terça-feira, 25 de setembro de 2018

Inês de Leiria

A propósito da "princesa do Lis" como me chamou o nosso amigo Manuel Veiga, lembrei-me de um poema do poeta/escritor leiriense Afonso Lopes Vieira que tínhamos na Selecta Literária no tempo do Liceu, nos idos de 60, e que se chama Inês de Leiria.

Deve ser muito pouco conhecido porque não no acervo de Mister Google...

Diz assim:

Encontrou Fernão Mendes
no interior da China
(e em que apuros ele ia!)
a velha portuguesa
chamada Inês de Leiria,
que de repente reza:
Padre Nosso que estais nos céus…
Era, de português, o que sabia.

Ouvindo Fernão Mendes
esta voz que soava
(Fernão cativo e cheio de tristeza!),
o Português sorria…

Padre Nosso que estais nos céus…
A velha mais não sabia,
mas bastava.

Boa Inês de Leiria,
cara patrícia minha,
embora te fizesse
a aventura imortal
de Portugal
chinesa muito mais que portuguesa,
- pois por esse sorriso de Fernão
tocas-me o coração.

Deste-lhe em tal ensejo
entre as misérias da viagem,
o mais gostoso e saboroso beijo
- o da Linguagem!

Onde a Terra se Acaba e o Mar Começa (1940)
Afonso Lopes Vieira








24 comentários:

  1. Conheço a poesia do Afonso Lopes Vieira, que é, infelizmente, um poeta muito esquecido.

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    1. É verdade, Teresa. Como tantos e tantos belíssimos autores nosso do século XX - tão esquecidos! Questões políticas...

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  2. Lembro-me deste poema de não sei onde...

    Beijinho, bom Outono

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    1. Da nossa "Selecta Literária" dos 3º, 4º e 5º anos do liceu...

      Bom outono, São! Se possível sem este calor que nos afronta...

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  3. Porque é que ia lendo e me ia recordando dos cantinhos do meu Macau??
    Beijinhos

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    1. Lindo!!!!! Os seus comentários sempre com aquela elegância, aquela sensibilidade, Pedro.

      Beijinho.

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  4. Brilhante publicação. Um poema magistral, não conhecia :))

    Bjos
    Votos de uma óptima Quarta - Feira

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    1. Obrigada, Larissa. Assim vamos aprendendo uns com os outros... Que bom!

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  5. ora aqui está como o inocente epíteto "princesa do Lis" quase provoca um tsunami literário - com citação de Afonso Lopes Vieira e o Fernão "Mentes" Pinto e tudo... Só cá faltou o Eça! rss

    mas a verdade é que a cidade de Leiria para além da Historia (Pedro e Inês estão no imaginário colectivo)tem para mim, por razões que não vêem ao caso, um encanto quase mítico - e a "princesa do Lis", se não estou enganado, consta de um belo fado de Coimbra. e, como tal, adequado a este espaço de criatividade e inteligência

    mas percebo, enfim, que a nossa amiga Graça não queira o cognome, pelo que peço desculpa pelo meu excesso de à vontade.

    mas não precisarei de rezar o Padre Nosso, pois não há aqui sombra de pecado.

    com simpatia

    beijo

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    1. Nada de pedir desculpas que as não tem! Eu achei lindo! E até deu para me lembrar e trazer aqui o Afonso Lopes Vieira, de Leiria citando o Fernão "Mentes? Minto"... Só não me sinto digna de tal epíteto.....

      Beijinhos gratos por tudo e por esse seu sentido de humor.

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  6. Grande Afonso Lopes Vieira, o Poeta que dourou a minha infância.

    Beijinhos, Graça... cheia de graça infinda!! :)

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    1. Obrigada, Janita, minha querida amiga!
      Afonso Lopes Vieira foi, de facto, um poeta que nós líamos no liceu.

      Beijinho.

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  7. Fernão Mendes Pinto fez-me lembrar o nosso Fausto Bordalo Dias
    https://www.youtube.com/watch?v=YqxlHY0Y30c
    Abraço para ti e para o Sidónio

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    1. Ui, o que eu gosto de ouvir o Fausto!!! Uma voz cristalina que utiliza uma poesia popular tão culta!!!

      Beijinhos e abraços nossos.

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  8. Princesa, andas muito colada ao teu Lis...
    «Fernão, mentes? Minto!» Que alcunha!
    Gravada nos anais da história!...
    O que faz o obscurantismo!
    Gostei de recordar ALVieira... desejo que
    o seu museu esteja bem participado e não
    ande novamente em peregrinação....
    Beijinhos literários...
    ~~~~~

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    1. Beijinhos literários e musicais e culturais e tudo e tudo Majo!

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  9. Já o li, ao Afonso, por obrigação na escola e, mais tarde, por gosto.
    Lembro-me dele decididamente, ou definitivamente?, sempre que atravesso o Pinhal e passo rente ao seu refúgio de S. Pedro de Moel.
    BFS, Graça.

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    1. E aquela casa em que ele viveu e escreveu olhos postos no mar revoltoso! Maravilha!!! A chamada Casa-Nau!

      Beijinhos, Agostinho.

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  10. Curioso não me lembrar deste poema do Afonso Lopes Vieira. Tenho que ler algum livro dele, pois anda esquecido na minha memória…
    Uma boa semana, Graça.
    Um beijo.

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