«Quanto à
Armada, fechou-se completamente em copas até ao último momento. Pelo menos no
que a mim próprio diz respeito, pois nem sequer no posto de comando, em pleno
desenrolar da acção, Vítor Crespo acedeu a responder-me à pergunta que lhe fiz
nesse sentido. E a minha surpresa (e satisfação) seria grande ao ver, na noite
de 25 de Abril, no quartel da Pontinha, um capitão-de-mar-e-guerra de aspecto
façanhudo e resoluto e um sorridente e calvo capitão-de-fragata prepararem-se
para a assumpção das pesadas responsabilidades que a Junta de Salvação Nacional
lhes ia carregar em cima dos ombros. Ao menos, a Armada, sabidona, não se tinha
deixado enlear na habitual conversa mole da preservação da hierarquia apesar de
tudo, jogando forte na personalidade dos seus dois representantes! (…)
Perante a
recusa do comodoro [Ferraz de Carvalho a pretexto da idade e do cansaço] e
mantendo o nome de Pinheiro de Azevedo, só a caminho do posto de comando, onde
se me foi juntar pelas dez horas e trinta da noite do dia 24, é que Vítor
Crespo, com base no consenso anterior, se decide a passar por casa do Rosa
Coutinho. Este, de nada sabe. Crespo passa-lhe para as mãos os três documentos
que leva na pasta – a proclamação do MFA, o protocolo secreto entre o MFA e a
Junta e o programa político – que o comandante lê atentamente. Quando termina,
sacode os papéis e diz a Vítor Crespo:
- Com isto, ponho o meu navio à vossa
disposição!
- Muito obrigado, senhor comandante, mas isso
não é preciso porque já está – desconcerta-o Vítor Crespo. – O que eu lhe venho
propor é que faça parte da Junta.
Rosa Coutinho
abre a boca de espanto. Estava-se a uma hora apenas do primeiro sinal rádio
através dos Emissores Associados! Vítor Crespo põe-no ao corrente. O comandante
aceita o cargo a que o destinam.»
In memoriam do Almirante Vítor Crespo que faleceu ontem, aos 82
anos de idade.
"É com profundo pesar que vos comunico o falecimento do militar de
Abril, ocorrido hoje, almirante Vítor Manuel Trigueiros Crespo. Nascido em
Porto de Mós, em 21 de Março de 1932, Vítor Crespo foi um Militar de Abril de
todas as horas, um dos principais dirigentes da Marinha no Movimento das Forças
Armadas, integrando a equipa do Posto de Comando da Pontinha, nas operações
militares do 25 de Abril", pode ler-se no comunicado da Associação 25 de
Abril, da qual o Almirante era sócio fundador nº 2.
O texto que acima transcrevi foi
retirado do extraordinariamente empolgante livro «Alvorada em Abril» (pp 367-8) da autoria de Otelo Saraiva de Carvalho
que, em cerca de 600 páginas, faz, em 1ª pessoa, o relato pormenorizado das
causas e de toda a preparação do 25 de Abril, começando pelo início da Guerra
Colonial até à noite do dia 25 de Abril de 1974.
Um livro extraordinário, de
leitura obrigatória para quem reverencia o 25 de Abril. Comprei a edição
limitada a 1974 exemplares que saiu em Abril deste ano e li-o quase de rajada
depois de ter terminado os Memoráveis de Lídia Jorge.
Homens assim são eternos e nunca morrem...
ResponderEliminarFicam na História pelos melhores motivos, Til!
EliminarLembro dele não só pelo que foi, mas também porque anos atrás meu marido era fisicamente muito parecido com ele. Tão parecido que no quartel, os colegas por brincadeira, lhe chamavam o Vitor Crespo 2.
ResponderEliminarUm abraço e boas festas.
Que giro! Há pessoas muito parecidas...
ResponderEliminarBoas Festas!
E assim vão desaparecendo os que fizeram Abril
ResponderEliminarE o pior é vermos desaparecer Abril! :(
ResponderEliminarAbraço
Há que lutar contra isso! Há que lutar enquanto pudermos.
EliminarOuvi a notícia ontem logo pela manhã :(
ResponderEliminarVotos de um Santo Natal para si e família
Beijinhos
~ ~ Partem um a um... Descontentes... Dececionados... Portugal em ruínas...
ResponderEliminar~
Em ruínas e sem perspetiva de melhoras rápidas, Majo! Uma tristeza!
EliminarTenho pena de ver partir gente decente a quem de uma maneira generosa muito devemos .Tenho a CERTEZA que este nada teve com o caso " submarinos"..
ResponderEliminarPelo contrário , era olhado como um velho inútil , que toda a vida viveu acima das suas posses , que descontou para ter reforma , mas não aquela reforma e que ajudou a pagar a crise com uma CES...que diferença.
M.A.A.
Como nós, M.A.A.! Olhadas como a dita "peste grisalha" - nojentos!
EliminarUma homenagem edificante por uma pessoa exemplar! Principalmente em tempos de tanta corrupção...
ResponderEliminarParabéns, Graça.
Abraços natalinos,
Célia.
É bem verdade, Célia! São tempos conturbados os nossos pela pouca dignidade de grande parte dos "governantes".
EliminarBeijinhos natalícios
Os homens vão perecendo,
ResponderEliminaré a lei da vida
Mas não é lei, nem sina
Que a Abril se vá perdendo
Toda a razão, Rogerito! Subscrevo!
EliminarExcelente homenagem que fizeste minha amiga a um grande Homem de Abril.
ResponderEliminarFica na história, não morre !
beijinho e bom fim de semana
Fê
Obrigada, Fê!
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