Há uns anos, catorze ou quinze, levei uma turma de alunos do 9º ano a Londres. Foram meus alunos de Inglês desde o 7º ao 9º ano, bons alunos, educados, amorosos, daquelas turmas (e eu tive algumas!) que nos ficam na memória. Aí no 8º ano começaram a meter-me na cabeça que os havia de levar a Londres. “Vocês são malucos! A Londres! É muito caro. E os vossos pais vão mesmo deixar-vos ir...” Havia alunos com possibilidades económicas mas outros nem tanto e irem uns e ficarem outros não entrava na minha cabeça, nem nas deles.
Começámos a trabalhar a ideia e a juntar dinheiro. No início do 9º ano reunimos com os encarregados de educação, fizemos rifas, pedimos patrocínios, vendemos bolos e gelados, fizemos quermesses e os pais a trabalharem alegremente ao nosso lado!
Acabámos por ir a Londres, em Maio, antes das Provas Globais, com 24 alunos – só ficaram dois em terra porque os pais não autorizaram a sua ida – e com uma “comitiva” de adultos professores que se a suas custas, naturalmente, se juntaram ao passeio.
Correu tudo muito bem. Nem queiram saber a trabalheira que foi andar cinco dias naquele metro louco de Londres a “empurrar” aquela gente toda para dentro e para fora. Mas foi muito bom. E eles adoraram.
Vem isto ao caso, porque, um dia destes, recebi uma mensagem pelo Facebook (estas modernices são um espanto!) a dizer que a Tatiana me convidava para fazer parte da “Mítica turma do 9º A”. Lembrei-me logo deles. E fui ver.
Aquela ex-aluna, que por acaso está a fazer um doutoramento, lembrou-se de “reunir” os colegas daquele 9º A sem deixar de fora a (velha) professora de Inglês e o Director de Turma (o meu querido amigo e colega “Wolf”...)
Fiquei encantada, comovida. Isto sim, é uma homenagem sentida ao nosso trabalho com os alunos, sermos reconhecidos por eles.
Da mesma forma que aconteceu, em Junho último, na minha última ida a Londres, quando, em plena Madame Tussaud, enquanto olhava a estátua de cera da minha querida Audrey Hepburn, oiço uma jovem senhora dizer no português mais correcto para o marido: “Olha, esta senhora foi a minha professora de Inglês!” Olhei e, naturalmente não a reconheci, mas ela, muito contente, continuava “Foi a minha melhor professora de Inglês! Foi ela que me levou a seguir tradução, etc. etc...”
Muito mais genuíno, mais sincero e de certo mais encantador do que aquelas cinco linhas que o Conselho Geral da (minha) escola me enviou, uns meses depois de me aposentar, ao fim de 36 anos de dedicação exclusiva e intensa àquela escola, a agradecer a colaboração...
Que importam essas cinco linhas, escritas eventualmente por pessoas movidas por sentimentos pouco nobres, comparadas com a pureza das palavras ditas na hora, de alunos reconhecidos.
ResponderEliminarPARABÉNS PROFESSORA!
Olha , minha querida amiga.
ResponderEliminarFizeste-me retroceder não sei quantos anos.
Depois decasado e, com um filho já casado e, com un neto,
numa das minhas viagens em famíli até à madeira, por incrível que pareça, vi uma senhora muito idosa a falar com meu neto de 7 anos, na época:
Dirigí-me para a senhora, quando ela me perguntou:- É teu neto? Eu sem reconhecer a senhora, disse que sim. Então não me conheces? Respondi que não.
Não te lembras da tua prof. de Fisica e Química?
Confesso que mesmo com a minha mulher ao meu lado, abracei-me à senhora como se abraça a uma namorada pela primeira vez. Só que desta foi com as lágrimas nos olhos. Crê que é verdade. pareciamos duas crinças.
É tão bom encontrarmos aqueles que nos fizeram bem.
Um abraço e, bom fim de semana que se aproxima.
São estas coisas que nos fazem dizer: vale a pena!
ResponderEliminarÉ porque mereces! Já suspeitava:)
Esquece o CG...
Olá Carol,
ResponderEliminarO seu nome é sobejamente conhecido neste círculo de amigos blogosféricos. Não me recordo se já por aqui passei. Mas fi-lo agora. Já me tornei seguidora; fico a aguardar pelos enigmas; gostei do relato sobre a viagem a Londres e quando tiver mais um tempinho disponível vou ler as outras crónicas. Abraço. : )
Pois é, Carol!
ResponderEliminarAinda bem que encontramos antigos alunos a dizerem-nos destas coisas simpáticas!
Também já adicionei alguns ao meu FB e que me encontraram a partir desta magia tecnológica, outros nunca os perdi de vista...
Vá lá que ainda tiveste uma "homenagem" de meia dúzia de linhas, há quem não tenha nada! :-))
Pena não ter tido uma professora de Inglês como tu que me levasse a Londres que continua à minha espera.
Em contrapartida encontrei na Universidade um professor de Francês e francês que levou a minha turma a Paris.
Nunca mais o esqueci e fiquei apaixonada para sempre por esta cidade!
Abraço
As vossas palavras são um mimo que agradeço. Agradeço à Catarina também a sua visita e a sua adesão. É sempre tão bom quando ganhamos mais uma pessoa que nos lê!
ResponderEliminarÉ assim mesmo, João! Quando há algo que nos liga a um(a) professor(a) não esquecemos mais.
E já agora, se for preciso organizar (mais) uma visitinha a londres, digam....
Que maravilha, Carol!
ResponderEliminarDeve saber muito bem, esse presente, que é sentir que não passámos despercebidos ao longo duma carreira, particularmente quando se trata de se ser professor/a e os nossos antigos alunos se lembrarem de nós pela vida fora!...
Obrigada, Amigo António, pelas suas palavras. É, de facto (com c ...) muito agradável!
ResponderEliminarÉ no reconhecimento dos alunos (e no facto de se lembrarem para o resto da vida dos professores que mais lhes tocaram) que se vê o belíssimo trabalho de um professor. Um professor não trabalha para os colegas da escola, mas sim para os alunos. E isso é que deve, de certa forma, aquecer o coração do professor e não umas palavras saídas quase como por obrigação pelos pares da escola.
ResponderEliminarEu tive a sorte de ser "tocada" por esta professora que ainda me deu a conhecer Londres nessa afamada viagem do 9ºA.
E por esses três anos (e muitos mais...), sinto-me grata, afortunada e mais enriquecida, tanto a nível pessoal, como profissional.
Um beijinho