Não é a primeira vez que me socorro do meu querido Álvaro de
Campos para dizer que estou com uma enorme constipação… É que não há outro
poema que a defina tão bem e seu estou farta de espirrar e de tossir «até à
metafísica»…
Há três dias e não
vai lá nem com «verdade» nem com «aspirina»…
«Tenho uma grande constipação,
E toda a gente sabe como as grandes constipações
Alteram todo o sistema do universo,
Zangam-nos contra a vida,
E fazem espirrar até à metafísica.
Tenho o dia perdido cheio de me assoar.
Dói-me a cabeça indistintamente.
Triste condição para um poeta menor!
Hoje sou verdadeiramente um poeta menor.
O que fui outrora foi um desejo; partiu-se.
Adeus para sempre, rainha das fadas!
As tuas asas eram de sol, e eu cá vou andando.
Não estarei bem se não me deitar na cama.
Nunca estive bem senão deitando-me no universo.
Excusez un peu...
Que grande constipação física!
Preciso de verdade e da aspirina.»
14-3-1931, Álvaro de
Campos
Hoje foi o meu marido que ficou de igual modo com uma grande
constipação, mas o poema para a sua constipação é mais este…
"Pachos na testa, terço na mão
Uma botija, chá de limão
Zaragatoas, vinho com mel
Três aspirinas, creme na pele
Grito de medo, chamo a mulher
Ai Lurdes, Lurdes, que vou morrer
Mede-me a febre, olha-me a goela
Cala os miúdos, fecha a janela
Não quero canja, nem a salada
Ai Lurdes, Lurdes, não vales nada
Se tu sonhasses, como me sinto
Já vejo a morte, nunca te minto
Já vejo o inferno, chamas diabos
Anjos estranhos, cornos e rabos
Vejo os demónios, nas suas danças
Tigres sem listras, bodes de tranças
Choros de coruja, risos de grilo
Ai Lurdes, Lurdes, que foi aquilo!
Não é a chuva, no meu postigo
Ai Lurdes, Lurdes, fica comigo
Não é o vento, a cirandar
Nem são as vozes, que vêm do mar
Não é o pingo de uma torneira
Põe-me a santinha, à cabeceira
Compõe-me a colcha, fala ao prior
Pousa o Jesus, no cobertor
Chama o doutor, passa a chamada
Ai Lurdes, Lurdes, nem dás por nada
Faz-me tisanas, e pão-de-ló
Não te levantes, que fico só
Aqui sozinho a apodrecer
Ai Lurdes, Lurdes que vou morrer."
António Lobo Antunes
in Letrinhas de
Cantigas (canções) 2002
ADORO os poemas, mas o do António Lobo Antunes é o mais divertido.
ResponderEliminarO meu marido nunca foi de queixumes. Eu já sou mais.
Melhoras rápidas são os meus festejos.
As melhoras aos dois! E quem trata de quem?
ResponderEliminar: )
O poema do ALA sobre as pieguices dos homens constipados já a conheço há imenso tempo, mas sempre me divirto ao ler.Ainda por cima: "Ai Lurdes, Lurdes, não vales nada". eheheh
ResponderEliminarEstá formidável.:))
Então, como é vos deixais constipar logo os dois?
Chá de limão e mel é a solução.
As melhoras e uma beijoca. :)
Graça
ResponderEliminarcom um grogue
isso passa
Excelente! :)
ResponderEliminarRápidas melhoras, Graça!
Beijos
Andei assim duas semanas.
ResponderEliminarNão vou mentir, foi uma seca!
Beijinhos, rápidas melhoras, boa semana
As melhoras para os dois. E muita paciência para a Graça, que homem doente é fogo.
ResponderEliminarBebam chá de gengibre bem quente à noite.
Um abraço
E eu idem. Apanhei-a com a Minorca e vou na 2° semana. Para azar da minha carpintaria, que ainda não está consolidada; com espirros e tosse a casa abana.
ResponderEliminarOs poemas já conhecia mas vieram mesmo a propósito. O que parece a primeira vez são as dores de garganta e o nariz entupido. Esperemos que não seja a última.
As melhoras desse lado. Vêm aí as Festas! Assim, o perú fica em águas de bacalhau?...
Boa semana.
Constipação. Terrível!!! As melhoras dos dois.
ResponderEliminarGostei do Álvaro de campos e adorei o Lobo Antunes.
Uma boa semana.
Beijos.
Mesmo gripada, a Graça tem um sentido de humor fantástico!
ResponderEliminarOs poemas, perfeitos, para ilustrar uma velha realidade.
Melhoras
Lídia
Graça, Vendo o lado menos negativo da coisa estando os dois adoentados ficam já despachados e melhorarão ao mesmo tempo!
ResponderEliminarAmbos os poemas são fantásticos.
Bjs e melhoras rápidas.
Obrigada a todos pelas vossas palavras tão queridas!!
ResponderEliminarAinda bem que gostaram de (re)ler os poemas da minha escolha...
Beijinhos asséticos ...