quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

Dia da Mãe

Naqueles tristes e pobres tempos de 50/60, praticamente não havia «Dias de». O Dia do Pai era apenas uma pálida referência; o Dia da Árvore passou a existir muito depois da nossa abertura ao mundo em 74; havia o Dia da Restauração eivado de um nacionalismo que nos era inculcado pela Mocidade Portuguesa e pouco mais.

 O Dia da Mãe era o mais importante de todos e era celebrado a 8 de Dezembro (com maiúscula apesar de nada ter a opor ao Novo Acordo Ortográfico…) porque era o dia de Nossa Senhora da Conceição, padroeira de Portugal. Nesse tempo nada do que pudesse servir para submeter o povo à Igreja era deixado ao acaso. Por isso 8 de Dezembro, data de grande significado para a Igreja porque se celebra «a vida e a virtude de Virgem Maria, mãe de Jesus, concebida sem marca do pecado original», correspondia ao Dia da Mãe já que as mães deviam ser “castas e virtuosas” (e servis…) 




Fosse como fosse, e apesar da nossa fraca ligação às coisas da Igreja lá em casa, eu prezava esse Dia da Mãe e, até ao fim da curta vida de minha mãe, celebrei-o nela e com ela. Mesmo depois de a dita Igreja mudar a data para inícios de Maio não sei bem por que razão,

Hoje, lembrei-me de tudo isso e, naturalmente lembrei-me de minha mãe (como todos os dias acontece, claro!) Num agitado sentimento de “clausura” que tanto me assalta e tantos conflitos causa dentro da minha pobre mente, veio-me uma imagem longínqua do início da minha infância.

Todas as mães fazem tudo pelos filhos e minha mãe nisso não foi em nada exceção. Tendo eu vingado após alguns dolorosos abortos espontâneos e no final de um parto em que meu pai foi posto perante a possibilidade de ter de escolher entre mim e ela (naturalmente que ele decidiria por ela!) fui criada com todos os cuidados que estavam ao alcance de uma família média (?) média-baixa dos finais de 40. E foi assim que, teria eu os meus três anos talvez, e metendo-se na cabeça de minha mãe que “a menina” precisava de tomar ares do campo, transportou-nos para passarmos uma temporada numa casa que alugou em Santa Iria da Azoia. Só que a temporada cedo terminou porque aqui a menina andava muito bem enquanto a passeavam pelos campos e pelo meio dos moinhos de vento, mas assim que se via fechada em casa, berrava que nem uma desesperada e logo, logo tiveram de me trazer de regresso a Algés… 

Outros episódios de «clausura» aconteceram – e vão acontecendo – comigo ao longo dos tempos e, tenho para mim, que nada tem a ver com o facto de sair ou não sair de casa. Trata-se de um «pânico» de me sentir longe das minhas companhias mais próximas, sozinha comigo própria, numa «clausura» dentro de mim própria difícil de explicar e de resolver.

14 comentários:

  1. A Graça vem trazer-nos tempos que já tinha esquecido. Que seca era aquela história da "bufa" no 1° de dezembro, 10 de junho e 8 de dezembro (deste já me tinha esquecido). Recordo agora que íamos todos à missinha armados de fivela em S.
    A mudança da celebração do dia da mãe em Maio também não percebi a razão. Será que quiseram distinguir as mães que não são virgens com um dia específico?
    Amanhã é Sexta e depois sábado, dias comuns que não deixam de ser bons.
    Bj.

    ResponderEliminar
  2. Segundo a história, o dia da mãe foi instituído a primeira vez na América a 8 de Maio em 1914. É comemorado em Maio em praticamente todo o mundo, penso que há apena dois ou três países, que não é em Maio.
    Consta no entanto que na Grécia antiga se comemorava o dia da mãe, na primavera, nas festas à Deusa Rhea, a mãe dos Deuses.
    Também na Roma antiga se festejava o dia das mães, na festa a Cybele a mãe dos Deus.
    Consta que na Inglaterra já se festejava o dia, no quarto domingo da quaresma.
    O dia da mãe nunca foi festejado a 8 de Dezembro em mais país nenhum a não ser em Portugal, porque o Salazar entendeu que sendo a Imaculada Conceição a Padroeira de Portugal, era lógico, homenagear as mães, nesse dia.
    Quando Portugal deixou de ser um país católico, e passou a ser laico, o dia foi alterado. Para acompanhar o resto do mundo.
    Um abraço

    ResponderEliminar
  3. Cybele a mãe dos deuses e não a mãe de Deus.

    ResponderEliminar
  4. A minha Mãe também nunca aceitou a mudança de data por motivos comerciais, por isso, foi sempre a 8 de Dezembro que comemorei com ela o Dia da Mãe.

    ResponderEliminar
  5. Começando pelo princípio, que é por onde se deve começar, também me custou muito aceitar essa alteração do Dia da Mãe.
    08 de Dezembro, foi sempre o dia em que se homenageavam as Mães. Com as voltas e reviravoltas provocadas pelas profundas alterações pós 25 de Abril, passou para o 1º Domingo do mês de Maio.
    Tudo virou uma forma de comercializar os Dias de...e o da Mãe, não ficou de fora.

    Quanto a essa sensação de clausura que falas, será um tipo de solidão interior? Logo tu, uma pessoa tão bem resolvida, sente pânico por estar sozinha consigo própria?
    Ai, Graça, eu acho que te mimaram demais em criança...:)

    Beijinhos, bom FDS.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Mimaram-me um bom pedaço em criança, enquanto vivi com a minha avó materna. Depois, com a mudança para Sintra e para o secundário, as coisas mudaram de figura. Nem queiras saber...

      Eliminar
  6. Padroeira de Portugal e dos países de língua portuguesa, incluindo a Região Administrativa Especial de Macau (ontem também foi feriado aqui).
    Beijinhos, bfds

    ResponderEliminar
  7. Uma data que muito simboliza... É crença. É fé. É a força que nos protege em nossa vida! Creio.
    Abraço.

    ResponderEliminar
  8. Absolutamente incompreensível essa mudança de dia da Mãe, de 8 de Dezembro, (o Dia da Mãe, mais lógico e natural para a Igreja), para qualquer outro lá para Maio !... Não fez qualquer sentido ! :((
    Em minha casa ainda fizemos "finca pé" durante muitos anos para o manter nesse dia, ...mas a força dos meios de comunicação e publicitários venceu-nos ! :(( ... mas foi pena !

    Abraço, Graça !

    ResponderEliminar
  9. Nunca me agradou esta mudança, hoje que já não tenho a minha, já não me importo tanto.
    Noutros tempos, íamos à missa e a mãe era muito mimada por nós todos.

    Beijinhos Graça

    ResponderEliminar
  10. a minha mãe sempre me disse que este era O dia.

    ResponderEliminar
  11. Para a minha mãe continua a ser o tal dia, o dia 8 de Dezembro, embora eu já não seja do tempo do da celebração nessa data.

    ResponderEliminar
  12. Afinal parece que estamos todos de acordo... Parece que a tradução que tanto gostamos de evocar, aqui não funcionou...

    ResponderEliminar