foi este o texto que desapareceu com o chamado "apagão" do Blogger no passado dia 11 e que reponho hoje aqui. Lamentavelmente desapareceram os cinco belos comentários que lhe tinham sido feitos pela Maria da Paz, pelo Rui, pelo Luís Eme, pela M! e pelo Observador a quem agradeço.

    Ouvi dizer, cara Maria da Paz, que iam abrir ume turma de CEF lá na D. Dinis, mas não sei se terão população estudantil que chegue. Sabe que para abrir uma dessas turma tem de haver um nº mínimo de alunos com determinada idade e aquela escola não tem muitos alunos com esse perfil. Mas como as escolas que as abrem recebem mais verbas... é natural que haja essa vontade. É que este director também tem tido dificuldades em gerir as contas da escola. Até já tiveram de chamar um "especialista" em contabilidade para acertar as contas. "Especialista" esse que lhes levou coiro e cabelo... Ah! E deixou tudo praaticamente na mesma...

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  7. Palavra de honra que não foi a minha amiga a Drª Maria José quem escreveu o discurso ao cavalheiro...

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