Faria hoje 90 anos se a morte o não tivesse ceifado aos 62 anos.
Tinha uma imaginação fora de série!
A sua poesia inscreve-se no surrealismo e a surreal PIDE - do tempo em que se prendiam as pessoas por motivos políticos (que agora já assim não é...) - encarcerou-o bastas vezes, vá-se lá saber porquê...
Em jeito de homenagem aqui fica parte do seu (bem atual) poema «Portugal».
Ó Portugal, se fosses só três sílabas,
linda vista para o mar,
Minho verde, Algarve de cal,
jerico rapando o espinhaço da terra,
surdo e miudinho,
moinho a braços com um vento
testarudo, mas embolado e, afinal, amigo,
se fosses só o sal, o sol, o sul,
o ladino pardal,
o manso boi coloquial,
a rechinante sardinha,
a desancada varina,
o plumitivo ladrilhado de lindos adjectivos,
a muda queixa amendoada
duns olhos pestanítidos,
se fosses só a cegarrega do estio, dos estilos,
o ferrugento cão asmático das praias,
o grilo engaiolado, a grila no lábio,
o calendário na parede, o emblema na lapela,
ó Portugal, se fosses só três sílabas
de plástico, que era mais barato!
(...)
Portugal: questão que eu tenho comigo mesmo,
golpe até ao osso, fome sem entretém,
perdigueiro marrado e sem narizes, sem perdizes,
rocim engraxado,
feira cabisbaixa,
meu remorso,
meu remorso de todos nós…
(Alexandre O’Neill, 1965)
~ Houve um tempo auspicioso, de eufórica e prometedora confiança.
ResponderEliminar~ Ao tempo!
~ Um tempo Inesquecível!
~ Pensámos que a luta pelo verbo, dos nossos intelectuais e a coragem dos
nossos militares tinham livrado, para sempre, o nosso país do opróbrio...
~ Por que andamos tão divididos?!
~ ""Meu remorso de todos nós.""
~
É verdade, Majo! Andamos desavindos com a esperança
EliminarUm grande, grande poeta!
ResponderEliminarE eu aceito de boa vontade, Graça!
ResponderEliminarAlexandre O'Neill é um dos meus Poetas preferidos, tenho publicado vários poemas de sua autoria.
Faria hoje, 90 anos? Quem diria!
Merecida e justa homenagem!
Beijinhos e bom fim de semana.
haha as tuas sombras sao bem vindas
ResponderEliminaradoro alexander oneal
Obrigada, Paula! Boas Festas ... sem sombras...
EliminarNo início dos anos 70, quando as fotografias eram feitas por entrega do rolo-filme na Tabacaria, conheci pessoalmente o Alexandre O'Neill junto à Faculdade de Ciências, então na rua da Escola Politécnica, em Lisboa, quando ele entregava um filme para o efeito. O empregado pediu-lhe o nome para registar no saco das fotos, mas não entendeu o "O'Neill". Num ápice, o Alexandre pegou no seu livro "As Andorinhas Não Tem Restaurante", que estava à venda ali mesmo sobre o balcão e mostrou-o para ele copiar o nome...Tudo isto com um sorriso que lhe era peculiar.
ResponderEliminarTambém gostava de ter tido essa sorte - de o conhecer.
EliminarExcelente e merecida homenagem! Gosto muito de Alexandre O'Neill.
ResponderEliminarBeijinho Graça e bom fim de semana
Li este e fiquei com vontade de mais. Agarrei-me por isso a uma antologia que aqui tenho, fiquei uns minutos mais com outros poemas e já me esquecia da caixa de comentários em aberto... :)
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