Dou-me conta, não sem alguma ironia, dos acepipes que hoje em dia estão em
alta nos restaurantes “de elite” em Lisboa e por esse país fora.
A moda agora virou-se para os peixinhos da horta tal como há anos, poucos,
se virara para as pataniscas, para os “jaquinzinhos”, para as petinguinhas
enroladas em polme.
Agora tudo o que se diz ser “gente fina” morre por umas pataniscas de
bacalhau ou, mais atualmente, por uns peixinhos da horta…
A minha ironia vem exatamente do facto de, na minha meninice, eu ter de “gramar”
esses acepipes ao almoço, ao jantar.
Os anos 50 do século no nosso país não foram de todo os mais fáceis de
viver em termos sociais (e não só). Passei-os em casa da minha avó espanhola,
em Algés, onde não havia falta de boa comida, mas onde o dinheiro não abundava.
Todos os dias acompanhava a minha avó à praça para comprarmos os alimentos para
o dia-a-dia, já que não tínhamos frigorífico – apenas no Verão se compravam na
carvoaria da esquina umas enormes barras de gelo que se guardavam na despensa
junto de algum peixe, carne, leite.
Da praça trazíamos mais peixe do que carne porque era bem mais barato, ameijoas
e berbigão apanhados ali no Tejo e vendidos à pá, verduras e alguma fruta.
Porém, imaginar e confecionar almoço e jantar diariamente para uma casa de
família – os meus avós, a minha mãe e o meu tio, que iam lá almoçar, eu e
alguns hóspedes que alugavam os quartos vagos da casa – e com pouco dinheiro era
uma quebra-cabeças para a minha avó. Por isso, muitas vezes, ela lançava mão
dos restinhos de bacalhau para fazer as ditas pataniscas ou um arroz de
bacalhau, ou ainda um pisto – lembrar que ela era espanhola – que eu
simplesmente abominava...
Outras vezes, metia no polme de farinha umas
petinguinhas e lá vinham os “abençoados” peixinhos da horta feitos com feijão-verde
e uns ovos da vizinha da cave que tinha um grande quintal.
Tudo isto acompanhado do inefável arroz de tomate ou de espigos de couve… O
que eu detestava estas comidinhas!
E saber que agora estão no pico da moda dá-me cá uma volta ao miolo! Ai as
modas, as modas!
E – tal como as calças rotas nos joelhos que são vendidas a preços indecentes
pelas casas de marca – essas "comidinhas de pobre" dos tristes idos de 50 são
agora vendidas nos restaurantes “finos” a preços de igual forma imódicos.
Pois eu gosto muito e faço imensas vezes peixinhos da horta, Graça!
ResponderEliminarVagens ou feijão verde, consoante as regiões, bem tenras e verdinhas, cozidas, um bom polme ao qual adiciono um pouco de cerveja ou vinho branco, fritas às colheradas e são um belo petisco com ou sem lascas de bacalhau. Um arrozinho de tomate malandro e é de comer e chorar por mais.
Se os restaurantes chiques só agora descobriram estes pitéus, azar o deles. Desde miúda que como disto e nunca enjoei! :))
Beijinhos a fugir para a horta!
Fazes? Muito bem!! Eu não, apesar de já gostar de os comer. Dão muito trabalho...
EliminarBeijinhos hortícolas...
Eu gosto muito mas só os como fora de casa e muito raramente (porque evito fritos) e se forem acompanhados por arroz malandro isso é que é um grande petisco!!!
ResponderEliminarbjs
:))
EliminarInteressante mesmo o ciclo dos modismos... Alguns deixaram saudades, mas outros... bom que se foram mesmo!!
ResponderEliminarAbraço.
É isso, Célia. Mas, pelo menos por cá, agora tudo é moda o que antigamente era considerada comida "de pobre"...
EliminarGente fina, diz a Graça Sampaio. Não sei se será. Tem poder de compra e paga balúrdios sem pestanejar, isso sim, que reclamar é coisa de pelintra ou pobre. Estamos nos tempos do gourmet e low cost. Ondas!
ResponderEliminarOs peixinhos da horta comi duas ou três vezes na minha vida, não fazia parte do cardápio lá de casa. Ainda me recordo da paparoca que a minha mãe punha na mesa. Os pratos eram consoante o dia da semana, poucas alterações havia a quebrar a regra. Um dia de que gostava muito, na adolescência, era a quinta-feira. Chegava do liceu e tinha bife, ovo e batata frita. Não havia melhor.
Jaquinzinhos e arroz malandro sempre comi,bué de vezes. Pode vir para o almoço que marcha.
Bj.
Bifinho com batatas fritas e ovo a cavalo, hein? Ai as mães fazem de tudo para ver os meninos felizes...
EliminarBeijinho.
E são bem boas essas comidinhas de pobre! Cá no Algarve, por exemplo, são as papas de milho... o xerém, que era o "pão nosso de cada dia" na mesa dos meus pais e avós. :)
ResponderEliminarUi, papas de milho! Nem me fale nisso! Era muito usual nos anos 50 na pobríssima vila piscatória de Vieira de Leiria onde vivi ao 7/8 anos... Nunca gostei.
EliminarPeixinhos da horta e pataniscas era com a minha mãe. Eu nunca os fiz. Há muito tempo que não como esse petisco, mas lembro-me perfeitamente que gostava imenso. Era um refeição muito popular na altura em todas as casas portuguesas.
ResponderEliminarQualquer dia vou experimentar embora não faça fritos com frequência. Se tivesse um prato de peixinhos da horta ou de pataniscas neste momento, seria o meu almoço mesmo sem o tal arroz malandro que muitos mencionam.
Dão cá um trabalhão a confecionar!... Fiz muito poucas vezes, embora agora goste bastante...
EliminarAs afinidades sucedem-se, também nunca gostei de pataniscas...
ResponderEliminarOs peixinhos da horta provei-os como convidada de um almoço e detestei-os... o período do pós-guerra foram tempos realmente difíceis...
Porém, lembro-me que há umas décadas, Mário Soares, oferecendo um almoço de estado no Brasil, colocou na ementa, pataniscas de bacalhau como entrada. Como foi satirizado pelos brasileiros! E muito bem.
Dispenso completamente a renovada moda...
~~~ Beijinhos seletos ~~~
Mas estão na moda, Majo! Ai, ai... estamos mesmo fora de moda... eh eh eh eh...
EliminarBeijinhos fora-de-moda...
O meu pai (padrasto) adorava os peixinhos da horta como entrada, seguindo sempre um bife mal passado. Eu só gostava dos peixinhos da horta, porque nunca gostei de carne. Um dia destes, vou tentar fazer os saborosos peixinhos da horta.
ResponderEliminar