sexta-feira, 24 de agosto de 2018

Sindicato? Que sindicato?

A jovem que me atendeu no balcão do pão foi a mesma que me atendeu na charcutaria. Tão mal-humorada! Não indelicada, mas de cara tão fechada (diria “com umas trombas!”, mas o respeito por ela não mo permite) um ar tão aborrecido! Entende-se – deve ser um daqueles trabalhos temporários que explodem para o ar no verão, especialmente no Algarve.

Sabemos como os jovens são explorados, violentamente explorados nos empregos e não apenas a nível da restauração ou dos supermercados, mas também os jovens engenheiros, os jovens escriturários, os jovens advogados, os jovens economistas, os jovens… Explorados de facto porque a procura é inferior à oferta, porque não há quem os defenda, mas especialmente os “nossos” empregadores são meros patrões(zecos), muito longe que estão, com raras exceções, de serem verdadeiros empresários.

Quando cheguei à caixa para pagar as compras, a joven(zinha) deitava lume pelos olhos e vociferava para a colega da caixa ao lado «adoro estas cenas! Quantas horas mais tens de dar? Das nove às sete não lhe chega…» etc. etc.

O cliente que estava atrás de mim entrou na conversa, que eram realmente muitas horas seguidas e “sempre a bombar”. Aí a joven(zinha) rebentou: «e não temos ordem de ir à casa de banho, nem de parar para beber água, só na casa de banho é que não temos câmaras de vigilância, o almoço é na cave no meio das mercadorias e a correr, não temos direito a receber horas extraordinárias,,, e interrompeu-se porque a senhora que estava a ser atendida já se tinha enganado no código do multibanco.

Quando começou a atender-me, eu apenas lhe disse: «Sindicato, minha querida, sindicato!» E ela, rápida: «Que sindicato?!»

De facto, que sindicato? Sindicatos, agora, só mesmo o das enfermeiras com aquela senhora bem escavacada que grita GREVE! GREVE! Enquanto aumenta o seu ordenadito lá no partido. Sindicatos só mesmo os dos médicos que vêm às televisões apregoar pelo SNS que, pela calada, ajudam a enterrar. Sindicatos só mesmo aquele, inefável, dos professores a gritar GREVE! GREVE! Vamos destituir o ministério como da outra vez…

E eu, tão tonta, de repente, a sentir-me no tempo em que ainda acreditava no Pai Natal e na Fenprof-pré-Mário. Eu a sentir-me orgulhosa por a minha mãe, anos 60, ser professora em colégios e ser sindicalizada… Tão parva! A falar à joven(zinha) em sindicatos…

De facto, agora, que sindicatos? Apenas os do setor público. Os do setor privado não podem, não têm força para regatearem nas televisões a queda de ministros, a queda de governos.

E os trabalhadores do privado, temporários, a recibos verdes, a prazo, se refilam e falam no sindicato, vão para a rua ou para onde os patrões(zinhos) os quiserem mandar…




9 comentários:

  1. Este paip não é para os jovens. E nem para os velhos. É um país só para alguns.
    Abraço e continuação de boas férias.

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  2. Com essa cabeça tão baralhada
    Querida amiga Graça
    Nem terá dado por, a tal miúda da Caixa
    A esta hora, já estar sindicalizada...

    E garanto que não fui eu quem a sindicalizou. Está a ver esse paspalho aí especado? Sou eu, ontem, à porta de um supermercado, estava lá solidário...

    Mas a Graça também pode ser solidária. Vá aqui https://www.cesp1.net/ e escolha a luta

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    1. Paspalho? Qual paspalho?
      Como também não me sinto num baralho...
      E se ela já está sindicalizada,
      Ainda bem
      Oxalá seja recompensada|

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  3. Minha querida Gracinhamiga I

    Antes do mais: como está o reino dos Algarves d'aquem Mar? Inçado de ofe tutistes ai prizume... Ai du note laique Allgarve (bréde, bréde, chize, chize) in Ógaste bicóse ofe flaies,

    Bom, depois do meu perfeito inglês vamos aos sindicatos. Só de falar do bigodinho do sôr Nogueira já se me viravam as tripas do avesso; agora que o homem usa barba nem sei o que diga. Poizé, sindicatos. O que são e o que foram. Na verdade isto tem de dar uma volta tal como a que o diabo deu às cabras. E disse.

    Boas férias e muitos bjs e qjs do casal Ferreira

    E agora toma MUITA ATENÇÃO:

    Informação
    Mais uma semana de férias para o Frederico & Companhia. Por isso sai um textículo risonho que tem por título Uma (quase) Feira Pré-Histórica no qual, pasme-se, até é citada a nossa amiga Graça coliponense, ou seja a Gracinhamiga de Leiria. Há malucos capazes de tudo, como é o meu caso. Entretanto o próximo episódio da saga vai ser tão quente que nem vos digo mais nada para não (vos) arrefecer…

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  4. Como dizes "injustiça e vergonha"

    Boas férias querida.

    Beijinho

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  5. Estou sindicalizado ,porque sozinho, nínguem tem uma voz
    bjs

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  6. Infelizmente é o país que temos, uns a encherem-se e outros sem pelo menos terem possibilidade de lutar pelos seus direitos.

    Continuação de boa férias!

    Beijinhos Graça

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  7. A roda faz que roda e não roda.
    Não estarei muito bem informado sobre as condições de trabalho existentes e exigidas nos nossos dias, mas sempre me chegam achegas de gente nova a que eu digo - não pode ser!
    Horários incríveis com intervalos de várias horas que empatam a vida às pessoas, licenciados com ordenados a partir do ordenado mínimo e o umbigo preso à empresa pelas tecnologias. Os que têm melhor remuneração têm a sentença de "quando for preciso" (dispensa de horário, com prolongamento de horário até a tarefa acabar, chamadas ao fim de semana e feriados...)
    Está visto que a maioria dos empregadores paga o mínimo que consegue. Já ouvi da boca de um "€500 está muito bem para quem não sabe fazer nada" referindo-se a um recém-licenciado.

    Boas férias.

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