quarta-feira, 2 de agosto de 2017

Eu temo muito o mar

Eu temo muito o mar, o mar enorme,
Solene, enraivecido, turbulento,
Erguido em vagalhões, rugindo ao vento;
O mar sublime, o mar que nunca dorme.

Eu temo o largo mar, rebelde, informe,
De vítimas famélico, sedento,
E creio ouvir em cada seu lamento
Os ruídos dum túmulo disforme.

Contudo, num barquinho transparente,
No seu dorso feroz vou blasonar,
Tufada a vela e n'água quase assente,

E ouvindo muito ao perto o seu bramar,
Eu rindo, sem cuidados, simplesmente,
Escarro, com desdém, no grande mar!

Cesário Verde

Este soneto - "Heroísmos" - de Cesário Verde foi-me dado a conhecer pela leitura do livro «Que Importa a Fúria do Mar» de Ana Margarida de Carvalho (os romances desta mulher estão a pôr-me doida este Verão!)

As quadras do soneto fazem parte da epígrafe de um dos capítulos do livro referido e logo me encantaram, embora os tercetos inflitam para o heroísmo dos Descobrimentos portugueses. Talvez por isso a escritora tenha optado por transcrever apenas as quadras para a dita epígrafe.

Ela própria descreve o mar desta forma simbólica, quimérica:

«Porque isso é o que recorda com mais força, e dor, e sufoco. Aquela opressão do mar. Era o seu pesadelo recorrente, aliás. De repente, via-se na praia, pés ma areia molhada, e um mar de cordeirinhos mansos, espuma benigna, vinha roçar-lhe as pernas, só docilidade com sal, mas o caudal engrossava, engrossava, quando a onda regredia ela era arrastada até cair, mãos cravejadas na areia, a ser puxada e engolida no turbilhão doido. (...)


O mar é como tu, mãe. Sem remorsos.» (p. 136)





7 comentários:


  1. O MAR, um tema tão nosso!
    Eu também o temo, o respeito... e me encanto por ele.

    Beijinhos na ondulação calma
    (^^)

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  2. O mar da nossa paixão. Que nos desperta amor e temor, alegria e dor.
    Um abraço

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  3. Eu respeito muito o mar.
    Sempre respeitei.
    Beijinhos

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  4. Também respeito e muito embora adore mergulhar nele ... sem grandes ondulações!!!
    Bj e bela a sua partilha

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  5. «Mar sonoro, mar sem fundo, mar sem fim.
    A tua beleza aumenta quando estamos sós
    E tão fundo intimamente a tua voz
    Segue o mais secreto bailar do meu sonho.
    Que momentos há em que eu suponho
    Seres um milagre criado só para mim.»

    Sophia de Mello Breyner Andresen

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