domingo, 25 de março de 2018

O Palacete Mendonça

Fiquei hoje a saber que há mais um palacete em Lisboa que está a ser recuperado e este com todo o luxo.

Que bom! Nada há que me entristeça mais do que a degradação, seja do que ou de quem for. De pessoas – naturalmente! – e também de casas. Ver casas abandonadas que, aos poucos, se vão degradando, esventrando, deixando os seus interiores à mostra, barbaramente violadas, estupidamente grafitadas, traz-me uma enorme tristeza. Quantos segredos ali se guardaram, quantas alegrias ali se viveram, quantas vidas ali se cruzaram – tudo levado pelo vento que entra livre pelas janelas partidas…

Essa não foi a sorte do Palacete Mendonça deixado há alguns anos pelo MBA da Universidade Nova e que foi adquirido para servir como sede mundial do Ismaili Imamat, liderada desde há 60 anos pelo Príncipe Aga Khan, amigo de Portugal. As obras de recuperação estão a decorrer em grande estilo segundo o projeto do arquiteto Frederico Valsassina. Tudo está a ser recuperado com o mínimo de alterações em relação ao original.

(daqui)

Procurei algumas informações sobre o edifício e fiquei a saber que foi mandado construir no início do seculo XX pelo senhor Henrique José Monteiro de Mendonça (1864-1942), proprietário da roça Boa Entrada, em S. Tomé e Príncipe.

O senhor Mendonça não se poupou a despesas, tendo contratado o arquiteto Ventura Terra, o melhor arquiteto da época (que também recuperou o Palácio de São Bento). Foram azulejos Bordallo Pinheiro, têxteis de Lyon, madeiras, pinturas e estuques do melhor que havia o estrangeiro e um jardim de três hectares. O palácio foi Prémio Valmor de Arquitetura do ano 1909.

(daqui)

Diz o arquiteto Valsassina: «É muito interessante perceber que o senhor Henrique Mendonça quando fez esta casa, vindo para Lisboa de São Tomé, com a sua mulher são-tomense, quis mostrar à sociedade que ia construir uma casa para não ser considerado um “nouveau riche”. Há sete ou oito edifícios em Lisboa, dos antigos fazendeiros, e todos primam por uma arquitetura do melhor que havia na altura, porque queriam ser admitidos na sociedade lisbonense como pessoas de fazer bem, pois eram considerados agricultores do mais rude que havia.»

Tudo muito bom e muito bonito. Mas… como viveriam as centenas de “escravos” que trabalhavam o cacau lá em São Tomé para o senhor Henrique Monteiro poder ser tão rico?









Para saber mais:


14 comentários:

  1. Dava uma boa repórter...
    tem arte
    embora ache
    que depressa
    seria posta de parte

    (é que os donos dos jornais
    gostam pouco de certas aproximações reais)

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    1. Apesar de ter (alguma) arte
      para outras coisas, que esta não,
      mas antes em coisas da educação,
      também fui posta de parte...

      Gosto das coisas justas e retas
      Foi sempre uma das minhas metas
      Outros não gostam tanto
      Por isso fui posta no banco...

      :))

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  2. Património que não se deve abandonar muito menos deixar morrer.
    Beijinhos, boa semana

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    1. Muito menos este ano que é de defesa do património.

      Beijinho.

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  3. Também gosto de os ver recuperados!
    Obrigada pela partilha!!!bj

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    1. Mas ainda são às centenas para recuperar por esse país fora. Fica extremamente caro, por isso muito acabam por morrer...

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  4. Gostei da sua pesquisa e da informação que nos traz sobre a recuperação de mais um Palacete. Afinal é património do país...
    Uma boa semana.
    Um beijo.

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  5. Gosto deste tipo de notícias! Nem tudo é mau e lá se vão recuperando edifícios com história.
    Quem sabe um dia não me perca por lá.

    Beijinhos Graça

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  6. Pois claro que viviam miseravelmente, sendo explorados como escravos, tal como o foram os angolanos nas plantações de café e outras actividades ditas económicas...

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    1. Infelizmente assim era... :(
      Como ainda se faz no extremo oriente. :(

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