sábado, 31 de março de 2018

A Vitória de Samotrácia

Nunca soube descrever a sensação de encantamento que tive, quando visitei o Louvre, ao subir aquela escadaria e dar com aquele espanto que é a estátua alada da Vitória de Samotrácia (à deusa grega  Niké, - que, em grego, significa vitória)

Foi do melhor que vi naquele museu.

Encontrei hoje este extraordinário poema de Ana Luísa Amaral em louvor à minha diva - quase tão espantoso como a escultura - que passo a transcrever.


A VITÓRIA DE SAMOTRÁCIA

Se eu deixasse de escrever poemas em
tom condicional, e o tom de conclusão
passasse a solução mais que perfeita,
seria quase igual à Samotrácia.

Cabeça ausente, mas curva bem lançada
do corpo da prosódia em direção ao sul,
mediterrânica, jubilosa, ardente, leopardo
musical e geometria contaminada
por algum navio. A linha de horizonte:

qualquer linha, por onde os astros morressem
e nascessem, outra feita e fio de fino aço,
e outra ainda onde o teu rosto me contemplasse
ao longe, e me sorrisse sem condição que fosse.

Ter várias formas as linhas do amor: não viver
só de mar ou de planície, nem embalada
em fogo. Que diriam então ou que dirias?

O corpo da prosódia transformado em
corpo de verdade, as pregas do poema,
agora pregas de um vestido longo, tapando
levemente o joelho e tornozelo. E não de pedra,
nunca já de pedra. Mas de carne e com
asas —

(Ana Luísa Amaral;« Vozes», Dom Quixote, 2011)


(fotografia de F. Mendes)
(in wikipedia)

7 comentários:

  1. Oh, Gracinha...agora andas a publicar coisas tão ricas e eruditas que nem sei o que dizer.
    Lá os ovos do Fabergé eu já tinha conhecimento, mas não tive oportunidade de cá vir. Aquando do assassinato do Czar e família, para onde teriam ido parar aquelas riquezas?


    Agora, gostei muito, fiquei a saber da existência desta estátua alada, já que, infelizmente nunca conheci esse teu encantamento porque nunca fui ao Museu do Louvre.
    O poema à vitória de Samotrácia está um must.
    Aqui, no teu espaço, Graça, aprende-se!
    Bem-hajas por isso.

    Beijinhos e Feliz Domingo de Páscoa.

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    1. Obrigada, Janita! Este teu comentário vale por vinte! Muito obrigada.

      Beijinhos pascoais...

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  2. Amiga querida.
    Fiquei super triste sem PC justo quando dava inicio
    as visitas de Pascoa.
    Obrigada pelo seu carinho e amizade..
    Que a Pascoa esteja em nossos corações,
    que o amor de Cristo nos abençoe todos
    os dias das nossas vidas.
    Te abraço com carinho.

    Evanir.

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  3. Saído do silêncio, digo:
    "Picos de Roseira Brava"
    sem jeito por onde lhe pegar.
    Tive sorte por calhar.
    Por calhar num Se discorrido
    em horizonte de desejo
    (em geometria variável)
    à medida dum sonho.
    Quase em silêncio, sem prosódia, digo
    o poema magnífico (de Ana Luísa Amaral).

    Calhou bem, Graça.
    Bj.

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