Um dia destes tive de lavar uns sacos de praia e apeteceu-me lavá-los à mão no tanque de cimento que ainda guardo desde o tempo em que me casei. Sempre me deu algum prazer lavar roupa no tanque, com muita água, com bacias cheias de água à volta para enxaguar as peças de várias cores e tecidos.
Foi um hábito que me ficou de muito pequena. Como imaginam, não havia máquina de lavar roupa lá em casa da minha avó, em Algés, no início dos idos anos 50; havia um tanque de cimento na marquise da cozinha e bacias de zinco e de esmalte. Não havia detergentes, a roupa lavava-se com sabão azul e branco que cheirava muito bem e as nódoas tiravam-se com lixívia. A Sr.ª Arminda vinha uma ou duas vezes por semana lavar a roupa mais pesada, como lençóis, toalhas turcas e os fatos macacos do meu avô e do meu tio que eram tecelões numa grande fábrica de têxteis e deixava-me “ajudá-la” com as peças mais pequenas. Era uma festa para mim, (re)mexer na água, esfregar as toalhas pequenas entre os punhos tal como ela faia, ir com a Sr.ª Arminda enxaguar os lençóis na enorme banheira de esmalte branco que havia na casa de banho. Entretanto ficava toda molhada pés, braços, bibe, tudo e era uma festa!
Quando as filhas nasceram e que ainda não se usavam fraldas descartáveis nem a empregada era a tempo inteiro, muito jeito me deu saber dar as devidas voltas à roupa para lavar. Foi desse tempo a compra do referido tanque onde, num instantinho, entre a chegada das aulas e a preparação das do dia seguinte – tantas vezes com as meninas no colo – ia ao tanque preparar as fraldas para pôr na máquina, ou mesmo para lavar umas pecinhas mais delicadas das bebés.
Este “prazer” reminescente foi-se mantendo e até arranjei uma pequenino tanque de cimento onde a minha filha mais nova costumava brincar comigo também à lavagem da roupa. Ora, num desses dias de bom tempo como faz desde cedo no ano cá em Leiria, em que estávamos nos preparativos para o tratamento da imensa roupa que se junta para lavar numa casa com duas crianças, eu terei desabafado em voz alta: “Bolas! De certeza que na outra encarnação fui lavadeira de Caneças !” O meu sobrinho “cenourinha” mais velho – que era um doce! – e que andava sempre por aqui a brincar com as primas, perguntou acto contínuo: “Ó tia, foi?!”
Agora vejam a cara que eu fiz, no dia em que o meu próprio marido, me quis tirar uma fotografia a lavar no tanque para mais tarde mostrar às filhas...
(Maio/76)
Uma fada do lar, em suma! :-))
ResponderEliminarTambém tenho um tanque desses e continuo lá a enxaguar muita coisa...tapetes, almofadas, forros de sofás, etc, etc.
Só não tenho é nenhuma fotografia!
Abraço
Também tenho um tanque desses e uma máquina de lavar...
ResponderEliminarLembro-me perfeitamente que a única vez que coloquei roupa na máquina me esqueci do detergente (a minha mulher estava na Bissaia Barreto e na véspera nascera a Anita).
Foi remédio santo. A partir daí a minha mulher nunca mais deu à luz e quanto à roupa... não me posso queixar.
Equipa que ganha não mexe. Eu já me habituei a perder há muito.
:)
Este seu post tem graça...
ResponderEliminarE já agora, querida lavadeira,
para que servia a potassa?
Tu és mesmo uma dona de casa exímia. Parabéns.
ResponderEliminarEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarSempre foi uma séria candidata a vencer o Concurso do Clube das Donas de Casa da Maria João Aguiar.
ResponderEliminarTenho que rir...
ResponderEliminarParece a minha descrição dequando criança querendo lavar roupas com as tias e as lavadeiras.... achava a coisa mais linda o barulho das roupas se estralando em bolhas na fricção dos punhos. achava lindo, mas nunca consegui exercer tal função e, de certo, nunca fui lavadeira em qualquer vida que seja.
Adoro minha máquina de lavar e sonho com um dia colocar as roupas sujas e tirá-las passadas, seria a perfeição kkkkkk
Hoje, com espaços menosres, os tanques tbém são menores e servem para os tenis de escola das Chicas e os panos de chão/tapetinhos. As demiais roupas... máquina!
adorei a crônica!
Paty
Em grande estilo!!!
ResponderEliminar:D
Credo, Caínhas! Do Clube das Donas de Casa?! Jamé!!!!
ResponderEliminarObrigada, Paty. Eu também concordo: vivam as máquinas de lavar, de secar, de engomar, de tudo!
Quanto ao menino Rui, tenho a dizer que tenho cá em casa um especime igualzinho: dos que também não quer mudar a equipa ganhadora. HOMENS!!!
Olhe, senhor Poeta Rogério,
tem mesmo muita graça
e muito dispautério
não me ter lembrado da potassa.
É que esta não lavava a roupa
mas tão somente os tachos da casa...
Estilo quê, Observador?!...
De lavadora.
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