«Fica a sete léguas de Lisboa e
tem cêrca de 700 fogos.
Se exceptuarmos Olhão, no
Algarve, é esta a terra mais asseada de Portugal.
As ruas estão escrupulosamente
varridas como as de um jardim. As mais pequenas casas têm as vidraças
nìtidamente lavadas e as paredes exteriores caiadas de branco.
Quási ao meio da vila,
sobranceira ao mar, fica num alto a capela de Santo António, circundada de
bancos, ponto de reünião dos banhistas à hora do pôr do sol e à do despontar da
lua.
(Capela de Santo António) |
Para o norte da capela há uma
praia de banho, para o sul há outra. A cada uma destas praias corresponde um
bairro. a praia do sul, perfeitamente abrigada por uma cortina de rocha que a
rodeia como um biombo, é a mais agradável, e o seu respectivo bairro o mais
importante. Para o lado do norte ficam as pequenas casas quási todas de um só
pavimento, abarracadas.
A vida é extremamente cómoda na
Ericeira. As casas alugam-se com mobília, e pode-se ter igualmente de aluguer a
louça e a roupa das camas. Uma família de quatro pessoas aloja-se còmodamente
por seis libras por mês. O preço do hotel é de 800 réis por pessoa com cozinha
sofrível e serviço regular. Há um clube e um pequeno teatro. (…)
O aspecto só deferia do que é em
Agosto ou em Setembro pelo número de pessoas. De resto, o mesmo asseio, as
mesmas lojas abertas; ao fim da tarde algumas famílias passeavam na praça do
Jôgo da Bola. À noite acenderam-se luzes em quási tôdas as casas. Nos
pavimentos do rés-do-chão via-se, através dos vidros, os cortinados das
janelas, a gaiola envernizada ao centro das duas cortinas; um candeeiro de
sala, de globo fôsco ou de abat-jour,
sôbre a mesa do centro confortàvelmente
coberta com um tapête; o cabide, o espelho, o vaso com flores, todos os
pequenos característicos da vida serena, bem administrada, com orçamento
regular, com hábitos adquiridos, com costumes de família. Devemos especificar
que em duas casas chegámos a avistar alguns livros: caso extraordinário e
raríssimo em Portugal, onde nas pequenas casas de província o livro é um
objecto de luxo que ninguém se permite (…)»
(in “As Praias de Portugal: Guia
do Banhista e do Viajante” de Ramalho Ortigão, Livraria Clássica Editora,
Lisboa, 1943 (1ª edição: 1876)
Foi quase neste ambiente que,
noventa anos depois de esta descrição ter sido tão formosamente feita, cheguei com
os meus pais, o meu primo-irmão e uma jovem amiguinha para passarmos as nossas
férias de Verão a banhos. Tinha acabado de saber que tinha passado no Exame de
Aptidão à Faculdade de Letras tendo sido aceite para cursar Germânicas (o que
não era fácil à época) e ia feliz e resplandecente no meu fato de banho branco,
arrendado à frente, a roçar o estilo bikini que, como já aqui disse, o meu pai
não me deixava usar…
Ainda fomos ao areal ao fim da
tarde e aí mudou para sempre a minha vida: estava lá um tímido belo Apolo que
me arrebatou.
Faz hoje 48 anos.
Gosto imenso da Ericeira, embora não seja a minha praia de eleição.
ResponderEliminarÉ uma terra muito bonita e bem asseada como dizes.
Muitos parabéns!
ResponderEliminarComo já escrevi aqui, a Ericeira é um local de visita obrigatória,uma vez por mês. Também tenho algumas boas recordações de tempos lá passados, mas foram amores que as ondas levaram...
ResponderEliminarParabéns...que venham muitos mais!
Só fui a Ericeira duas vezes com o meu "folha seca".
Beijinho e uma flor
Ericeira
ResponderEliminarSó nevoeiro e tremideira
a manhã inteira
Um abraço ao seu Apolo
a si, um beijo
que lhe deixo
Parabéns ao dois, pois!
Estive lá muito recentemente!
ResponderEliminarLinda!
Abraço
Boa prosa, boas imagens e belas recordações.
ResponderEliminarParabéns aos namorados.
~
ResponderEliminar~ ~ Que sítio interessante para encontrar um Apolo!
~ ~ Para sempre inesquecível!
~ ~ Parabéns pela efeméride.
~ ~ Continuação de muitas felicidades.
~ ~ ~ ~ Abraço muito amigo. ~ ~ ~ ~
Que venham outros 48.
ResponderEliminarPelo menos.
Beijinhos
Há tanta praia por aí
ResponderEliminarEsta é para o seu Apolo e para si.
:)
Parabéns!
https://www.youtube.com/watch?v=HYiNOaEs330
Parabéns a ambos.
ResponderEliminarBonito texto de Ramalho Ortigão, só comparável a outro de Raul Proença.
ResponderEliminarQuanto aquelas férias de Verão de 1966, que maravilha:
Saber que tinha tido sucesso no Exame de Aptidão; usar o célebre fato-banho branco; ter presente o belo Apolo, é a cereja no topo do bolo. Que mais poderia desejar? Isto é a felicidade, com o cenário idílico que é a praia da Ericeira!
Cumprimentos.
Também adoro a Ericeira.
ResponderEliminarÉ como diz.
Para si passou a ser uma terra
mágica, não é?
Há acontecimentos que nos ligam
aos sítios.
Bj.
Irene Alves
os "encantos" da Ericeira...
ResponderEliminartambém eu já fui ali muito feliz... rs
beijo
Curiosa a referência ao asseio de Olhão.
ResponderEliminarGostei das memórias, sobretudo da parte mais romântica.:)
Uma curiosa descrição e a celebração de uma linda data!
ResponderEliminarSeja feliz! (Com o tal Apolo)
bjs